sábado, setembro 30, 2006

VEJA ENTREVISTA Greg Behrendt

Elas sofrem demais

O escritor que explica o comportamento
masculino às mulheres diz que elas não devem
levar tão a sério as desilusões amorosas


Rosana Zakabi




Como consultor do seriado Sex and the City, um dos maiores sucessos da TV nos últimos tempos, o roteirista americano Greg Behrendt tinha como missão construir os personagens masculinos da trama. Em seu trabalho, acabou descobrindo que o modo de agir dos homens, principalmente no que diz respeito às relações amorosas, é ainda um mistério para a maioria das mulheres. Terminadas as filmagens da série, ainda hoje exibida na TV brasileira, Behrendt decidiu usar a experiência para escrever um livro destinado a esclarecer o público feminino sobre o que pensam os homens. Ele Simplesmente Não Está a Fim de Você, lançado em 2004 no Estados Unidos, tornou-se um best-seller com mais de 2 milhões de cópias vendidas. O sucesso se repetiu no Brasil. O novo livro de Behrendt, Termina Quando Acaba, será lançado no mercado brasileiro em dezembro. O autor admite que muitas de suas descrições do comportamento masculino soam chocantes para as mulheres. "Mas, depois, elas se sentem fortalecidas por conhecer a verdade", ele diz. De Los Angeles, onde mora com a mulher e duas filhas, Behrendt, de 43 anos, falou a VEJA.

Veja – Seu novo livro, Termina Quando Acaba, ensina às mulheres como enfrentar o fim dos relacionamentos amorosos. Por que elas precisam desse tipo de conselho?
Behrendt – Durante meu trabalho como consultor da série Sex and the City, recebia muitos e-mails de telespectadoras com queixas sobre os homens e pedidos de orientação no terreno amoroso. Notei que é muito comum as mulheres não perceberem que o parceiro não quer mais nada com elas após o fim de uma relação. Elas simplesmente não aceitam esse fato da vida. Tem até mulher que encontra as desculpas mais mirabolantes para continuar acreditando que um dia, de uma hora para outra, o bem-amado vai perceber que ela era o amor de sua vida e vai voltar correndo para seus braços.

Veja – Isso não acontece com os homens?
Behrendt – Os homens, em geral, encontram outras maneiras de lidar com o rompimento. Isolam-se em casa, na frente da TV, desafogam as mágoas praticando esportes, ficam bêbados. E nunca lêem livros com conselhos sobre como enfrentar o fim de um relacionamento... De qualquer forma, as dicas de meu livro também podem valer para eles.

Veja – As mulheres sofrem mais que os homens ao levar um fora do parceiro?
Behrendt – Em linhas gerais, sim. Os homens costumam lidar com essa situação de forma mais tranqüila porque, na maioria das vezes, não encaram o fim do namoro como a coisa mais relevante da vida naquele momento. As mulheres agem de maneira oposta. Elas pensam no rompimento 24 horas, falam sobre o assunto repetidas vezes com as amigas, analisam o caso sob vários aspectos: por que aconteceu, por que naufragou, se teria dado certo se ela tivesse agido de forma diferente. Enquanto a mulher fica tentando descobrir o que deu errado, o homem já está convidando outra garota para sair.

Veja – Qual é a melhor maneira de se recuperar após levar um fora?
Behrendt – Primeiro, não é recomendável encontrar o ex-parceiro nos primeiros dois meses após o fim da relação. É o melhor caminho para assimilar o que aconteceu de forma serena. Em segundo lugar, nunca, em hipótese alguma, se deve telefonar ao ex. É impressionante como algumas mulheres encontram qualquer pretexto para ligar logo após o fim do relacionamento. Uma parcela delas contesta esse meu conselho alegando: "Mas, Greg, ele me pediu para ligar". Elas não entendem que os homens dizem isso apenas para diminuir a culpa que sentem por terminar a relação.

Veja – Quais as principais queixas das mulheres com relação aos homens?
Behrendt – Elas dizem não entender por que as palavras e as ações dos homens se contradizem, por que eles dizem uma coisa e fazem outra completamente diferente. Não telefonam quando dizem que vão telefonar ou as tratam como rainha durante um encontro e depois nunca mais voltam a procurá-las.

