Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 24, 2006

Folha de S.Paulo - Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Golpe de Estado - 24/06/2006

Quincas, o general-de-brigada Joaquim Osório de Lima, herói de
1937, quando conseguiu tomar a cantina da Faculdade Nacional de
Direito -onde dois estudantes, depois de uma passeata de rua, haviam
se escondido-, estava ao telefone e comunicava que a coisa ia para as
cabeceiras. Vestiu a farda e foi para o quartel botar a tropa na rua.
A tropa saiu à rua, houve dúvidas em seu estado-maior se a banda de
música deveria também sair à rua -o jeito foi sair sem banda. Os
soldados deixaram o quartel, deram uma volta pelo Campo de São
Cristóvão, houve um "alto" para o coronel consultar mapas e saber que
direção tomar. Conseguiram chegar ao cruzamento da avenida Presidente
Vargas, onde ficaram sem saber se desciam para a Tijuca ou se subiam
para o centro da cidade.
Estabeleceu seu QG em cima de um posto de gasolina e ordenou que
localizassem o Quincas, mas ninguém sabia onde estava ninguém, até
que o rádio anunciou que a revolução terminara. Comandou seus homens
de volta ao quartel, mas, quando se aproximava de São Cristóvão, viu,
em sentido contrário, um regimento vizinho que marchava também, com
garbo.
E agora? Quem tinha ganho a revolução? Enquanto procurava inspiração
para resolver o problema, seus homens cruzaram com os homens da tropa
vizinha, cada qual olhando para a frente, sem tomar conhecimento da
tropa do lado. Então ele tomou a iniciativa de não fazer nada. Quando
cruzou com o outro comandante -um coronel gordo, que ele sabia apenas
se chamar Aristarco- trocou a continência regulamentar. Teve tempo de
perceber que também o outro não sabia quem tinha ganho de quem.
No dia seguinte, nos jornais, soube que era um herói, arriscara a
vida pela união dos brasileiros e pela integridade do território
nacional.

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