Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, maio 23, 2006

Um aviso



EDITORIAL
O Globo
23/5/2006

O dia de ontem nos mercados mundiais foi mais um de turbulência — ou volatilidade, segundo o jargão do ramo — desde o início do mês, quando o Banco Central americano, o Fed, aumentou os juros e, em seguida, a inflação americana emitiu sinais de resistir à terapia de uma política monetária mais dura, aplicada já há algum tempo. A persistência dos aumentos de preços leva à inevitável previsão de que o Fed elevará mais uma vez a taxa básica, hoje em 5% anuais. Assim, está em curso um enorme movimento de troca de ativos no mercado global, porque os aplicadores internacionais passaram a ter a perspectiva de conseguir melhor retorno com o investimento mais seguro do mundo, os títulos do Tesouro americano.

Esse movimento já foi visto várias vezes no passado. A diferença, para o Brasil, é que o país se encontra numa posição menos vulnerável às tais volatilidades. O que não significa que precauções possam ser deixadas de lado. Pois a tendência de os grandes fluxos financeiros mundiais apostarem menos no bloco de países emergentes não deixa de afetar o Brasil. O dólar ontem encostou em R$ 2,30 e a Bolsa, como sempre, acompanhou o mercado acionário mundial, e caiu 3,2%. Na Índia, o pregão chegou a ser suspenso depois de um retrocesso de 10%. Com reservas elevadas, praticamente no valor da dívida externa pública, o Brasil é muito diferente daquele das eleições presidenciais anteriores. A própria eleição é diferente, com o candidato até agora favorito, o presidente Lula, tendo demonstrado ser responsável na economia quando ele quer.

Esta é a questão-chave. Nos últimos meses, desde o início da perda de peso político do ministro Antonio Palocci, o Planalto demonstra menos fidelidade do que é desejável aos princípios da responsabilidade fiscal e monetária.

Até mesmo a meta do superávit primário de 4,25% do PIB passou a ser relativizada na equipe econômica. O atual nervosismo no mercado globalizado é um aviso a Brasília. Se, neste momento, houver alguma desconfiança quanto à política fiscal e monetária brasileira, aconselha-se seguir o conselho dado por um editorial do "Financial Times" publicado na semana passada sobre a volatilidade globalizada: "apertem os cintos".

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