Veja – E por que os homens agem dessa maneira?
Behrendt – Os homens são mais simples do que as mulheres imaginam. Para eles, nos relacionamentos amorosos só existem duas possibilidades: ou estão interessados na mulher e investem em sua conquista e na manutenção do namoro ou simplesmente não estão a fim dela. Só que nunca têm coragem de admitir sua falta de interesse. O que os homens mais temem é ver uma mulher chorando ou fazendo escândalo na sua frente. É por isso que eles muitas vezes somem depois do primeiro encontro sem dar satisfação.

Veja – Quais são as principais desculpas que os homens usam quando querem dispensar as mulheres?
Behrendt – Recebo vários e-mails de mulheres pedindo conselhos sobre como agir com o sujeito que as dispensou. Elas relatam que o ex-parceiro está traumatizado ou que não consegue conciliar o excesso de trabalho com a vida pessoal. Há ainda os que namoraram por um longo tempo e, para justificar por que não querem se casar com a parceira, dizem que são contra o casamento. É tudo balela. Não há trauma ou trabalho em excesso que impeça um homem de assumir um relacionamento sério com uma mulher. Se ele realmente está interessado nela, não vai querer perdê-la.

Veja – Qual é a maior mentira que os homens costumam dizer às mulheres no fim da relação?
Behrendt – A maior mentira que eles falam é "O problema não é você, sou eu", quando a verdade seria: "O problema da nossa relação é você, porque eu simplesmente não estou a fim de continuar o namoro". É algo que todos os homens pensam, mas nunca têm coragem de dizer.

Veja – O senhor já usou alguma dessas desculpas para dispensar uma garota?
Behrendt – Claro que sim! Já evitei atender ligações de mulheres nas quais não estava interessado ou me tornei extremamente ocupado de uma hora para outra só para não sair com elas. Já ouvi várias vezes outros homens dizer que não é preciso terminar uma relação, basta inventar uma desculpa toda vez que elas quiserem sair com eles.

Veja – Qual a melhor forma de terminar um namoro?
Behrendt – Primeiro, deve-se terminar assim que se tem certeza de que a relação não funciona mais. Muita gente demora meses para criar coragem e romper o relacionamento. Isso é um desperdício do próprio tempo e também do tempo do companheiro. É uma atitude egoísta. Já contaminar a relação até forçar o outro a rompê-la é uma crueldade. Além disso, é preciso tomar cuidado com as palavras. Se a pessoa que está rompendo a relação diz "Vamos manter contato", ou procura o ex-parceiro para saber se ele está bem e, dessa forma, aliviar a própria consciência, a outra pessoa pode entender que existe alguma possibilidade de reatar o relacionamento no futuro. Por fim, não se deve aproveitar o rompimento para lavar a roupa suja, enumerando tudo o que deu errado no namoro. Deve-se permitir que o ex-parceiro mantenha sua dignidade.

Veja – Em seu primeiro livro, Ele Simplesmente Não Está a Fim de Você, o senhor afirma que cabe aos homens convidar as mulheres para sair, e não o contrário. Essa não é uma posição machista?
Behrendt – Depende do que a mulher espera do homem. Se ela quer apenas diversão e sexo casual, não há problema algum em telefonar para ele e convidá-lo para um encontro. A maioria dos homens adora esse tipo de convite. Mas isso não significa que o sujeito esteja a fim de namorá-la, de se tornar seu parceiro durante um tempo. Se ela está interessada num relacionamento mais sério e tem a mesma expectativa com relação ao pretendente, é melhor esperar que o telefonema parta dele. Porque, se o homem realmente estiver interessado na mulher, ele vai ligar. Se tiver perdido o número do telefone, dará um jeito de descobri-lo. Se não ligou, é porque não está a fim dela. Então, é melhor partir para outra relação.

Veja – Ao conhecer sua mulher, Amiira, foi o senhor que a chamou para sair?
Behrendt – Sem dúvida. Quando eu a vi pela primeira vez, percebi que era com ela que queria passar o resto da minha vida. No início, ela não se mostrou tão interessada e, então, tive de batalhar para conquistá-la, insistir muito para ela ficar comigo. Valeu a pena. Estamos juntos há oito anos e casados há seis.

