sábado, setembro 30, 2006
Escândalo do abafa-dossiê
Não bastasse o tremendo estrago causado à imagem do governo Lula pelo escândalo do dossiê, que envolve, inclusive com mandados de prisão já decretados, pessoas estreitamente ligadas ao presidente da República, como o seu segurança e o seu churrasqueiro predileto, surge agora um subproduto da desastrada “Operação Tabajara” – a grotesca tentativa de um bando de petistas de comprar um dossiê que supostamente comprometeria o candidato a governador de São Paulo José Serra, com a tramóia dos sanguessugas. Para dizer sem subterfúgios, trata-se agora de uma clara tentativa de abafa, por parte do Ministério da Justiça e da força que lhe é subordinada, a Polícia Federal (PF), quem sabe para que a dinheirama encontrada com os intermediários da negociação do dossiê – R$ 1,75 milhão em dólares e reais – não pudesse causar impacto eleitoral.
O Banco Central (BC) é a instituição que possui o registro de todas as operações de compra e venda de dólares, feitas pelas instituições financeiras em operação no País, assim como detém a identificação de todos os envolvidos em transações desse gênero. Era de crer, portanto, que na investigação da procedência daquela grande soma de dinheiro em espécie a Polícia Federal tivesse feito, logo de início, uma consulta formal ao BC. Mas qual foi a surpresa – e a compreensível indignação – dos senadores Tasso Jereissati e Heráclito Fortes quando, ao visitarem anteontem o presidente do BC, Henrique Meirelles, dele ficaram sabendo que até então nem a Polícia Federal nem o Ministério da Justiça haviam solicitado àquela instituição informações que identificassem as pessoas que sacaram ou transportaram o dinheiro apreendido.
Entende-se o desabafo contundente do senador Jereissati: “Isso é escândalo, um absurdo. O ministro da Justiça tem que responder a isso. Do contrário, está sendo cúmplice de um crime.” Disse mais o presidente do partido dos tucanos: “Acuso o Ministério da Justiça e a PF de estarem escondendo o que sabem.” Apesar de o BC ter todas as condições de rastrear o caminho do dinheiro, Meirelles disse a Jereissati que “todas as investigações estão sendo conduzidas apenas pela PF, sem nenhuma articulação com o Banco Central” – o qual, em razão das normas do sigilo bancário, só pode realizar levantamentos e fornecer informações quando oficialmente instado a fazê-lo. Não há, então, como deixar de dar razão ao senador cearense, quando considera estranhíssimo que a PF ainda não tenha pedido ao BC ajuda para solucionar o caso – e que a PF “já sabe”, sendo de alguma forma constrangida a não informar.
Não melhorou em nada a imagem da Polícia Federal a “defesa” que fez seu diretor-geral, Paulo Lacerda, ao afirmar que “buscar informações no BC é irrelevante”, pelo fato de a PF já ter obtido as informações necessárias, graças ao acordo de cooperação com os EUA. Só depois dessas idas e vindas é que a PF oficiou ao BC pedindo informações. Ora, será que o órgão incumbido de fiscalizar e controlar o fluxo das operações financeiras do País não teria, de início, informação alguma a prestar sobre o caso? Por sua vez, o ministro Márcio Thomaz Bastos não deu resposta àquelas indagações, preferindo resvalar para a saída fácil da ironia, ao dizer: “É querer demais da natureza humana que presidentes de partidos, na véspera das eleições que lhes são desfavoráveis, não tentem gerar fatos.”
Ora, um ministro da Justiça, sob cujo comando está a força federal que desenvolve importante investigação criminal, não deveria, pelo menos publicamente – e sob pena de clara suspeição –, referir-se abertamente a favoritismos eleitorais, posto que ele está a serviço de uma Pasta Ministerial de Estado e não de uma candidatura à reeleição de um governante. E, a propósito de “gerar fatos”, há de convir: quem gerou o fato do dossiêgate?
Passadas duas semanas sem a descoberta da origem do dinheiro, mas sabendo-se que foi Hamilton Lacerda – ex-assessor de comunicações do candidato petista a governador de São Paulo, Aloizio Mercadante – quem transportou aquela grande quantidade de cédulas de dólares e reais para os intermediários presos da desastrada “Operação Tabajara”, tem -se apenas que saber, desse cidadão, onde ele pegou a dinheirama. Será tarefa tão difícil, essa?
Miriam Leitão Fora do debate
Nem os representantes do PSDB presentes entenderam o que fez Geraldo Alckmin evitar o ponto mais sensível do candidato que combate, que está em favoritismo explícito e do qual precisava desesperadamente tirar alguns pontinhos que permitam o segundo turno. “Eu teria feito diferente”, admitiu, depois, em conversa com jornalistas, o presidente do partido Tasso Jereissati. “O que todos querem saber é a origem do dinheiro.” Alguns tucanos atribuíram a falha ao fato de que Alckmin perdeu a noção do tempo e os 40 segundos se esgotaram quando ele ainda estava nos preâmbulos.
Mas como alguém pode pensar em preâmbulo quando se tem 40 segundos apenas e o tema central é complexo e está oferecido pelo sorteio? Alckmin, na saída do Projac, explicou sua omissão: deve-se a uma estratégia de campanha.
— O pessoal quer ver sangue, mas as pesquisas mostram que quem ataca acaba perdendo votos porque o agredido vira vítima.
Isso já ocorreu em alguns momentos e há quem lembre o caso do debate de Cristovam Buarque e Joaquim Roriz para governador do Distrito Federal. Teoricamente, Cristovam mostrouse muito superior ao adversário, e Roriz pareceu hesitante e despreparado.
O resto da história todos sabem. Mas Alckmin levou essa tese ao paroxismo.
Uma coisa é não ser agressivo por técnica de campanha, outra é fugir do tema sorteado quando ele é o ponto principal que rondou os pesadelos do candidato com o qual se disputa.
Não faltou contundência à candidata Heloísa Helena, nem senso de oportunidade ao candidato Cristovam Buarque que, na primeira chance, fez uma pergunta ao dono da cadeira vazia indo ao ponto principal: e se ficar comprovado o envolvimento do governo? Quem, afinal de contas, o país está elegendo? Lula tem vasta experiência em debates, nos quais coleciona bons momentos e alguns sinistros. No último, enrolou-se na pergunta de Anthony Garotinho, mostrando que quem prometia fazer a reforma tributária ainda não tivera oportunidade de aprender os nomes dos impostos do país. Momento revelador do governo que faria: nem a Cide foi para as estradas como era seu destino, nem foi feita a reforma tributária. Mesmo assim, Lula sabe que, com charme, carisma e truques, poderia convencer os convencidos e sair-se bem.
Mas preferiu no ABC atacava a elite, “esse fardo”, a imprensa “preconceituosa” e confraternizava com Luizinho, Mentor e outros amigos.
Lula executa plano de caso pensado: faz ataques difusos a supostos perseguidores e os mistura para não se saber a quem mesmo está acusando. Quando fala do fardo da elite e do preconceito, está se referindo a quem? Aos empresários com os quais acaba de ter três jantares seguidos e de quem ouviu rasgados elogios? Aos banqueiros que não têm do que se queixar? À elite dos trabalhadores do ABC? Ao grupo dos anistiados do ABC que, liderados por Osvaldo Bargas, o mesmo do dossiê, recebe indenização política e aposentadoria precoce? Ou está se referindo, quando fala em elite, aos aloprados que conseguem juntar, em uma rápida conspiração, o equivalente a R$ 1.700.000, dinheiro suficiente para dar bolsa família a 27.860 famílias? Uma das seqüelas ruins desta campanha é esta acusação do presidente e de vários dos seus assessores, em inúmeras ocasiões, ao que ele define como “elite”, ou “letrados”, ou “os que sabiam tudo”. Expressões como essas e suas derivadas apareceram várias vezes em acusações veladas, em comemorações de revanche.
Primeiro erro é que elas, de novo, embutem um desprezo pela educação e pelos livros, como se Lula tivesse que cobrar uma dívida de quem estudou, estuda, lê e tem prazer na leitura. O ressentimento seria compreensível se ele não tivesse tido todas as fartas oportunidades que teve de estudar depois que se tornou um sucesso no Brasil; já lá se vão 30 anos. Segundo erro é que essa divisão entre partes de um mesmo país é exatamente o lado mais sombrio do chavismo. A Venezuela é um país fraturado; tudo o que o Brasil não quer ser.
A não ida ao debate pode ter ou não provocado efeito eleitoral; há controvérsias nas análises. Um dos argumentos dos que o apoiaram na decisão é que, nesta campanha, Lula tem mostrado nervosismo em simples entrevistas; não teria nervos para superar um constrangimento.
As regras do debate impediriam excessos de qualquer adversário dele, mas foi nesse motivo que Lula se escondeu.
O fato é que foi um desrespeito ao eleitor, uma demonstração de pouco apreço democrático, um ato de arrogância. Como o foi a ausência do governador Aécio Neves em Minas Gerais.
Aécio debateria com Nilmário Miranda, pessoa de bons modos e, nesta eleição, poucos votos. Não havia razão para não ir, a não ser a impressão de já estar eleito rei de Minas Gerais.
O debate de quinta-feira foi visto por umas 40 milhões de pessoas e, mesmo que nada se altere no quadro eleitoral, foi uma oportunidade de informar, esclarecer e trabalhar pela cultura democrática do eleitor brasileiro.
MERVAL PEREIRA - A Bolsa e a vida
Por outro lado, “o custo de oportunidade para uma família pobre deixar uma criança na escola é extremamente alto, por que salário que uma criança consegue receber no mercado de trabalho é muito alto comparado com a renda do pai, se for uma pessoa pouco qualificada. Tirar essa criança do mercado de trabalho significa uma queda de renda para a família muito elevada”.
