sábado, setembro 30, 2006

Nova York quer proibir gordura trans

Golpe no transfatistão

Depois do fumo zero, os restaurantes
de Nova York estão sob ameaça
de derreter a gordura trans


Joel Raedle/Getty Images

Não parece, mas é: a Wendy's antecipou-se e mudou o óleo
Expulso para a rua, o cidadão traga culpadamente um cigarro sob o rigor das intempéries. Trancado em sua cozinha, delicia-se em segredo com biscoitos, sorvetes e outras comidas industrializadas. Esse pode ser o destino do morador de Nova York. Depois de proibir o cigarro em restaurantes, bares e afins, numa iniciativa que está sendo copiada no mundo inteiro, a prefeitura de Nova York avança mais um pouco no terreno das práticas saudáveis compulsórias: está estudando proibir o uso da gordura trans na confecção de alimentos em restaurantes. Notória entupidora de artérias, a gordura trans – trans fat, em inglês – é que garante a longevidade, a textura e o sabor viciante de muitos alimentos que não existem na natureza. Em sua conta debita-se também uma boa parte da culpa pela explosão da obesidade nos Estados Unidos, chamados jocosamente de Transfatistão quando a questão é a tremenda quantidade de comida engordativa em circulação no país. "A maior causa de mortes prematuras na nossa cidade são as doenças cardíacas. Não vamos mudar isso com uma varinha de condão. Mas remover as gorduras trans dos restaurantes pode reduzir significativamente os riscos à saúde de todos os nova-iorquinos", justificou Thomas Frieden, chefe do Departamento de Saúde, que está encaminhando o projeto. Donos de restaurantes ficaram horrorizados com a ameaça de patrulha alimentar. "Proibir o cigarro deu certo porque o fumo faz mal também a quem está perto do fumante. Mas, se uma pessoa resolver comer algo que ouviu dizer que não é saudável, isso é problema dela", vociferou, não sem certa dose de razão, Chuck Hunt, vice-presidente da Associação de Restaurantes do Estado de Nova York.

AFP

Orgia trans: biscoitos e sorvetes


O anteprojeto de lei dá prazo até julho de 2008 para que todos os 24.600 restaurantes, lanchonetes e bares da cidade eliminem do cardápio a gordura trans, presente em fermentos, margarinas e óleos de cozinha (tradução: donuts do Dunkin Donuts, batatinha do McDonald's, frango frito do KFC e mais uma infinidade de delícias condenadas). A multa aos infratores ficaria entre 200 e 2.000 dólares. A investida contra a gordura trans era anunciada desde que se estabeleceu que sua ingestão não deve ultrapassar 1% das calorias diárias, ou, numa dieta de 2.000 calorias, meros 2,2 gramas (uma porção de batatinhas tem três vezes mais). Fabricantes de algumas marcas favoritas dos apreciadores de petiscos pecaminosos como os biscoitos Oreo e os salgadinhos Doritos e Cheetos removeram, por conta própria, a trans de sua receita. Desde agosto que a rede de lanchonetes Wendy's usa nova marca de óleo em suas frituras, sem trans. O próprio McDonald's está buscando alternativas para a gordura trans em suas lanchonetes. Por mais que os estabelecimentos achem a proibição absurda, a tendência das grandes redes é mesmo se conformar. Sem fumar, sem comer bobagem, restará ao consumidor transgressor dos modos saudáveis a liberdade de beber. Por enquanto.