SÃO PAULO - Posso estar enganado, porque, primeiro, memória é sempre traiçoeira e, segundo, não há um metro confiável para fazer comparações em tais casos.
Feita essa fundamental ressalva, ouso dizer que jamais houve, na história da República, uma chuva de acusações e adjetivações tão contundentes contra um governante ainda no exercício de suas funções como aconteceu anteontem durante o debate promovido pela Globo. Aliás, o estúdio em que foi realizado o debate é também aquele em que é gravado o programa "Zorra Total".
Foi mais ou menos isso o que aconteceu: uma zorra total em cima de Lula, o ausente.
Não faltou menção a um único dos incontáveis escândalos do lulo-petismo, assim como não faltou a caracterização de "organização criminosa" ao mesmo grupo, lançada pela senadora Heloísa Helena. Na verdade, a expressão é originalmente do procurador-geral da República, nomeado por Lula.
Claro que o lulo-petismo poderá dizer que se trata de conspiração da mídia, das elites, de golpismo, de reação da "direita". Mas tal reação não teria parentesco nem remoto com a realidade, como costuma ocorrer, aliás, com o lulo-petismo.
A mídia não participou do debate, salvo para convidar os debatedores, Lula incluído. Heloísa Helena e Cristovam Buarque são, ambos, originários do PT, do qual saíram faz apenas três anos.
Só um delirante colocaria ambos no campo da "direita". Aliás, não faz muito, quem colocou Lula na direita foi o banqueiro Olavo Setúbal ao dizer que tanto o presidente como seu principal adversário, Geraldo Alckmin, são "conservadores".
A propósito, Alckmin foi o menos agressivo dos debatedores.
O último ato do processo eleitoral acabou servindo, acima de tudo, para confirmar que o governo Lula criou um pântano político talvez inédito.