Se o governo deixar por conta da família pobre investir na educação fundamental da criança, ela vai investir menos do que o socialmente ótimo, lembra o economista da PUC, para reafirmar que “é socialmente ótimo subsidiar essa criança”.
E como vai o acompanhamento das condicionalidades do Bolsa Família? Pelo relatório do próprio Ministério, apenas 64,7% dos alunos inscritos no programa têm a freqüência acompanhada, em 90% das escolas do país. Não houve muito avanço, pois em 2005 esse número era de 61%.
Desses, 96% estão cumprindo as metas. Outra condicionalidade, cumprir os cuidados básicos em saúde, como vacinação para as crianças entre 0 e 6 anos, e a agenda pré e pós-natal para as gestantes e mães em amamentação, tem acompanhamento ainda mais precário.
Pelos dados do último semestre, apenas 38% das famílias eram acompanhadas, sendo que 99% delas cumpre as exigências. Rosani Cunha, secretária nacional de renda e cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social, tem uma visão menos pragmática e mais idealista do programa.
Ela diz que além da idéia de que aumentar a escolaridade das crianças pode contribuir para que a geração seguinte tenha uma vida diferenciada, “há objetivos que quase nunca são falados e que são muito importantes, como o conceito de que as condicionalidades também são um compromisso do poder público de ir atrás dessas famílias. Mais do que informar ao sistema de que uma criança não está vacinada, o importante é que você vai vacinar essa criança”.
O sistema de informática que está sendo instalado, com falhas tecnológicas ainda sendo corrigidas, pretende possibilitar um o acompanhamento individual da criança. Um dos principais objetivos seria “identificar o motivo de não ir à escola, o que demanda do poder público um acompanhamento individualizado a essas crianças ainda mais excluídas”.
Os motivos são vários, entre gravidez precoce, mendicância, negligência dos pais e exploração sexual.
Os últimos registros informam que, num universo de mais de 11 milhões de famílias, apenas 135 mil cadastrados tiveram esse tipo de problema, e 157 mil famílias não cumpriram as condicionalidades ou a de saúde ou de educação, e estão sendo advertidas. Esse número reduzido de não cumprimento — menos de 2% do universo total —, indica que o acompanhamento não está sendo feito de maneira adequada.
Mas Rosani Cunha argumenta que houve um avanço muito grande, pois no início de 2003, apenas 10% das escolas eram monitoradas, e apenas 6% das famílias incluídas no programas eram acompanhadas nas questões de saúde em 2005.
Uma das razões da falta de controle é a ampliação maciça do programa, que entre 2005 e este ano simplesmente dobrou o número de cadastrados.
Mas Rosani Cunha vê o não cumprimento das condicionalidades mais como “um alerta sobre uma família de maior risco”.
Ela rebate a idéia de que esteja aumentando o número de filhos nas famílias pobres devido ao pagamento adicional de R$ 15 por criança até 15 anos, num total máximo de três por família. Outra crítica que ela contesta é a de que o programa estimula o beneficiário a não trabalhar.
Segundo ela, é o trabalho precário, de exploração, que deixa de ser feito.
Para o economista José Marcio Camargo, do ponto de vista do programa, o fato de o beneficiário receber o dinheiro e não trabalhar mais “não faz a menor diferença, se o filho dele estiver estudando. A produtividade desse adulto hoje é muito pequena, e o que você perde é muito pouco em termos de PIB. O que é importante é que a criança seja mais produtiva quando virar adulta”.
A partir deste ano, foi criado pelo Ministério do Desenvolvimento Social um indicador para a remuneração dos municípios, que cuidam da atualização cadastral, da qualidade do cadastro e das informações sobre as condicionalidades de saúde e educação.
Desde abril os prefeitos recebem R$ 2,50 por mês por cada família do programa que esteja em seu território.
Segundo a secretária Rosani Cunha, cada município tem uma estimativa máxima de famílias, com base em cruzamentos do PNAD, e por isso não é possível que os prefeitos tentem cadastrar mais famílias para ganhar mais dinheiro.
De qualquer maneira, a antecipação das metas deste ano, com a proximidade das eleições, deve ter dado um bom dinheiro para os prefeitos.
Os pagamentos destinados às “transferências de renda com condicionalidades” cresceram 56% em julho.
O valor gasto em julho foi 73% maior que a média orçamentária do programa nos últimos seis meses.
CELSO MING
celso.ming@grupoestado.com.br
Há dois meses, o Banco Central vai sendo passado para trás na antecipação dos fatos econômicos. E esse atraso pode estar tirando eficácia à condução de sua política.
Espera-se de um banco central que se antecipe aos fatos e que lidere os formadores de preços em direção à convergência das expectativas. Enquanto os agentes econômicos seguirem dançando o ritmo orquestrado pelo banco central fica sempre mais fácil a derrubada da inflação - ensina a teoria. Mas, desde julho, o Banco Central do Brasil está alguns compassos atrasado em relação à economia e ao próprio mercado.
Esse descompasso começou quando o Copom entendeu que devesse alertar para a redução do ritmo dos cortes dos juros. Foi quando o comunicado oficial após a reunião de julho passou o recado de que estava próxima a temporada de 'maior parcimônia na flexibilização monetária'. Ficou entendido que, para o Banco Central, o cumprimento da meta de inflação neste ano e no próximo dependia de doses mais baixas nos cortes de juros.
Mas os fatos conhecidos depois contra-indicam o procedimento da maior 'parcimônia'. A novidade é a evolução dos preços bem menor do que a esperada para o último trimestre de 2006, que, por sua vez, aponta para uma acumulada da inflação para todo o ano entre 2,5% e 3,0%, substancialmente mais baixa do que a do centro da meta, que é 4,5%. O Banco Central continua acenando com 3,4%.
Assim, pareceu precipitada a sinalização do emprego de 'parcimônia' na condução da política monetária. Mas, em vez de admitir a precipitação, o Banco Central preferiu não passar recibo de que estava oferecendo comida crua. Ao contrário, tentou plantar a impressão de que anda preocupado com o risco de que esteja a caminho fornada extra de inflação, que ninguém vê.
Ao avisar, na Ata do Copom de agosto, que passou a esperar para ainda este ano um reajuste interno dos combustíveis (até então fora das projeções), o Banco Central deixou a impressão de que estava atrás de justificativas para não admitir o adiamento do período de 'parcimônia'.
Os efeitos de uma inflação bem mais baixa em 2006 não se esgotam aí. Reduzem também a fornada esperada para 2007 na medida em que a inércia (arrasto) para o período seguinte também fica menor.
No Relatório de Inflação de setembro, divulgado quinta-feira, em nenhum momento reconhece que esteja sendo surpreendido por uma inflação mais baixa do que a apontada pelos seus modelos econométricos. E ainda tenta justificar o decepcionante crescimento econômico, cujas projeções foram agora rebaixadas de 4,0% para 3,5%, com desculpas de qualidade duvidosa. Como ontem foi observado aqui neste espaço, ficou dito no Relatório que boa parcela de responsabilidade do PIB bem mais magro deste ano é da interrupção do processo produtivo durante os jogos da seleção brasileira na Copa do Mundo (que durante três tardes em junho suspenderam a atividade econômica), da greve dos auditores da Receita Federal e da parada para manutenção de plataformas da Petrobrás.
Todos os dias os analistas internacionais vêm demonstrando que o fator China é antiinflacionário. Ao despachar mercadorias por uma fração dos preços antes praticados nos mercados, os asiáticos (e não só os chineses) contribuem para um enorme achatamento global dos preços, independentemente do tamanho dos juros impostos pelos bancos centrais.
Talvez a ação desse efeito seja incipiente no Brasil porque esta é uma economia bem mais fechada do que as outras. Mas não dá para negar o impacto positivo sobre a inflação brasileira provocado pelo aumento de importações mais baratas (não só da China), que nos últimos 12 meses cresceram 33,9%. Estranhamente, o Relatório de Inflação não dá importância a esse fator.
É compreensível que às vezes até mesmo bem informados e competentes dirigentes de banco central se deixem surpreender por fatos novos. Mas nada justifica que, logo a seguir, não os levem em consideração e não ajustem seu compasso.
Enfim, se um dos objetivos-chave da política monetária é manter os agentes econômicos convencidos de que a inflação está sob controle, não pode o Banco Central atrasar as sinalizações só porque foi ultrapassado pelos acontecimentos.
Opção pela decência
Mauro Chaves
Amanhã é dia de definir os valores sobreviventes da sociedade brasileira. Depois do estrago colossal dos costumes no espaço público, quando a ignorância foi erigida em troféu e a compra de consciências (com bolsas para famílias pobres e mensalões para parlamentares ricos) se tornou uma prática habitual de manutenção do poder; depois que os interesses e as ambições dos asseclas organizados, na ocupação e no usufruto das funções públicas, prevaleceram sobre quaisquer princípios de conduta ou as mais elementares regras de correção de comportamento, só resta ao eleitor brasileiro mostrar que ainda é possível resistir, por meio da poderosa arma do voto.Sim, ainda é possível resistir à tentativa de generalizar a aceitação do roubo público, resistir à leniência langorosa ante os desmandos de governantes e representantes do povo, resistir à covardia moral dos que aceitam, pacificamente, a cobiça desenfreada de uma cambada de ladrões, sanguessugas, vampiros, mensaleiros e dossiêleiros, encastelados no alto do poder e que nele pretendem permanecer, ou a ele pretendem retornar, depois de curto intervalo em que puderam preparar a recuperação do posto que ocupavam na grande quadrilha. Uma preparação, aliás, por meio de candidaturas meio escondidas, não exibidas totalmente para não chocar muito os eleitores - como fazem os bandos no preparo de estratégias para um grande assalto. Mas ainda é possível reverter o processo insidioso de esvaziamento de valores éticos, assim como o desprezo quase oficial pelo conhecimento e pelo esforço pessoal do aprendizado, que vai comprometendo a evolução (mental e moral) de nossas gerações, a atual e a futura.
