Folha de S. Paulo
4/7/2006
Na Copa do Mundo, a poderosa e bilionária Fifa -com sede na Suíça-
faz campanha politicamente correta contra o racismo, mas... os
meninos que têm entrado em campo de mãos dadas com as seleções são em
sua ampla maioria brancos, louros, de bochechas rosadas. Colocaram
até um gordinho para escoltar Ronaldo.
Em compensação, a rica França faz sua parte -pena que apenas no
futebol, não nos subúrbios de Paris. Nossos tradicionais algozes
gostam de encher os Champs- Elysées para celebrar as façanhas de um
time em que bem mais da metade é composta por negros.
De quebra, a lenda que nos mostrou em duas copas que o verdadeiro
futebol brasileiro se escreve com Z -de Zidane- é filho de argelinos,
ou seja, de africanos.
Mas ainda assim é curioso constatar que, na Copa contra o racismo, os
finalistas sejam todos europeus. Quatro dos mercados mais ricos do
futebol, que importam a peso do euro jogadores de todo o planeta para
satisfazer o apetite de seu principal público, o consumidor europeu.
Nestas finais, na bola ou no apito, não terão mais lugar latino-
americanos, africanos e asiáticos, fornecedores de boa parte da mão-
de-obra para o show sem fim das ligas poderosas nas TVs do mundo afora.
Na Copa contra o racismo, quem levantará a taça no fim não será o
mulato Cafu (que a ergueu em campos asiáticos), mas um europeu. Ainda
que caiba ao "argelino" Zidane, será a imagem de um capitão em seu
próprio campo, o do valorizado euro, como normalmente acontece de
oito em oito anos.
Alemães, franceses, italianos e os penetras portugueses reafirmarão,
domingo que vem, quem é o dono do mundo da bola e dos negócios ao
redor dela. Nossa chance -latinos, mulatos, negros, amarelos- será na
África do Sul, em 2010, na fase de expansão do mercado.