Veja – Qual é o maior erro que as mulheres cometem ao tentar conquistar um homem?
Behrendt – Hoje, o grande problema é que elas ficaram disponíveis demais. Está muito fácil levar uma mulher para a cama, não existe mais o desafio da conquista. E, se fica muito fácil, perde a graça.

Veja – Por esse raciocínio, se a mulher vai para a cama com o homem logo no primeiro encontro, ele não vai querer nada sério com ela?
Behrendt – Claro que existem exceções, mas, nessa situação, a tendência é o parceiro perder o interesse por ela após um ou dois encontros. O que instiga o homem é o mistério, o poder de sedução que uma mulher exerce sobre ele. Os homens gostam de batalhar pelo que desejam, sentir o prazer da vitória por ter conquistado o que tanto queriam. Se a mulher concorda com o sexo logo no primeiro encontro, o homem vai pensar: "Bem, e aí? O que vem agora?" A sedução é crucial no jogo da conquista, e as mulheres estão se esquecendo disso.

Veja – É verdade que os homens preferem se relacionar com mulheres menos inteligentes e menos bem-sucedidas que eles para não criar um clima de competição?
Behrendt – Isso é puro mito. Os homens buscam mulheres que os desafiem, façam com que pensem e vejam o mundo de maneira diferente. Eles admiram mulheres que têm opinião própria e personalidade marcante. É por esse tipo de mulher que os homens tendem a se apaixonar.

Veja – Por que tantas mulheres inteligentes e bem-sucedidas se envolvem com os homens errados?
Behrendt – As mulheres tendem a enxergar o parceiro da forma como gostariam que ele fosse, e não como ele é de fato. Elas ainda são criadas para acreditar no príncipe encantado. Assim que conhecem um rapaz, muitas garotas tendem a achar que ele seria o marido perfeito e um pai excelente para seus filhos. Concentram-se apenas em suas qualidades – e algumas dessas qualidades existem somente na cabeça delas – e se esquecem de analisar os defeitos. Com o passar do tempo, começam a perceber que o rapaz não é exatamente como elas acreditavam que fosse, decepcionam-se, e aí começam os problemas.

Veja – Como evitar essa armadilha?
Behrendt – A primeira coisa a fazer é não se deixar cegar pelo entusiasmo. É preciso olhar para os homens de forma realista, aprendendo a enxergá-los e a aceitá-los do jeito que são. Muitas mulheres iniciam uma relação com a esperança de que o parceiro mude com o tempo. É um engano. O homem pode até fingir que mudou, apenas para conquistar a mulher, mas ninguém consegue esconder a verdadeira face por muito tempo.

Veja – Homens e mulheres têm expectativas diferentes com relação ao namoro?
Behrendt – Não acredito nisso. Os homens querem a mesma coisa que as mulheres. Eles também buscam uma parceira ideal e muitos querem se casar e ter filhos. A diferença é a ordem de prioridades nas necessidades de cada um. A maioria dos homens não gosta de conversar o tempo todo, mas adora fazer sexo a qualquer hora. Isso não significa que ele esteja desinteressado pela mulher. É apenas uma característica masculina. Muitas mulheres não entendem isso e entram em conflito com eles.

Veja – O solteiro convicto existe de verdade ou é uma desculpa que os homens encontraram para evitar relacionamentos duradouros?
Behrendt – Todos os solteiros convictos, um dia, vão se casar. Eles podem não admitir, mas, no fundo, também buscam a parceira ideal, com quem vão ficar por um longo tempo e ter filhos. Dizer que é solteiro convicto é uma forma eficiente que os homens encontraram de dispensar a namorada que não querem mais sem ter de dizer que ela não é a mulher da vida deles.

Veja – Os homens se queixam das mulheres quando conversam entre si?
Behrendt – Eles dizem não entender por que as mulheres implicam tanto com algumas de suas atitudes e com seu comportamento. A diferença é que as mulheres se queixam muito mais dos homens. Eles admitem que não entendem as mulheres, mas não estão muito preocupados com isso.

Veja – Seus dois livros se tornaram best-sellers logo após o lançamento. Qual o segredo do sucesso?
Behrendt – Depois do lançamento do meu primeiro livro, conversei com várias mulheres para saber o que elas tinham achado. Muitas se disseram chocadas, mas depois se sentiram fortalecidas porque tudo o que queriam era saber o que os homens realmente pensam.