Amanhã é dia de o eleitor brasileiro decidir se gosta ou não de governos mergulhados em crises e escândalos constantes, descobertas contínuas de novas maracutaias, CPIs de todos os tipos, transformação do maior espaço dos jornais em páginas policiais, concentração das melhores energias jornalísticas e intelectuais no assunto das múltiplas bandalheiras cometidas pelos detentores do poder. É dia de impedir ou não que o poder seja exercido por líderes sub judice, cercados por colaboradores sob mandados de prisão, sujeitos a ter de responder, a qualquer momento, por seus atos criminosos - que sempre consideram simples “erros”, na novilíngua em que escrevem e seguem seu glossário de impunidade. É dia de evitar, com o voto, o espanto dos investidores, que vêem as instituições mais tradicionais do País dominadas por um aparelhamento que contradiz, técnica e moralmente, seus valores mais caros, como o espírito público que, de forma arraigada, presidia a política adotada por seus dirigentes e seguida por seus servidores, desde os primeiros tempos.
Amanhã é dia de enfrentar, pelo voto, a empulhação, que tem tentado inverter o sentido dos fatos com uma desfaçatez de tamanho sideral, enaltecendo como sucesso os verdadeiros desastres, tais como o nível de crescimento que nos põe à frente apenas do Haiti (com sua miséria devastadora e em guerra civil) e as acachapantes derrotas diplomáticas em todas as frentes (OMC, ONU, Bird, Bolívia, etc.). E, apesar de alguns aspectos positivos da estabilidade econômica - muito mais dependentes da conjuntura externa do que da gestão interna -, é preciso que se diga pelo voto, amanhã, que o Brasil não merecia mergulhar em tamanho lodaçal e sofrer tal torvelinho de coisas sujas, como o que o sufoca. Por isso o voto, amanhã, poderá ter um sentido detergente, de assepsia moral, capaz de produzir um efeito de faxina e desinfecção do espaço público não previsto nem pelas ratazanas mais pessimistas do meio político caboclo.
É preciso ter em mente que o voto é a expressão de uma vontade cívica, a opção por um caminho previsível, a adesão a uma forma de ser, de agir e de produzir numa sociedade, a partir da influência em que tudo isso possa ter a ação das pessoas públicas, encarregadas dos governos ou das representações legislativas. Por isso o voto não tem nada que ver com as apostas especulativas - como as que se fazem na compra de ações em Bolsas ou pelos volantes das loterias - nem com a adesão das torcidas, em que o “ganhar” ou “perder” é apenas uma sensação de prazer ou desprazer, que se esgota na própria emoção competitiva ou na mera predileção por um clube. Há que repetir o óbvio, nem sempre lembrado: o voto é a participação efetiva no destino coletivo, a parcela de interferência - mínima que seja - de cada cidadão nos assuntos que dizem respeito ao bem-estar, à liberdade e à evolução de sua comunidade. É isso que se preserva, independentemente do resultado que tragam as urnas.
Sob o ponto de vista da decisão ética de cada cidadão eleitor, pouco importa o que digam as pesquisas, os prognósticos que despejem ou os favoritismos que cultuem. Opções diversas existem, mas não há como deixar de entender que melhor será, amanhã, a opção pela decência. Isso significa posicionar-se contra toda essa lameira que jorra torrencialmente do espaço público-político, soterrando as melhores energias produtivas da sociedade, fazendo o diálogo social equiparar-se ao que prevalece nos pátios dos presídios, como se a vida marginal, a razão dos bandidos e os métodos grotescos de manutenção de poder, utilizados pelos bandos organizados, fossem os temas primordiais da sociedade brasileira.
Enfim, a melhor opção amanhã será pela decência. Mas, se o povo decidir em contrário, em nome sagrado da democracia teremos de aceitar mais quatro anos de indecência. São mais 1.460 dias de escândalos, corrupção e confusão. E não passam rápido, gente.
DORA KRAMER
A situação moral do presidente da República é tão ruim que, sob a ótica exclusiva do interesse eleitoral dele, pode realmente ter feito um bem a si não indo ao debate da TV Globo. Por isso mesmo, em momento algum ele pensou seriamente em ir ao debate.
Simulou indecisão, manipulou a informação - como de resto manipula imagens, imaginários e simbolismos em geral - e, como a assessoria espalhou que a decisão de não ir foi de caráter pessoal, posa como autor do 'acerto'.
Uma maquiagem como tantas outras, agora visando a fortalecer o mito do intuitivo, cuja intuição o põe sempre no caminho certo. Desta vez não tinha escolha. Não foi, não porque escolheu não ir, mas porque não tinha outra saída.
Entre o risco da grande perda e o cálculo do menor dano, ficou com a segunda hipótese.
Desrespeito ao eleitor à parte - este aspecto de sua relação com a sociedade Luiz Inácio da Silva já resolveu quando reclamava do 'povinho' em suas derrotas do passado, e reafirmou recentemente, ao informar que só iria a debates 'quando interessasse' -, nada do que dissesse poderia contar pontos a seu favor.
Este é o seu ponto fraco no momento: acossado pelas evidências, vai perdendo a capacidade de convencer e a possibilidade de freqüentar qualquer ambiente onde seja questionado.
Era óbvio que o assunto corrupção dominaria o debate. Por isso, a alegação da proteção da figura institucional do presidente de uma avalanche de grosserias soou a todos, e o mediador William Bonner deixou bem claro isso, como mero pretexto para se ausentar e ainda tentar reduzir o prejuízo fazendo-se de vítima.
O constrangimento de ouvir em rede nacional perguntas como a de Cristovam Buarque sobre a possibilidade de renúncia caso fique comprovada a intenção de uso eleitoral do dossiê Vedoin em favor de sua candidatura seria muito maior que a repercussão negativa da ausência.
Isso sem contar a ira santa da senadora Heloísa Helena e a frieza penetrante do anestesista Geraldo Alckmin.
Afeito a ignorar a realidade, o presidente Lula apenas se manteve fiel ao seu estilo ao preferir buscar reforço afetivo, aval político e reverência eleitoral no comício em São Bernardo do Campo, no lugar de se confrontar com algumas verdades que julga dissolver por obra e graça de populismo e, eventualmente, votos.
Antes que se diga que votos são tudo numa democracia, convêm lembrar que é por intermédio deles que o governante chega ao poder, mas, uma vez lá, deve obediência a outros preceitos democráticos, tais como respeito à lei e às instituições, apreço às liberdades e aceitação do contraditório.
Há vários exemplos de mandatários eleitos cuja manipulação dos instrumentos de poder solapa os preceitos da obediência à alteridade e da convivência natural com a pluralidade, sendo Hugo Chávez o mais bem-sucedido (por enquanto) e próximo de nós.
Mal na foto
A publicação das fotos do dinheiro do dossiê, a despeito da proibição imposta pelo governo, é caso típico da emenda que torna desastroso o soneto. Ao tentar proteger a candidatura Lula, o ministro da Justiça acabou desguarnecendo ainda mais o governo.
Confirmam-se as previsões de que essa tentativa de esconder o impossível de ser ocultado mais cedo ou mais tarde explodiria no colo do governo, exatamente como a bomba do dossiê.
Se não tivesse censurado as fotografias para evitar o uso das imagens no horário eleitoral, manteria a prerrogativa de fazer o discurso 'republicano' e poderia exibir, como fez em outras ocasiões, o gesto como 'prova' do distanciamento do presidente da trama.
Isso foi perdido no momento em que o ministro Márcio Thomaz Bastos deu entrevistas alegando razões eleitorais.
Mas ainda há espaço para as coisas piorarem. A depender das ações para 'apurar o vazamento' das fotos, o governo ampliará sua já fornida folha corrida de complicações político-policiais.
A Polícia Federal anunciou abertura de inquérito para descobrir como o Estado de S. Paulo obteve as fotografias. A última vez que a PF abriu inquérito para 'apurar' uma situação desfavorável ao governo foi no caso Francenildo Costa, o caseiro, e, a partir desse empenho em inverter o ônus da suspeita desenrolou-se o fio da meada da quebra do sigilo bancário para desmoralizar a testemunha.
O ministro Tarso Genro vê ação do PSDB na divulgação das fotos. Pode até ser, mas aí os tucanos teriam sido algo lentos, ineptos mesmo, pois, para eles, ideal seria ter as fotos para mostrar no programa eleitoral. O argumento, evidente, não se agüenta nas próprias pernas.
Custo PMDB
A confusão é tanta, a sucessão de anomalias é tamanha, que é preciso reler com atenção jornais atrasados para notar que o PMDB já pôs a funcionar seu eficiente guichê de negociações programáticas: o candidato ao Senado por Minas, Newton Cardoso, pede ao presidente Lula, se reeleito for, seis ministérios para o partido.
Mexicanização pós-eleitoral GESNER OLIVEIRA
APESAR de diferenças óbvias, as dificuldades enfrentadas por Brasil e México depois de duas eleições presidenciais guardam semelhanças. Ambos os países desperdiçaram uma janela de oportunidade da economia mundial para um salto de crescimento.
