BRASÍLIA - Toda derrota, ensinam os manuais de auto-ajuda, tem seu lado bom. No caso do governo Lula, o fracasso na votação da CPMF pode ser bom não só para o presidente como para o país.
Explico: Lula estava se inclinando perigosamente para o lado dos desenvolvimentistas, sinalizando um afastamento de uma receita que garantiu o sucesso de seu governo até aqui: a da responsabilidade fiscal e monetária.
Veio a derrota no Senado, misturada com recorrentes conselhos de gente como Delfim Netto, Antonio Palocci e Henrique Meirelles de que o vento pode virar no mercado internacional, e Lula deu uma corrigida no rumo.
Resultado: o presidente encerra o ano recomendando à sua equipe precaução, com especial cuidado para a área fiscal. Guido Mantega, fiel escudeiro, vai cumprir a contragosto as ordens do chefe.
O fato é que Lula tem repetido com certa insistência estar preocupado com a crise no mercado imobiliário americano. Não acredita que ela provoque um desarranjo por aqui, mas pode desacelerar o país. Tudo que ele não deseja.
De seus conselheiros, o presidente Lula tem ouvido que uma desaceleração na economia norte-americana pode até ter um efeito saudável para o país. Qual seja: com a indústria brasileira a todo vapor, uma queda no ritmo da economia dos Estados Unidos pode afetar as exportações brasileiras para lá, mas por outro lado libera a produção nacional para atender o nosso mercado interno em expansão, evitando pressões inflacionárias.
Ainda esbanjando otimismo, Lula sabe que não pode repetir erros cometidos por gestões anteriores. Cair na farra em 2008 e ser obrigado a patinar nos dois últimos anos de governo, encerrando seu segundo mandato com o pé no freio. Colocaria em risco seu projeto de fazer seu sucessor.
Esse é o Lula conservador. Amigos dizem que ele sempre prevalece no final. A conferir.
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