Jornal O Globo
Estes são realmente tempos de incerteza na economia mundial. Mas,
para o Banco Dresdner, o Brasil é dos países emergentes mais
preparados para enfrentá-los; não só pela melhoria dos seus
fundamentos e pelas reservas que juntou, mas porque, diferentemente
da maioria dos outros países, que estão começando um processo de
aperto monetário, o Brasil continuará sua trajetória de queda.
É bem verdade que continuaremos com juros muito altos, dos maiores,
mas daqui a algum tempo, poderemos estar com taxas mais baixas que
Rússia e Turquia.
Olhar as previsões para o Brasil na comparação com outros países do
grupo (econômico, não de futebol!) traz notícias interessantes. Sobre
o crescimento, por exemplo, sempre se diz que a conta dos emergentes
está “inflacionada” pelo supercrescimento da Chiníndia (novo apelido
do mercado para os gigantes asiáticos China e Índia). Pelos números
do banco, no ano passado e neste, seremos os com menor aumento do
PIB. Para 2007, a estimativa é de que o Brasil ainda seja o terceiro
pior. Vendo caso a caso a previsão de 2006 para os países do Leste da
Europa, eles têm um crescimento superior ao dos latino-americanos. O
que acontece é que aqui a Argentina continua crescendo muito (a
previsão é de 7,2% para eles, contra 3,7% do Brasil) e a Venezuela,
com suas enormes reservas de petróleo, 9,7%. Junto a nós, apenas o
México.
— Mas acho que o Brasil está muito melhor hoje; crescendo de maneira
um pouco mais sustentável. Enquanto o mundo inteiro sobe os juros,
como o Chile, a Colômbia, a Turquia, o Banco Central brasileiro está
cortando — diz Nuno Câmara, do Dresdner.
Para ele, o Brasil e alguns outros países vêm fazendo o “dever de
casa” desde 2000, depois das crises asiáticas. Deixaram de ter
déficit em conta corrente e melhoraram o perfil de suas dívidas, o
que ajuda na hora de enfrentar um ambiente mundial mais hostil. Hoje
o Brasil não tem um risco tão grande como na crise de 2002, quando os
investidores internacionais começaram a ir embora, aumentando a
cotação do dólar e a inflação. Agora o país tem o tal “colchão de
dólares”.
— Antes não se sabia onde uma crise iria parar, hoje o investidor
estrangeiro está se sentindo mais seguro em relação ao Brasil. Tem
entrado muito dólar pela balança comercial e saído pouco para
pagamento de dívidas — comenta Câmara.
Se alguns países da América Latina têm tentado fazer o tal “dever”, o
mesmo não pode se dizer dos do Leste da Europa, como Polônia, Hungria
e República Tcheca, e da Turquia. Os quatro apresentam um déficit em
conta corrente alto — que pode aumentar este ano. Em 2006, a Polônia
deve fechar com 2% do PIB de déficit; Hungria, 8,4% e República
Tcheca, 2,2%. A Turquia pode chegar aos 7,1%. Eles têm déficit fiscal
alto também. Uma das explicações seria o alto endividamento no
esforço para entrar na União Européia ou mesmo sua recente chegada ao
capitalismo (no caso dos comunistas). Mas lá há uma segurança que não
existe na América Latina; a política.
— O próprio incentivo de estar na União Européia põe rédeas nas
incertezas das eleições.
Nuno Câmara acredita que a eleição no Brasil não vai significar
nenhuma alteração forte no quadro porque “está mais fácil de
precificar”. Já no México — cujo mercado vem enfrentando bastante
volatilidade — a situação é mais complicada. Lá eles “têm o elemento
surpresa, ou seja, a indefinição numa eleição, que o Brasil não tem”,
diz.
A boa notícia que o economista manda de Nova York é que os
investidores continuam interessados no Brasil. A má notícia: estão
muito preocupados com a volatilidade internacional.
— Quanto menor a liquidez, menos complacente é o mercado e ele vai
exigir uma economia sólida para manter seus investimentos. O Brasil
tem um problema fiscal estrutural, que vem piorando muito. Já é
esperado que nenhum governo faça reformas num ano eleitoral; é assim
no mundo inteiro, mas depois serão necessárias propostas com novas
reformas fiscais para o país.
Mestre do riso inteligente
Bussunda se vira para o irmão Sérgio Besserman, economista, e pergunta:
— Sabe por que todo economista é careca?
Sérgio pensa na própria calvície e se prepara.
— É de tanto bater na cabeça e dizer: Ih! Errei de novo!
Sérgio era diretor do BNDES, depois de carreira exemplar como
funcionário do banco: sério, dedicado, competente. Aí veio o
escândalo das fitas.
Bussunda e os outros cassetas se divertiam ligando para ele no BNDES
dizendo barbaridades ao telefone para serem gravadas pelos arapongas
do tipo:
— Já depositei o dinheiro, libera o projeto, cara!
Sérgio sempre contou as piadas do irmão com um misto de bom humor e
orgulho da genialidade que ele viu nascer em casa.
Todos os que conviveram com ele sempre contam que Bussunda era
naturalmente assim como o Brasil o conheceu: um senhor do riso e da
alegria, do humor inteligente e da crítica.
Fará uma falta extrema no Brasil, país que tem sido soterrado por
notícias nada engraçadas. São os humoristas que nos ajudam em horas
difíceis. Mas quem nos ajuda quando perdemos um mestre como Bussunda
e que sai de cena assim de forma tão inesperada e tão prematura?