Três pontos de convergência chamam a atenção. Em primeiro lugar, os dois países apresentam desempenho muito aquém do esperado nas últimas duas décadas. Eram times favoritos, mas decepcionaram na hora do jogo.
Essa é a decepção de Bradford Delong, economista e ex-funcionário do governo Clinton, com o desempenho do México após seu ingresso no Nafta. A economia abriu, as exportações cresceram cerca de 400% nos últimos 16 anos, mas o PIB por habitante cresceu a uma taxa anual próxima de 1% no mesmo período. É muito pouco para quem tem acesso privilegiado ao mercado mais rico do planeta. Além disso, as exportações mexicanas vêm perdendo terreno para as da China e de outros países da Ásia.
O Brasil, por sua vez, se tornou conhecido pelo baixo crescimento entre as economias emergentes. É intrigante, à primeira vista, como um país tão rico em recursos naturais, com um setor privado com elevado nível de produtividade e uma população reconhecidamente empreendedora possa ir tão mal durante um dos períodos mais favoráveis da economia mundial nos últimos cem anos.
Em segundo lugar, e aí reside boa parte da explicação para desempenhos tão medíocres, as condições estruturais para o investimento e o desenvolvimento de capital humano nos dois países são muito ruins. Tudo conspira contra o espírito empreendedor nos dois países.
O índice de competitividade do Fórum Econômico Mundial divulgado nesta semana confirmou as dificuldades para investir nos dois países. O México aparece na 58ª colocação; o Brasil, na 66ª, 39 posições abaixo do Chile (27ª). Apesar do elevado grau de subjetividade desse tipo de indicador, os problemas captados são bem conhecidos: infra-estrutura precária, excesso de burocracia e conseqüente corrupção, extrema rigidez na legislação trabalhista, corporativismo sindical e estruturas tributárias irracionais que induzem a grande informalidade.
No passado, quando o nível de integração econômica com o resto do mundo era menor, era possível conviver com elevados graus de ineficiência doméstica e mesmo assim manter taxas elevadas de crescimento. Na atualidade, o déficit de competitividade dessas duas economias e de várias outras da América Latina tornou-se mortal. A economia global é implacável: os países menos eficientes perdem mercados e deixam de constituir pólos de atração de investimento.
Em terceiro lugar, tanto México como Brasil apresentam dificuldades para formular projetos de desenvolvimento e viabilizá-los através de seus respectivos sistemas político-partidários. O governo de Vicente Fox (2000/6) foi decepcionante. Foram seis anos de sucessivos impasses entre Executivo e Legislativo sem que medidas de estímulo ao investimento e ao crescimento fossem tomadas. As perspectivas para o governo de Felipe Calderón são piores ainda.
Tendo vencido seu rival, Obrador, por estreita margem e depois de desgastante processo de deliberação judiciária sobre o resultado do pleito, as dificuldades políticas deverão ser ainda maiores do que no período Fox.
No Brasil, por sua vez, algo semelhante pode acontecer, ainda que em circunstâncias distintas. O favoritismo do candidato que lidera as pesquisas, e que pode levar à decisão do pleito amanhã, não reflete nem de longe a vitória de um projeto hegemônico. Traduz apenas uma satisfação do eleitorado mais pobre (e majoritário) com uma política distributivista de curto prazo. Esta última é insustentável porque não está ancorada em uma boa política fiscal nem em formação de capital humano. Funciona apenas em tempo de bonança.
Em contraste com o México (e também com os Estados Unidos), o resultado de uma eleição com urnas eletrônicas de pura tecnologia nacional será conhecido e confirmado em menos de 48 horas. No entanto as dificuldades de organizar a energia empreendedora do país em torno de um projeto consistente persistirão por muito tempo.
CLÓVIS ROSSI O pântano vai à TV
Feita essa fundamental ressalva, ouso dizer que jamais houve, na história da República, uma chuva de acusações e adjetivações tão contundentes contra um governante ainda no exercício de suas funções como aconteceu anteontem durante o debate promovido pela Globo. Aliás, o estúdio em que foi realizado o debate é também aquele em que é gravado o programa "Zorra Total".
Foi mais ou menos isso o que aconteceu: uma zorra total em cima de Lula, o ausente.
Não faltou menção a um único dos incontáveis escândalos do lulo-petismo, assim como não faltou a caracterização de "organização criminosa" ao mesmo grupo, lançada pela senadora Heloísa Helena. Na verdade, a expressão é originalmente do procurador-geral da República, nomeado por Lula.
Claro que o lulo-petismo poderá dizer que se trata de conspiração da mídia, das elites, de golpismo, de reação da "direita". Mas tal reação não teria parentesco nem remoto com a realidade, como costuma ocorrer, aliás, com o lulo-petismo.
A mídia não participou do debate, salvo para convidar os debatedores, Lula incluído. Heloísa Helena e Cristovam Buarque são, ambos, originários do PT, do qual saíram faz apenas três anos.
Só um delirante colocaria ambos no campo da "direita". Aliás, não faz muito, quem colocou Lula na direita foi o banqueiro Olavo Setúbal ao dizer que tanto o presidente como seu principal adversário, Geraldo Alckmin, são "conservadores".
A propósito, Alckmin foi o menos agressivo dos debatedores.
O último ato do processo eleitoral acabou servindo, acima de tudo, para confirmar que o governo Lula criou um pântano político talvez inédito.
Os dois pólos
NÃO HÁ notícia, no histórico das cinco eleições presidenciais que o Datafolha acompanhou, de um pleito marcado por uma divisão tão nítida entre estratos sociais e regionais quanto o deste ano. As intenções de voto no presidente Luiz Inácio Lula da Silva são inversamente proporcionais ao nível de renda e escolaridade do eleitor; ocorre o contrário com Geraldo Alckmin.
O petista encontra apoio francamente majoritário no conjunto geográfico que abrange Minas Gerais e os Estados do Nordeste. O tucano bate o candidato à reeleição em São Paulo e no Sul.
Esse padrão, detectado de maneira incipiente já nas primeiras pesquisas que se fizeram visando à sucessão presidencial de 2006, não apenas se manteve mas se pode dizer que foi reforçado ao longo do tempo. Uma espécie de "muralha chinesa" vem protegendo a fatia do eleitorado mais fiel ao presidente Lula do assédio adversário. Essa fortaleza eleitoral mostrou impressionante resistência diante da sucessão de graves escândalos, ao longo da segunda metade da administração petista.
Se Alckmin, de acordo com a pesquisa realizada nesta quarta-feira, atingiu seu maior patamar de intenções de voto no período de campanha, ainda não conseguiu avançar sobre o típico eleitor de Lula. O presidente logrou manter-se no maior nível da série, que vem desde o final de junho, entre os eleitores que declaram ter renda familiar mensal até R$ 700. Há três dias, o petista tinha 58% das intenções de voto nesse estrato, que abrange metade dos eleitores brasileiros.
O mesmo raciocínio aplica-se em relação ao Nordeste -onde Lula, na quarta-feira, mantinha 70% das preferências- e em Minas -onde chegou a crescer três pontos percentuais (para 54%), no último Datafolha.
O que se está a inquirir nestas horas finais de campanha é se as mais recentes notícias a respeito do escândalo do dossiê serão capazes de alterar ligeiramente esse quadro, a ponto de levar a disputa ao segundo turno. Lula desrespeitou os eleitores ao faltar ao debate de anteontem na TV Globo; deixou de dar satisfações, exposto ao contraditório que é típico da democracia, a uma vasta audiência sobre o desmando que envolveu a cúpula de sua campanha à reeleição numa operação clandestina contra adversários.
Agora surgem as eloqüentes imagens das notas de R$ 1,2 milhão e de US$ 248,8 mil apreendidas há duas semanas com dois petistas num hotel de São Paulo. O inquérito da polícia, parece, também vai se aproximando dos sacadores do dinheiro -o que suscita explicações as mais estapafúrdias de suspeitos.
A "muralha chinesa" passa por seu teste decisivo. A identificação do eleitorado de menor renda e escolaridade com Lula -identificação assentada também em melhorias de padrão de vida- está sendo exposta a mais um forte questionamento. Desse último exame de consciência, estimulado mais uma vez por um grave escândalo na política federal, dependerá o resultado da eleição presidencial de amanhã.
Nova York quer proibir gordura trans
Depois do fumo zero, os restaurantes
de Nova York estão sob ameaça
de derreter a gordura trans
Joel Raedle/Getty Images
Não parece, mas é: a Wendy's antecipou-se e mudou o óleo
Expulso para a rua, o cidadão traga culpadamente um cigarro sob o rigor das intempéries. Trancado em sua cozinha, delicia-se em segredo com biscoitos, sorvetes e outras comidas industrializadas. Esse pode ser o destino do morador de Nova York. Depois de proibir o cigarro em restaurantes, bares e afins, numa iniciativa que está sendo copiada no mundo inteiro, a prefeitura de Nova York avança mais um pouco no terreno das práticas saudáveis compulsórias: está estudando proibir o uso da gordura trans na confecção de alimentos em restaurantes. Notória entupidora de artérias, a gordura trans – trans fat, em inglês – é que garante a longevidade, a textura e o sabor viciante de muitos alimentos que não existem na natureza. Em sua conta debita-se também uma boa parte da culpa pela explosão da obesidade nos Estados Unidos, chamados jocosamente de Transfatistão quando a questão é a tremenda quantidade de comida engordativa em circulação no país. "A maior causa de mortes prematuras na nossa cidade são as doenças cardíacas. Não vamos mudar isso com uma varinha de condão. Mas remover as gorduras trans dos restaurantes pode reduzir significativamente os riscos à saúde de todos os nova-iorquinos", justificou Thomas Frieden, chefe do Departamento de Saúde, que está encaminhando o projeto. Donos de restaurantes ficaram horrorizados com a ameaça de patrulha alimentar. "Proibir o cigarro deu certo porque o fumo faz mal também a quem está perto do fumante. Mas, se uma pessoa resolver comer algo que ouviu dizer que não é saudável, isso é problema dela", vociferou, não sem certa dose de razão, Chuck Hunt, vice-presidente da Associação de Restaurantes do Estado de Nova York.
