Entrevista:O Estado inteligente

sábado, março 19, 2005

Folha de S.Paulo - Artigo - Paul Krugman: Banco Mundial pode virar Banco Americano - 19/03/2005

Pode-se dizer uma coisa sobre as qualificações de Paul Wolfowitz para chefiar o Bird (Banco Mundial): ele esteve estreitamente associado ao maior projeto americano de ajuda externa e desenvolvimento econômico desde o Plano Marshall. Estou falando da reconstrução do Iraque, é claro. Infelizmente, o que aconteceu lá deverá fazer os países desconfiarem de todo conselho econômico dado por Wolfowitz.
Não vamos nos concentrar nos erros administrativos. Em vez disso, vamos falar de ideologia.
Antes da Guerra do Iraque, os falcões do Pentágono tiraram o Departamento de Estado do planejamento. Isso excluiu qualquer pessoa com experiência em desenvolvimento. Conseqüentemente, o governo americano entrou no Iraque decidido a demonstrar as virtudes da economia de livre mercado radical, sem que ninguém advertisse sobre os prováveis problemas.
Na verdade, a ideologia econômica talvez explique por que as autoridades americanas não agiram rapidamente após a queda de Bagdá para realizar eleições. Jay Garner, o primeiro administrador do Iraque, quis convocar eleições rapidamente, mas a Casa Branca preferiu implementar um "modelo" privatizando os setores de petróleo e outros antes de transferir o controle do país.
Os campos de petróleo não foram privatizados. No entanto, a tentativa de transformar o Iraque em um exemplo de "laissez-faire" foi, à sua maneira, uma rejeição tão direta da opinião pública mundial quanto a decisão de ir à guerra. As teses dogmáticas sobre a superioridade universal dos livres mercados vêm perdendo terreno em todo o mundo.
Os latino-americanos são os mais desiludidos. Durante a maior parte dos anos 90, eles acataram o "consenso de Washington", segundo o qual a privatização, a desregulamentação e o livre comércio levariam ao sucesso econômico. Em vez disso, o crescimento continuou lento, a desigualdade aumentou e a região foi atingida por crises econômicas.
O resultado foi a ascensão de governos que, em graus variados, rejeitam políticas que consideram "made in America". O líder venezuelano é o mais ruidoso. Mas o exemplo mais dramático de reação é a Argentina, que já foi uma queridinha de Wall Street. Hoje, depois de uma recessão devastadora, o país é dirigido por um populista que costuma culpar os estrangeiros pelos problemas econômicos do país e obrigou os credores a aceitar um acordo que lhes dá apenas US$ 0,32 por dólar.
E a reação alcançou o vizinho mais próximo dos EUA. O atual presidente do México, Vicente Fox, um ex-executivo da Coca-Cola, acredita firmemente nos livres mercados. Mas seu governo é amplamente considerado um fracasso. Enquanto isso, o prefeito de esquerda da Cidade do México, Manuel López Obrador, tornou-se imensamente popular.
Onde Wolfowitz entra nisso tudo? O conselho que o Bird dá é tão importante quanto o dinheiro que ele empresta -mas só se os governos ouvirem o conselho. E, diante da rigidez ideológica que o Pentágono demonstrou no Iraque, eles provavelmente não vão ouvir. Se Wolfowitz disser que uma nova política de livre mercado vai ajudar o crescimento econômico, será recebido com tanto ceticismo quanto se declarasse que um país tem armas de destruição em massa.
Moisés Naím, editor de "Foreign Policy", diz que a indicação de Wolfowitz transforma o Banco Mundial no Banco Americano. Ou melhor, o feio banco americano: com ou sem razão, os países em desenvolvimento verão a escolha de Wolfowitz como um sinal de que continuamos tentando impor políticas que, na opinião deles, fracassaram.

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