Presidente faz discurso emotivo e exibe usuários de programas sociais
em convenção
Candidato acusa "forças do atraso" de tentar destrui-lo e de não ter
projeto; em São Paulo, Alckmin diz que olhar para trás é um "equívoco"
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 60, lançou ontem oficialmente
sua candidatura à reeleição com um discurso no qual comparou números
de seu governo com a era FHC, atacou a oposição, se apresentou no
figurino de "pai dos pobres" vítima do preconceitos e calúnias e
isentou-se de responsabilidades pelo escândalo do mensalão. Ainda
prometeu colocar a educação como a prioridade zero de um segundo
mandato.
Num discurso de uma hora e meia, na convenção nacional do PT em um
clube de Brasília, Lula disse que seu objetivo nunca foi apenas
"superávit na economia", mas o "superávit social". Prometeu aprovar a
reforma política no primeiro ano de um eventual segundo mandato.
Afirmou que melhorará "a qualidade do gasto público" e sinalizou que
pensa em nova reforma da Previdência.
Cerca de 4.500 pessoas participaram da convenção que oficializou a
dobradinha de Lula com o vice-presidente José Alencar, escolhido
candidato a vice depois de a vaga ter sido oferecida a PMDB e PSB.
Alencar foi chamado de "leal" e "companheiro" por Lula. Disse ainda
que ele e Alencar enfrentariam na campanha "preconceitos, ódios,
invejas" e que irão "demonstrar paz, humildade e muito amor ao povo
brasileiro". Pediu a petistas: "Preparem não as armas. Preparem as
pétalas de rosas para responder aos tiros dos adversários".
Durante o discurso na convenção, cuja maior parte foi lida num
teleprompter, o presidente atacou o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso. Além de dizer que fez mais em três anos e meio de governo do
que o tucano em oito anos de gestão, alfinetou FHC ao elogiar José
Sarney (PMDB-AP).
Lula pediu aos militantes que evitassem o clima de "já ganhou":
"Ninguém pode sair por aí dizendo que vai ganhar no primeiro turno,
que os adversários não vão dar conta do recado. Humildade, seriedade
e caldo de galinha não fazem mal a ninguém, nem na política nem em
nenhuma atividade".
"Setores elitistas"
Ao abordar a crise do mensalão, Lula disse que a enfrentou com
"tranqüilidade". Numa resposta indireta a ataques do PFL, Lula atacou
"representantes de setores elitistas do país ou algum saudosista do
tempo militar".
O discurso foi pontuado por frases com menções à origem social de
Lula. "Vocês sabem quanto custou a cada um chegar até aqui. (...)
Quanta armadilha foi preciso desmontar."
O petista disse ter frustrado apenas os que esperavam mudanças
rápidas ou os que "torciam" para "dar errado". "Me sinto ainda mais
maduro e preparado, pois aprendi bastante nos últimos anos, muitas
vezes com sofrimento e injustiças."
Disse ter sido perseguido ao falar da crise do mensalão: "Os que me
atacaram injustamente e tentaram me destruir se esqueceram que em
toda a minha história eu convivi, da forma mais democrática possível,
com a divergência". Ainda assim, disse não pretender "posar de vítima
ou de herói".
"Se com a inexperiência que tínhamos, e com a tormenta que
enfrentamos, conseguimos recuperar o Brasil, imaginem o que não
poderemos fazer num segundo governo, com mais experiência e com pleno
conhecimento da máquina?"
"Farol para trás"
Ao mesmo tempo em que apresentou vários números sobre sua gestão
econômica, Lula enfatizou a comparação com os anos FHC: saldo
comercial favorável, melhora do perfil da dívida externa, queda do
desemprego, maior renda, aumento real no mínimo e programas de
microcrédito.
"Pensam que o povo esqueceu o que eles fizeram com o nosso país." E
bateu na oposição. "As vozes do atraso estão de volta. E como não têm
uma boa obra no passado e nem propostas para o futuro fazem da
agressão e da calúnia suas principais armas."
Em São Paulo, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin,
respondeu. Para o tucano, falar do passado é "colocar o farol voltado
para trás".
"É um equívoco ficar comparando com o passado. Nós vamos falar do
futuro. O que interessa ao povo brasileiro é discutir quem pode fazer
mais nos próximos quatro anos."
"Pai dos pobres"
Lula assumiu a face de "pai dos pobres" que vem desenhando há meses.
Negou que a economia seja uma prioridade em si: "Nosso objetivo nunca
foi alcançar apenas o superávit mas sim uma meta mais difícil, o
superávit social". Defendeu o Bolsa-Família, dizendo que o governo
não "dá esmola".
O presidente pareceu segurar o choro duas vezes. Mas chegou a chorar
quando lembrou de uma mulher beneficiada pelo programa Luz para Todos
que disse ao marido que acendia e apagava a luz do quarto porque
nunca havia visto o rosto do filho dormindo.
Falando a militantes, foi breve ao abordar o mensalão. "Nunca
enfrentamos uma crise como a que se abateu sobre nós. A oposição
aproveitou-se de algumas condutas equivocadas para generalizar culpas
e tentar destruir o partido mais autenticamente popular do Brasil."
Coube a José Alencar puxar ontem o coro "Fora FMI" da militância
petista. "Nos nossos comícios de antigamente, vocês não me conheciam,
mas eu estava no meio do povo, e nós ajudávamos a gritar "Fora daqui,
o FMI'", afirmou Alencar. Em seguida, os petistas repetiram as
palavras de ordem.
"Nunca estivemos tão preparados para crescer como estamos", disse o
vice.
(VALDO CRUZ, KENNEDY ALENCAR, EDUARDO SCOLESE, VERA MAGALHÃES,
FERNANDA KRAKOVICS e FÁBIO ZANINI)
Colaborou a Reportagem Local
NA INTERNET - Leia a íntegra do discurso de Lula na convenção
www.folha.com.br/061753