AFP
Orgia trans: biscoitos e sorvetes
O anteprojeto de lei dá prazo até julho de 2008 para que todos os 24.600 restaurantes, lanchonetes e bares da cidade eliminem do cardápio a gordura trans, presente em fermentos, margarinas e óleos de cozinha (tradução: donuts do Dunkin Donuts, batatinha do McDonald's, frango frito do KFC e mais uma infinidade de delícias condenadas). A multa aos infratores ficaria entre 200 e 2.000 dólares. A investida contra a gordura trans era anunciada desde que se estabeleceu que sua ingestão não deve ultrapassar 1% das calorias diárias, ou, numa dieta de 2.000 calorias, meros 2,2 gramas (uma porção de batatinhas tem três vezes mais). Fabricantes de algumas marcas favoritas dos apreciadores de petiscos pecaminosos como os biscoitos Oreo e os salgadinhos Doritos e Cheetos removeram, por conta própria, a trans de sua receita. Desde agosto que a rede de lanchonetes Wendy's usa nova marca de óleo em suas frituras, sem trans. O próprio McDonald's está buscando alternativas para a gordura trans em suas lanchonetes. Por mais que os estabelecimentos achem a proibição absurda, a tendência das grandes redes é mesmo se conformar. Sem fumar, sem comer bobagem, restará ao consumidor transgressor dos modos saudáveis a liberdade de beber. Por enquanto.
Análise genética no combate ao câncer de mama
VEJA on-line
Rumo ao tratamento individual
Teste de análise genética indica as pacientes com câncer de mama com maiores chances de se beneficiar da quimioterapia
Giuliana Bergamo
Montagem sobre foto de Tom Grill/Getty Images |
|
A grande meta no combate ao câncer de mama é a individualização do tratamento. Isso porque duas mulheres com características semelhantes e vítimas de tumores parecidos podem responder de formas distintas a um mesmo procedimento. Nos últimos dois anos, a medicina avançou a passos largos nesse sentido. Uma das conquistas mais notáveis foi a criação de testes capazes de, por intermédio do mapeamento genético de um tumor, determinar com bastante precisão o grau de agressividade e a probabilidade de recorrência da doença. Pois bem, pesquisadores da Universidade Brown, nos Estados Unidos, foram além. Em encontro da Associação Americana para Pesquisa do Câncer, realizado recentemente em Chicago, eles comprovaram a eficácia de um novo método para selecionar as pacientes que mais se beneficiariam da quimioterapia. "Esse tipo de investigação promete revolucionar o tratamento do câncer de mama", diz o oncologista Sergio Simon, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. "Com a análise da genética do tumor, é possível criar terapias muito mais personalizadas do que as que fazemos hoje."
No Brasil, 80% das vítimas de câncer de mama são submetidas à quimioterapia. Quando efetuado depois da remoção cirúrgica do tumor, o tratamento tem por objetivo eliminar qualquer vestígio da doença que porventura tenha escapado ao bisturi. A quimioterapia também costuma ser usada para reduzir o tamanho do câncer antes de a paciente ir para a mesa de operação. Em relação ao passado, o tratamento quimioterápico é mais eficiente e oferece menos efeitos colaterais. Mesmo assim, ele impinge às doentes uma rotina penosa – enjôos, queda de cabelo, depressão, anemia, entre outros. "Estima-se que metade das pacientes é submetida desnecessariamente à quimioterapia", diz o médico Simon. Tradicionalmente, uma mulher é encaminhada à quimioterapia quando o câncer está em estágios mais avançados. O problema é que há tumores que, apesar de pequenos, são extremamente agressivos. E há os tumores que, apesar de maiores, oferecem um risco remoto de recidiva. Só a análise detalhada da genética do câncer é capaz de determinar como o tumor se comportará durante o tratamento e depois dele.
Foi isso que os pesquisadores da Universidade Brown fizeram. Com uma técnica de leitura dos genes conhecida como microarray, eles analisaram amostras de tumor de 2.380 mulheres – 717 das quais submetidas à quimioterapia. Dessa forma, os pesquisadores conseguiram acompanhar de perto a produção de duas proteínas envolvidas no processo de crescimento do tumor – a (PY)-Shc e a p66 Shc. A primeira é responsável pela multiplicação das células cancerosas. A outra tem a função de conter esse avanço. O grupo das pacientes que apresentavam níveis reduzidos de p66 e que não receberam quimioterapia registrou as maiores taxas de recidiva – ou seja, a doença voltou depois da extração cirúrgica do tumor. Entre as mulheres que foram encaminhadas à quimioterapia, o perigo de recorrência do câncer foi reduzido à metade, apesar da baixa concentração da proteína. Por outro lado, as pacientes que registravam uma produção elevada de p66 foram as que tiveram o melhor prognóstico, mesmo sem a quimioterapia pós-operatória.
Outra boa notícia na luta contra o câncer de mama foi publicada na semana passada na revista científica Nature Cell Biology. Médicos da Universidade do Texas, também nos Estados Unidos, desvendaram os mecanismos pelos quais o hormônio estrógeno alimenta o câncer de mama. Já se sabia que, em 75% dos casos da doença, esse hormônio serve de combustível para o desenvolvimento do tumor. Faltava, no entanto, identificar os genes, as proteínas e as enzimas envolvidos nesse processo. "A descoberta pode contribuir para a criação de remédios mais eficazes no controle da ação do estrógeno e com menos reações adversas", diz o mastologista Antonio Frasson, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Essas novidades vêm se somar a uma série de progressos conquistados sobretudo ao longo dos últimos vinte anos (veja quadro abaixo). Com máquinas mais sensíveis para a detecção da doença, medicamentos mais eficazes e cirurgias menos invasivas, o diagnóstico de câncer de mama já não representa necessariamente uma sentença de morte. Desde os anos 80, a taxa de mortalidade da doença caiu 40% nos grandes centros de tratamento no Brasil. Até o fim do ano, 50.000 mulheres devem receber a notícia de que têm tumores mamários. De cada quatro delas, três sobreviverão ao câncer.
E agora, coronel?
E agora, coronel?
Queda no preço do petróleo ameaça
deixar Chávez sem dinheiro para
manter sua revolução populista
Diogo Schelp
Fotos Leslie Mazoch/AP |
h/AP |
Propaganda eleitoral de Chávez e o presidente com capacete da PDVSA: estatal virou sucata |
O presidente Hugo Chávez chegou ao poder, oito anos atrás, embalado pela insatisfação popular provocada por duas décadas de crise econômica e política. A instabilidade tivera origem na queda do preço do petróleo, que tirou do governo o principal recurso para comprar a calma social com subsídios. A Venezuela é o quinto maior exportador mundial de petróleo, mas a concentração da receita do produto nas mãos do Estado, distribuída por critérios políticos, privou o país da oportunidade de criar mecanismos de mercado e instituições para diversificar a economia. Apesar das promessas de uma revolução, Chávez deu seqüência ao histórico de desperdício colossal da receita petrolífera, sem investir em infra-estrutura ou na criação de empregos. O resultado é que agora ele se vê às voltas com um problema recorrente: o preço do barril de petróleo, que chegou a 78 dólares em julho, caiu para 56 na semana passada. Significa, num cálculo aproximado, uma queda de 11 bilhões de dólares numa receita anual de 40 bilhões.
Comparado com a década de 90, quando a média do barril andava em 20 dólares, o valor continua alto. Mas o governo apostava nos preços exorbitantes para sustentar uma política perdulária de gasto público e sua diplomacia de subsídios bilionários para ganhar influência no exterior. "Chávez estava agindo como se a receita com o petróleo fosse aumentar indefinidamente", disse a VEJA o economista José Toro Hardy, de Caracas. "Por isso, se o preço do barril se estabilizar em 50 dólares ou menos, a economia da Venezuela poderá enfrentar uma crise severa." A queda de faturamento é recente demais para afetar as eleições presidenciais marcadas para dezembro, e Chávez provavelmente será reeleito. Se o preço do petróleo voltar a subir, empurrado por nova crise no Oriente Médio, o coronel poderá se safar. Caso isso não ocorra, são pequenas as chances de ele reverter o desastre.
David Mercado/Reuters |
Morales: ele depende de Chávez |
Em parte, a dificuldade se deve a outro fator: o sucateamento da indústria petrolífera venezuelana, mascarado pelo alto preço do produto. Nos últimos oito anos, a receita petroleira da Venezuela quase triplicou, apesar de a produção ter diminuído. Atualmente, a Venezuela extrai 2,5 milhões de barris diários de petróleo, segundo a Agência Internacional de Energia. Chávez, que mantém em segredo o balanço da estatal PDVSA, garante que são 3,5 milhões de barris diários, desempenho próximo do alcançado em 1997. A razão para essa queda foi a transformação da PDVSA em um cabide de empregos que, em vez de investir na eficiência de sua atividade original, se encarrega de financiar os programas sociais do presidente. Um novo estudo do americano Norman Gall, diretor executivo do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, de São Paulo, dá os detalhes de como isso ocorreu. "O orçamento atual da PDVSA prevê gastos de 8,2 bilhões de dólares com programas sociais, dois terços mais que seus investimentos em exploração e produção", escreveu Gall no ensaio Petróleo e Democracia na Venezuela, a ser publicado nesta semana no boletim do instituto.
