sábado, setembro 30, 2006

Análise genética no combate ao câncer de mama

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Rumo ao tratamento individual

Teste de análise genética indica as pacientes com câncer de mama com maiores chances de se beneficiar da quimioterapia


Giuliana Bergamo

Montagem sobre foto de Tom Grill/Getty Images

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A grande meta no combate ao câncer de mama é a individualização do tratamento. Isso porque duas mulheres com características semelhantes e vítimas de tumores parecidos podem responder de formas distintas a um mesmo procedimento. Nos últimos dois anos, a medicina avançou a passos largos nesse sentido. Uma das conquistas mais notáveis foi a criação de testes capazes de, por intermédio do mapeamento genético de um tumor, determinar com bastante precisão o grau de agressividade e a probabilidade de recorrência da doença. Pois bem, pesquisadores da Universidade Brown, nos Estados Unidos, foram além. Em encontro da Associação Americana para Pesquisa do Câncer, realizado recentemente em Chicago, eles comprovaram a eficácia de um novo método para selecionar as pacientes que mais se beneficiariam da quimioterapia. "Esse tipo de investigação promete revolucionar o tratamento do câncer de mama", diz o oncologista Sergio Simon, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. "Com a análise da genética do tumor, é possível criar terapias muito mais personalizadas do que as que fazemos hoje."

No Brasil, 80% das vítimas de câncer de mama são submetidas à quimioterapia. Quando efetuado depois da remoção cirúrgica do tumor, o tratamento tem por objetivo eliminar qualquer vestígio da doença que porventura tenha escapado ao bisturi. A quimioterapia também costuma ser usada para reduzir o tamanho do câncer antes de a paciente ir para a mesa de operação. Em relação ao passado, o tratamento quimioterápico é mais eficiente e oferece menos efeitos colaterais. Mesmo assim, ele impinge às doentes uma rotina penosa – enjôos, queda de cabelo, depressão, anemia, entre outros. "Estima-se que metade das pacientes é submetida desnecessariamente à quimioterapia", diz o médico Simon. Tradicionalmente, uma mulher é encaminhada à quimioterapia quando o câncer está em estágios mais avançados. O problema é que há tumores que, apesar de pequenos, são extremamente agressivos. E há os tumores que, apesar de maiores, oferecem um risco remoto de recidiva. Só a análise detalhada da genética do câncer é capaz de determinar como o tumor se comportará durante o tratamento e depois dele.

Foi isso que os pesquisadores da Universidade Brown fizeram. Com uma técnica de leitura dos genes conhecida como microarray, eles analisaram amostras de tumor de 2.380 mulheres – 717 das quais submetidas à quimioterapia. Dessa forma, os pesquisadores conseguiram acompanhar de perto a produção de duas proteínas envolvidas no processo de crescimento do tumor – a (PY)-Shc e a p66 Shc. A primeira é responsável pela multiplicação das células cancerosas. A outra tem a função de conter esse avanço. O grupo das pacientes que apresentavam níveis reduzidos de p66 e que não receberam quimioterapia registrou as maiores taxas de recidiva – ou seja, a doença voltou depois da extração cirúrgica do tumor. Entre as mulheres que foram encaminhadas à quimioterapia, o perigo de recorrência do câncer foi reduzido à metade, apesar da baixa concentração da proteína. Por outro lado, as pacientes que registravam uma produção elevada de p66 foram as que tiveram o melhor prognóstico, mesmo sem a quimioterapia pós-operatória.

Outra boa notícia na luta contra o câncer de mama foi publicada na semana passada na revista científica Nature Cell Biology. Médicos da Universidade do Texas, também nos Estados Unidos, desvendaram os mecanismos pelos quais o hormônio estrógeno alimenta o câncer de mama. Já se sabia que, em 75% dos casos da doença, esse hormônio serve de combustível para o desenvolvimento do tumor. Faltava, no entanto, identificar os genes, as proteínas e as enzimas envolvidos nesse processo. "A descoberta pode contribuir para a criação de remédios mais eficazes no controle da ação do estrógeno e com menos reações adversas", diz o mastologista Antonio Frasson, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Essas novidades vêm se somar a uma série de progressos conquistados sobretudo ao longo dos últimos vinte anos (veja quadro abaixo). Com máquinas mais sensíveis para a detecção da doença, medicamentos mais eficazes e cirurgias menos invasivas, o diagnóstico de câncer de mama já não representa necessariamente uma sentença de morte. Desde os anos 80, a taxa de mortalidade da doença caiu 40% nos grandes centros de tratamento no Brasil. Até o fim do ano, 50.000 mulheres devem receber a notícia de que têm tumores mamários. De cada quatro delas, três sobreviverão ao câncer.