Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, maio 24, 2006

O Brasil tem blindagem anticrise?



editorial
O Estado de S. Paulo
24/5/2006

Ao comentar as perturbações no mercado financeiro internacional, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, declarou que o Brasil está equipado para enfrentá-las sem sobressalto. Declarações do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foram no mesmo sentido.

Falar que não há perigo é bem mais fácil, no entanto, do que evitar os efeitos de uma crise no mercado internacional, que se propagam como bolas-de-neve, de maneira imprevisível, como mostra o histórico desses acontecimentos nos anos recentes. É incontestável a melhora da situação brasileira sob dois aspectos importantes: a forte redução da taxa de inflação e a obtenção de um superávit em conta corrente do balanço de pagamentos com origem no superávit da balança comercial. A economia brasileira apresenta, porém, dois pontos altamente vulneráveis ainda: uma dívida mobiliária interna elevada e um crescimento medíocre do PIB, origem do desemprego.

Uma nova crise poderia abalar os pontos fortes da conjuntura brasileira atual e agravar o seu lado vulnerável. Pode, por exemplo, desencadear um forte aumento da taxa de juros, que aumentaria o custo e o volume da dívida, além de tornar mais difícil seu alongamento e a captação de poupança externa. Cumpre lembrar que, nos últimos meses, mais de 30% da colocação de papéis da dívida interna foi feita no mercado externo e graças aos investidores estrangeiros foi possível aumentar o prazo da dívida, em certos casos em até 30 anos.

A boa situação do balanço de pagamentos tem origem, basicamente, no aumento excepcional dos preços das commodities e no crescimento incomum da liquidez internacional. Uma crise mais prolongada no mercado internacional produziria um forte recuo do preço das commodities, uma queda nas exportações de vários produtos e um aumento dos preços das importações, além de dificuldades para rolar a dívida externa e colocar papéis no exterior. Foi pensando nesses riscos que o FMI considerou que as reservas internacionais do Brasil eram insuficientes.

A inflação, levando em conta a análise anterior, pode ter um recrudescimento por causa do aumento do custo do crédito, caso o acesso ao mercado internacional ou às Bolsas se torne mais difícil e desapareça o papel, até agora positivo, do câmbio na contenção dos preços. E há ainda o perigo de o Comitê de Política Monetária, em função da situação externa, optar por nova fase de alta dos juros.

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