Com o dinheiro da estatal, Chávez sustenta as misiones, projetos assistencialistas que vão desde cooperativas de trabalhadores sem-terra até supermercados com alimentos a preços subsidiados. Esses programas paliativos têm o efeito inverso ao anunciado na propaganda chavista: eles perpetuam a pobreza na Venezuela porque não criam condições para a população andar com as próprias pernas. Os venezuelanos têm dinheiro para gastar e manter a economia aquecida apenas porque o governo aumentou os gastos públicos (124% só em 2006) e distribuiu dinheiro. Apesar da liquidez elevada, os empresários, sejam venezuelanos, sejam estrangeiros, não estão investindo em seus negócios para aumentar a produção industrial e o comércio. A razão para isso é que poucos querem arriscar seu dinheiro em um país onde o presidente passa suas cinco horas de programa dominical na TV mandando às favas o capitalismo e a economia de mercado. Em outros países, essa situação levaria a uma inflação galopante. Na Venezuela, isso não acontece porque o governo usa o dinheiro da venda do petróleo para garantir o crescimento das importações, subsidiar os preços dos produtos básicos e controlar o câmbio.
Se o petróleo se mantiver barato, essa equação desandará. De quebra, colocará em risco a política externa de Chávez, baseada na distribuição de dinheiro e de favores a governos de outros países. No momento, o presidente venezuelano está em campanha para conquistar uma das vagas temporárias do Conselho de Segurança da ONU, a ser escolhidas neste mês. Para isso, tem o apoio do governo do Brasil e de algumas das piores ditaduras que existem, como o Irã, a Coréia do Norte e a Bielo-Rússia. A médio prazo, o objetivo de Chávez é se tornar o líder do bloco dos países subdesenvolvidos. Na empreitada, comprou 3,1 bilhões de dólares em títulos da dívida argentina, fez um fundo de 10 bilhões de dólares dedicado aos pobres do continente e financiou candidatos populistas em vários países da região, entre os quais Evo Morales, da Bolívia.
O investimento no aumento da capacidade da produção petrolífera poderia salvar a Venezuela da sangria dos recursos públicos. Chávez não se preparou para isso. Praticamente todas as suas decisões nesse setor foram equivocadas, como mostra o estudo de Norman Gall. A começar pela demissão de 20.000 funcionários da PDVSA, punidos por uma greve de dois meses entre 2002 e 2003. A estatal perdeu, assim, boa parte dos técnicos e engenheiros que lhe garantiam a eficiência. "Desde então, a PDVSA já teve seis executivos-chefes, enquanto Chávez lotava seus quadros superiores com indicados por razões políticas", escreve Gall. Resultado: os acidentes e incêndios nas refinarias multiplicaram-se e 21 000 poços da estatal foram fechados por falta de pessoal qualificado para fazer sua manutenção. O quadro agravou-se pela decisão de Chávez de enviar 200 funcionários da PDVSA à Bolívia. O país andino não tem técnicos suficientes para pôr em prática a nacionalização do gás natural e do petróleo, decretada em maio deste ano. A Bolívia mimetiza a situação venezuelana: sem funcionários capacitados nem novos investimentos na exploração, o país corre o risco de não conseguir fornecer ao Brasil e à Argentina a quantidade de gás natural estipulada em contrato. Recentemente, por problemas na sua produção petrolífera, a Venezuela teve de importar óleo para cumprir um contrato de venda para os Estados Unidos, seu principal comprador. Essa é a realidade incômoda para Chávez: a Venezuela tem um superávit comercial de 27,6 bilhões de dólares com o país cujo governo ele demoniza. Apenas pelo capricho de tentar vender menos aos Estados Unidos, Chávez quer exportar mais petróleo para a China, o que vai lhe custar quatro vezes mais em transporte. O comportamento do preço do petróleo deve ditar os próximos passos do venezuelano.
PETRODIPLOMACIA A PERIGO
Por falta de investimentos, a produção de petróleo da Venezuela caiu 27% desde 1997...
...mas, no mesmo período, o preço do barril quadruplicou...
...o que permitiu a Chávez gastar 25 bilhões de dólares*para aumentar sua influência no exterior...
...uma política difícil de ser sustentada com a queda de 30% no preço do petróleo
* Fonte: Centro de Investigaciones Económicas
VEJA ENTREVISTA Greg Behrendt
O escritor que explica o comportamento
masculino às mulheres diz que elas não devem
levar tão a sério as desilusões amorosas
Rosana Zakabi
Como consultor do seriado Sex and the City, um dos maiores sucessos da TV nos últimos tempos, o roteirista americano Greg Behrendt tinha como missão construir os personagens masculinos da trama. Em seu trabalho, acabou descobrindo que o modo de agir dos homens, principalmente no que diz respeito às relações amorosas, é ainda um mistério para a maioria das mulheres. Terminadas as filmagens da série, ainda hoje exibida na TV brasileira, Behrendt decidiu usar a experiência para escrever um livro destinado a esclarecer o público feminino sobre o que pensam os homens. Ele Simplesmente Não Está a Fim de Você, lançado em 2004 no Estados Unidos, tornou-se um best-seller com mais de 2 milhões de cópias vendidas. O sucesso se repetiu no Brasil. O novo livro de Behrendt, Termina Quando Acaba, será lançado no mercado brasileiro em dezembro. O autor admite que muitas de suas descrições do comportamento masculino soam chocantes para as mulheres. "Mas, depois, elas se sentem fortalecidas por conhecer a verdade", ele diz. De Los Angeles, onde mora com a mulher e duas filhas, Behrendt, de 43 anos, falou a VEJA.
Veja – Seu novo livro, Termina Quando Acaba, ensina às mulheres como enfrentar o fim dos relacionamentos amorosos. Por que elas precisam desse tipo de conselho?
Behrendt – Durante meu trabalho como consultor da série Sex and the City, recebia muitos e-mails de telespectadoras com queixas sobre os homens e pedidos de orientação no terreno amoroso. Notei que é muito comum as mulheres não perceberem que o parceiro não quer mais nada com elas após o fim de uma relação. Elas simplesmente não aceitam esse fato da vida. Tem até mulher que encontra as desculpas mais mirabolantes para continuar acreditando que um dia, de uma hora para outra, o bem-amado vai perceber que ela era o amor de sua vida e vai voltar correndo para seus braços.
Veja – Isso não acontece com os homens?
Behrendt – Os homens, em geral, encontram outras maneiras de lidar com o rompimento. Isolam-se em casa, na frente da TV, desafogam as mágoas praticando esportes, ficam bêbados. E nunca lêem livros com conselhos sobre como enfrentar o fim de um relacionamento... De qualquer forma, as dicas de meu livro também podem valer para eles.
Veja – As mulheres sofrem mais que os homens ao levar um fora do parceiro?
Behrendt – Em linhas gerais, sim. Os homens costumam lidar com essa situação de forma mais tranqüila porque, na maioria das vezes, não encaram o fim do namoro como a coisa mais relevante da vida naquele momento. As mulheres agem de maneira oposta. Elas pensam no rompimento 24 horas, falam sobre o assunto repetidas vezes com as amigas, analisam o caso sob vários aspectos: por que aconteceu, por que naufragou, se teria dado certo se ela tivesse agido de forma diferente. Enquanto a mulher fica tentando descobrir o que deu errado, o homem já está convidando outra garota para sair.
Veja – Qual é a melhor maneira de se recuperar após levar um fora?
Behrendt – Primeiro, não é recomendável encontrar o ex-parceiro nos primeiros dois meses após o fim da relação. É o melhor caminho para assimilar o que aconteceu de forma serena. Em segundo lugar, nunca, em hipótese alguma, se deve telefonar ao ex. É impressionante como algumas mulheres encontram qualquer pretexto para ligar logo após o fim do relacionamento. Uma parcela delas contesta esse meu conselho alegando: "Mas, Greg, ele me pediu para ligar". Elas não entendem que os homens dizem isso apenas para diminuir a culpa que sentem por terminar a relação.
Veja – Quais as principais queixas das mulheres com relação aos homens?
Behrendt – Elas dizem não entender por que as palavras e as ações dos homens se contradizem, por que eles dizem uma coisa e fazem outra completamente diferente. Não telefonam quando dizem que vão telefonar ou as tratam como rainha durante um encontro e depois nunca mais voltam a procurá-las.
Veja – E por que os homens agem dessa maneira?
Behrendt – Os homens são mais simples do que as mulheres imaginam. Para eles, nos relacionamentos amorosos só existem duas possibilidades: ou estão interessados na mulher e investem em sua conquista e na manutenção do namoro ou simplesmente não estão a fim dela. Só que nunca têm coragem de admitir sua falta de interesse. O que os homens mais temem é ver uma mulher chorando ou fazendo escândalo na sua frente. É por isso que eles muitas vezes somem depois do primeiro encontro sem dar satisfação.
Veja – Quais são as principais desculpas que os homens usam quando querem dispensar as mulheres?
Behrendt – Recebo vários e-mails de mulheres pedindo conselhos sobre como agir com o sujeito que as dispensou. Elas relatam que o ex-parceiro está traumatizado ou que não consegue conciliar o excesso de trabalho com a vida pessoal. Há ainda os que namoraram por um longo tempo e, para justificar por que não querem se casar com a parceira, dizem que são contra o casamento. É tudo balela. Não há trauma ou trabalho em excesso que impeça um homem de assumir um relacionamento sério com uma mulher. Se ele realmente está interessado nela, não vai querer perdê-la.
Veja – Qual é a maior mentira que os homens costumam dizer às mulheres no fim da relação?
Behrendt – A maior mentira que eles falam é "O problema não é você, sou eu", quando a verdade seria: "O problema da nossa relação é você, porque eu simplesmente não estou a fim de continuar o namoro". É algo que todos os homens pensam, mas nunca têm coragem de dizer.
Veja – O senhor já usou alguma dessas desculpas para dispensar uma garota?
Behrendt – Claro que sim! Já evitei atender ligações de mulheres nas quais não estava interessado ou me tornei extremamente ocupado de uma hora para outra só para não sair com elas. Já ouvi várias vezes outros homens dizer que não é preciso terminar uma relação, basta inventar uma desculpa toda vez que elas quiserem sair com eles.
Veja – Qual a melhor forma de terminar um namoro?
Behrendt – Primeiro, deve-se terminar assim que se tem certeza de que a relação não funciona mais. Muita gente demora meses para criar coragem e romper o relacionamento. Isso é um desperdício do próprio tempo e também do tempo do companheiro. É uma atitude egoísta. Já contaminar a relação até forçar o outro a rompê-la é uma crueldade. Além disso, é preciso tomar cuidado com as palavras. Se a pessoa que está rompendo a relação diz "Vamos manter contato", ou procura o ex-parceiro para saber se ele está bem e, dessa forma, aliviar a própria consciência, a outra pessoa pode entender que existe alguma possibilidade de reatar o relacionamento no futuro. Por fim, não se deve aproveitar o rompimento para lavar a roupa suja, enumerando tudo o que deu errado no namoro. Deve-se permitir que o ex-parceiro mantenha sua dignidade.
Veja – Em seu primeiro livro, Ele Simplesmente Não Está a Fim de Você, o senhor afirma que cabe aos homens convidar as mulheres para sair, e não o contrário. Essa não é uma posição machista?
Behrendt – Depende do que a mulher espera do homem. Se ela quer apenas diversão e sexo casual, não há problema algum em telefonar para ele e convidá-lo para um encontro. A maioria dos homens adora esse tipo de convite. Mas isso não significa que o sujeito esteja a fim de namorá-la, de se tornar seu parceiro durante um tempo. Se ela está interessada num relacionamento mais sério e tem a mesma expectativa com relação ao pretendente, é melhor esperar que o telefonema parta dele. Porque, se o homem realmente estiver interessado na mulher, ele vai ligar. Se tiver perdido o número do telefone, dará um jeito de descobri-lo. Se não ligou, é porque não está a fim dela. Então, é melhor partir para outra relação.
Veja – Ao conhecer sua mulher, Amiira, foi o senhor que a chamou para sair?
Behrendt – Sem dúvida. Quando eu a vi pela primeira vez, percebi que era com ela que queria passar o resto da minha vida. No início, ela não se mostrou tão interessada e, então, tive de batalhar para conquistá-la, insistir muito para ela ficar comigo. Valeu a pena. Estamos juntos há oito anos e casados há seis.
Veja – Qual é o maior erro que as mulheres cometem ao tentar conquistar um homem?
Behrendt – Hoje, o grande problema é que elas ficaram disponíveis demais. Está muito fácil levar uma mulher para a cama, não existe mais o desafio da conquista. E, se fica muito fácil, perde a graça.
Veja – Por esse raciocínio, se a mulher vai para a cama com o homem logo no primeiro encontro, ele não vai querer nada sério com ela?
Behrendt – Claro que existem exceções, mas, nessa situação, a tendência é o parceiro perder o interesse por ela após um ou dois encontros. O que instiga o homem é o mistério, o poder de sedução que uma mulher exerce sobre ele. Os homens gostam de batalhar pelo que desejam, sentir o prazer da vitória por ter conquistado o que tanto queriam. Se a mulher concorda com o sexo logo no primeiro encontro, o homem vai pensar: "Bem, e aí? O que vem agora?" A sedução é crucial no jogo da conquista, e as mulheres estão se esquecendo disso.
Veja – É verdade que os homens preferem se relacionar com mulheres menos inteligentes e menos bem-sucedidas que eles para não criar um clima de competição?
Behrendt – Isso é puro mito. Os homens buscam mulheres que os desafiem, façam com que pensem e vejam o mundo de maneira diferente. Eles admiram mulheres que têm opinião própria e personalidade marcante. É por esse tipo de mulher que os homens tendem a se apaixonar.
Veja – Por que tantas mulheres inteligentes e bem-sucedidas se envolvem com os homens errados?
Behrendt – As mulheres tendem a enxergar o parceiro da forma como gostariam que ele fosse, e não como ele é de fato. Elas ainda são criadas para acreditar no príncipe encantado. Assim que conhecem um rapaz, muitas garotas tendem a achar que ele seria o marido perfeito e um pai excelente para seus filhos. Concentram-se apenas em suas qualidades – e algumas dessas qualidades existem somente na cabeça delas – e se esquecem de analisar os defeitos. Com o passar do tempo, começam a perceber que o rapaz não é exatamente como elas acreditavam que fosse, decepcionam-se, e aí começam os problemas.
Veja – Como evitar essa armadilha?
Behrendt – A primeira coisa a fazer é não se deixar cegar pelo entusiasmo. É preciso olhar para os homens de forma realista, aprendendo a enxergá-los e a aceitá-los do jeito que são. Muitas mulheres iniciam uma relação com a esperança de que o parceiro mude com o tempo. É um engano. O homem pode até fingir que mudou, apenas para conquistar a mulher, mas ninguém consegue esconder a verdadeira face por muito tempo.
Veja – Homens e mulheres têm expectativas diferentes com relação ao namoro?
Behrendt – Não acredito nisso. Os homens querem a mesma coisa que as mulheres. Eles também buscam uma parceira ideal e muitos querem se casar e ter filhos. A diferença é a ordem de prioridades nas necessidades de cada um. A maioria dos homens não gosta de conversar o tempo todo, mas adora fazer sexo a qualquer hora. Isso não significa que ele esteja desinteressado pela mulher. É apenas uma característica masculina. Muitas mulheres não entendem isso e entram em conflito com eles.
Veja – O solteiro convicto existe de verdade ou é uma desculpa que os homens encontraram para evitar relacionamentos duradouros?
Behrendt – Todos os solteiros convictos, um dia, vão se casar. Eles podem não admitir, mas, no fundo, também buscam a parceira ideal, com quem vão ficar por um longo tempo e ter filhos. Dizer que é solteiro convicto é uma forma eficiente que os homens encontraram de dispensar a namorada que não querem mais sem ter de dizer que ela não é a mulher da vida deles.
Veja – Os homens se queixam das mulheres quando conversam entre si?
Behrendt – Eles dizem não entender por que as mulheres implicam tanto com algumas de suas atitudes e com seu comportamento. A diferença é que as mulheres se queixam muito mais dos homens. Eles admitem que não entendem as mulheres, mas não estão muito preocupados com isso.
Veja – Seus dois livros se tornaram best-sellers logo após o lançamento. Qual o segredo do sucesso?
Behrendt – Depois do lançamento do meu primeiro livro, conversei com várias mulheres para saber o que elas tinham achado. Muitas se disseram chocadas, mas depois se sentiram fortalecidas porque tudo o que queriam era saber o que os homens realmente pensam.
Diogo Mainardi Um golpista sem farda
punido. Os lulistas sabem que o Tribunal
Superior Eleitoral acabará cassando o
mandato de Lula. É a lei. Se o golpe é legal,
a defesa da legalidade só pode ser golpista"
Estou aqui. Em Jacarepaguá. Rede Globo. Comendo bisnaguinhas com presunto e queijo. Quantas já comi? Seis? Sete?
Faltam duas horas para o debate eleitoral. Lula acaba de mandar uma mensagem à Rede Globo. A mensagem diz: "Não posso render-me à ação premeditada e articulada de alguns adversários que pretendiam transformar o debate desta noite em uma arena de grosserias e agressões". Foi só para isso que eu vim a Jacarepaguá. Para ver Lula na arena. Ele desistiu no último momento. Chegou a mandar sua lista de convidados. De todos eles, eu só queria ter visto sua secretária particular. A mulher de Oswaldo Bargas. Preciso parar de comer bisnaguinhas com presunto e queijo.
Entro no auditório. Quem é aquele? Gabriel Chalita? Fiz um artigo a respeito dele. Quem é aquele outro? Ricardo Noblat? Sei de uma história dele dos tempos da Propeg. Geraldo Alckmin está acenando para mim ou para a Paula? É para a Paula. Chegou o Tasso Jereissati. O irmão dele está me processando. Viu o cabelo do Alberto Goldman? Errou a tintura.
Começa o debate. Fala Cristovam Buarque. Fala Geraldo Alckmin. Fala Heloísa Helena. Réplica. Tréplica. Lula faz falta. O repórter na minha frente anota sem parar. Olho meus papéis. Só há uma anotação: Chiquinho 97626382. É o celular do motorista. No fim do primeiro bloco, telefono para o Chiquinho e volto correndo para casa.
Quero que Lula perca. Mas perder ou ganhar é igual. Se ele perder, tem de ser cassado. Se ele ganhar, tem de ser cassado. O comando da campanha eleitoral de Lula foi pego com dinheiro sujo. Quem é pego com dinheiro sujo deve ser punido. Os lulistas sabem que o Tribunal Superior Eleitoral acabará pedindo a cassação do mandato de Lula. É a lei. José Dirceu, Marco Aurélio Garcia, Ricardo Berzoini e Tarso Genro já declararam que aplicar a lei contra Lula é golpe. Tarso Genro alertou para o risco de um "golpe branco", um "golpe eleitoreiro", um "golpe jurídico", um "golpe brando". Na última quinta-feira, num artigo publicado no Globo, ele chegou até mesmo a chamá-lo de "golpe legal". Se o golpe é legal, a defesa da legalidade só pode ser golpista. E a defesa da ilegalidade só pode ser democrática. Depois de legitimar o roubo, o lulismo está conseguindo legitimar o golpe de Estado. Se é assim, eu sou golpista. Um golpista sem farda. Um golpista sem tanque. Um golpista sem bala.
O golpista Mainardi se entrincheira com seus leitores. Do outro lado da barricada, o lulismo. Falta-nos apenas um comando. Um general bigodudo e truculento. O segundo mandato de Lula será melhor do que o primeiro. Pelo menos para nós, golpistas. Um fato nós já sabemos com certeza: está rolando um bocado de dinheiro sujo na campanha eleitoral. Aquele mesmo dinheiro sujo que seria usado para comprar o depoimento fraudulento dos Vedoin. Procurando um pouquinho, no segundo mandato poderemos encalacrar um petista por semana.
O golpe dará certo.
André Petry Vem aí um massacre?
detonou o trambique do dossiê
preparado por dirigentes do PT. Ele
tem dito que está com medo. Medo
de sofrer aquela perseguição sórdida
que vitimou o caseiro. Medo"
Quando se sentiu acuado, o governo do PT caiu numa implacável perseguição contra o caseiro que ousou denunciar um ministro. A história é sabida: violaram seu sigilo bancário e lançaram uma campanha para desmoralizá-lo. Agora, só a vigilância da sociedade pode impedir que um massacre parecido aconteça com o procurador Mário Lúcio Avelar.
Avelar comanda a investigação que detonou o trambique do dossiê preparado por dirigentes do PT. Na semana passada, ainda teve a ousadia de pedir a prisão de seis petistas envolvidos no caso, entre eles o segurança e o churrasqueiro de Lula. Na quarta-feira, em entrevista à TV Record, o presidente, questionado sobre o impacto que as prisões teriam sobre sua campanha, mandou um recado assustadoramente explícito ao procurador. "Às vezes me pergunto se o estrago será para o candidato Lula ou para quem está pedindo as prisões dessas pessoas."
Já havia, àquela altura, uma operação de estrago em curso. A Polícia Federal, atolada nos mistérios da burocracia, só recebeu o pedido de prisão dos petistas na madrugada de terça-feira, quando a lei eleitoral já proibia prisões que não fossem em flagrante. Em vez de ficar na muda, a PF vazou os pedidos de prisão que não poderia cumprir. Fez um serviço duplo: alertou a companheirada para providenciar habeas corpus e fez parecer que o procurador era um palhaço, detalhe que não escapou ao presidente na entrevista. "A pessoa que pediu a prisão sabe que durante esses dias de eleição as pessoas não podem ser presas", disse Lula.
Mário Lúcio Avelar, 40 anos, é procurador há dez anos. Já prestou muito serviço relevante ao país. Comandou a operação que flagrou 1,3 milhão de reais em dinheiro vivo no bunker de Roseana Sarney, estilhaçando sua pretensão presidencial. Também comandou a investigação sobre o desfalque monumental da Sudam, que acabou colocando um par de algemas em Jader Barbalho – de quem, hoje, Lula beija a mão e ouve conselhos políticos. Coube ainda ao procurador implodir o esquema dos sanguessugas cujos desdobramentos o levaram à situação mais temerária de sua carreira: meter-se com o pessoal do PT.
Aos amigos, o procurador tem dito que está com medo. Medo de sofrer uma campanha de desmoralização. Medo daquela perseguição sórdida que vitimou o caseiro. Medo de vergar sob o peso do Leviatã inescrupuloso. Medo de ser atingido pela bala perdida da orgia sindical que os petistas promovem ao confundir partido e Estado. Medo.
Ele é solteiro, não tem filhos e trabalha catorze horas por dia. Concentrado no trabalho, esquece-se da vida pessoal. Nunca sabe onde estão suas chaves, a carteira, os documentos. Dá ordens a sua empregada doméstica, esquece o que disse e reclama de algo que não pediu. Sua penúltima empregada doméstica demitiu-se depois de uma semana de trabalho. A atual, que está com ele há um ano, já avisou que vai embora. Ela anda com medo de sair na rua na companhia do patrão. "Ele tem segurança, mas nunca se sabe, não é?", diz ela. "É que tem muita gente que não gosta do doutor Mário."
Santa sabedoria popular.
Roberto Pompeu de Toledo Nem dá para acreditar
interesse privado ocorreu em São Paulo
Um sinal de que nem tudo está perdido foi dado na semana passada em São Paulo com a aprovação de uma lei municipal que proíbe a propaganda nas ruas da cidade. Foi uma rara vitória do interesse público sobre o privado, da ordem sobre a desordem, da estética sobre a feiúra, da limpeza sobre a sujeira. Por uma vez na vida, tudo o que costuma vencer, no Brasil, perdeu. Quando o projeto de lei foi pela primeira vez apresentado pelo prefeito Gilberto Kassab, a experiência recomendava que todo ceticismo seria pouco. Era bom demais para ser verdade. Na semana passada, a Câmara Municipal, que goza de merecida má fama, e não é o foro de onde se esperaria maior resistência às forças do interesse privado, da desordem, da feiúra e da sujeira, votou surpreendentemente a favor, pelo esmagador placar de 45 votos a 1.
A lei proíbe outdoors, faixas, painéis eletrônicos, banners e qualquer outro tipo de publicidade nos espaços públicos, mesmo a afixada em táxis e ônibus e até em balões suspensos e helicópteros. Diante da dificuldade de entrar em minudências sobre o que é mais e o que é menos nocivo, o que poderia continuar e o que seria proibido, em que condições, em que locais e em que medida, a prefeitura acabou tomando a inspirada decisão de proibir tudo. Os responsáveis têm até o fim do ano para cumprir a lei. No futuro, de acordo com projeto ainda a ser elaborado, a publicidade será permitida apenas no chamado mobiliário urbano – pontos de ônibus, bancas de jornais, lixeiras, relógios e banheiros públicos.
Em outra frente de combate, a lei regulamenta as dimensões e a altura dos letreiros que identificam estabelecimentos comerciais. O McDonald's não poderá fincar o totem onde espeta o "M" que o identifica a mais de 5 metros de altura, o máximo permitido para esse tipo de suporte. Padarias e açougues, mas também lojas de grife e bancos, terão de adaptar-se à regra de que, para uma área de 10 metros de fachada, o tamanho máximo do letreiro deverá ser de 1,5 metro quadrado e, para uma área entre 10 e 100 metros de fachada, o máximo permitido será de 4 metros quadrados.
São Paulo é uma cidade que nasceu distante e desamparada. Foi a primeira cidade brasileira do interior e, por isso mesmo, durante a maior parte do período colonial, a menos contemplada, tanto pelo apoio quanto pela vigilância da metrópole. Quando despertou de seu longo sono e começou a crescer, na virada do século XIX para o XX, o fez de modo alucinado. Saltou de 65.000 habitantes, em 1890, para 240.000 em 1900 (aumento de 3,5 vezes em dez anos), 590.000 em 1920 e 1,3 milhão em 1940, para não falar nos números mais recentes. Tais circunstâncias fizeram dela o lugar ideal para o caos se instalar. Ele se instalou com gosto e volúpia. Na questão que é objeto da nova lei, São Paulo foi tão tomada de assalto pela poluição visual quanto as cidades indianas pelos mendigos e as chinesas pelas bicicletas. Se São Paulo tivesse uma Torre Eiffel, um anúncio luminoso seria pendurado na ponta. Se tivesse um Pão de Açúcar, cartazes lhe cobririam a encosta. Vá se querer enxergar uma cidade na barafunda de imagens de que foi revestida.
Forças poderosas mobilizaram-se contra a nova lei. Na linha de frente figuraram as empresas de publicidade e a Associação Comercial. Claro que se recorreu ao argumento, meio chantagista, tão comum quando interesses privados confrontam com o bem comum, da perda de empregos que representaria a desmobilização daquilo que nos meios especializados é conhecido como "mídia externa". Também o combate ao lenocínio ou ao narcotráfico representa ameaça a empregos. Num setor forte como o publicitário, quando um canal de expressão é fechado se abrem ou se alargam outros, o que significa que novos empregos acabam por substituir os antigos. A própria perspectiva apontada pela prefeitura, de concentrar a publicidade no mobiliário urbano, já cria a compensação de oferecer suportes publicitários que, por serem mais raros, e não estarem submetidos à concorrência selvagem característica da atual permissividade, despontam com um potencial de muito maior valor do que o dos meios atuais.
Não há só ganância, há também burrice na defesa do panorama que emporcalha a cidade. A brutal concorrência entre os diversos anúncios lhes rouba o efeito. Em certas ruas, em especial as de comércio popular, letreiros, placas, faixas, cartazes e bandeirolas encobrem uns aos outros. Argumentos como esses não apaziguaram os opositores da nova lei. Derrotados no lobby que exerceram durante o período de tramitação, eles se preparam agora para ações na Justiça. Também contam com a possibilidade de a Câmara vir a atenuar as proibições quando votar a prometida lei do mobiliário urbano. São indicações de que é cedo para festejar. Caso a nova lei venha a ser derrotada na Justiça, desfigurada pela tibieza da prefeitura ou da Câmara, ou fulminada pela síndrome tão brasileira das leis que "não pegam", será, depois das esperanças que despertou, sinal de que tudo está, sim, perdido.