O Estado de S. Paulo |
24/5/2006 |
Há anos os sismólogos prevêem que pelo menos dois enormes terremotos estão para acontecer, sem prévio aviso: o de Tóquio e o da Califórnia. Quando acontecerem, produzirão enorme destruição. Nem por isso a população de Tóquio, Los Angeles, São Francisco e adjacências perde o sono. Acostumada a temer pela catástrofe sempre adiada, vai levando a vida. Algo parecido se passa com a economia americana. Ela está assentada sobre impressionantes desequilíbrios. São placas tectônicas há anos em rota de colisão. Os macroeconomistas têm como inevitáveis gigantescos movimentos que, mais dia menos dia, produzirão realinhamentos nas entranhas econômicas. Os sismólogos não sabem quando acontecerão os tais big ones, mas sabem, ao menos, que deverão produzir desastres. Os economistas sabem menos. Não têm idéia de quando virá a crise nem de suas proporções. Poderá não passar de acomodação; poderá transformar-se em grande depressão. Depois de cinco dias úteis tensos, ontem, os mercados financeiros operaram com menos taquicardia. Ao redor do mundo, as bolsas ensaiaram recuperação e o dólar voltou a desvalorizar-se diante das moedas fortes. Ao final do dia, os sinais voltaram a inverter-se e a fuga de risco se acentuou, mas sem a tensão dos dias anteriores. A mola que mantém a economia americana (e do resto do mundo) em movimento funciona com pelo menos três pressupostos que, em princípio, têm seus dias contados: exige que o consumidor americano mantenha seu atual ritmo de compras, que já é mais alto do que comporta seu poder aquisitivo (a poupança nacional vem sendo negativa); que o ritmo da economia mundial não se afrouxe; e que o governo de Pequim continue disposto a financiar o consumo americano por meio da compra de títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Os Estados Unidos importam US$ 700 bilhões por ano a mais do que exportam. Para que isso aconteça, outros exportam mais do que importam: é déficit de um lado e superávit de outro. As contas só fecham porque os asiáticos se encarregam de reinjetar os dólares dessas sobras nos Estados Unidos, por meio da compra de ativos (títulos, ações e investimentos). Só a China vem amontoando reservas ao ritmo de US$ 20 bilhões por mês. Em março, tinham US$ 875 bilhões. Provavelmente já em setembro terão ultrapassado US$ 1 trilhão. Dia chegará em que a economia americana perderá condições de continuar endividando-se dessa maneira; e aquele em que a China se sentirá engolfada pela montanha de reservas. Os economistas poderão avaliar melhor a proximidade do dia do ajuste se a inflação engrossar. Será o sinal de que as placas tectônicas da economia terão acumulado muita pressão. Um diagnóstico mais preciso está sendo dificultado pelo largo emprego da Tecnologia da Informação, que derruba custos e camufla inflação. Pergunta que vale bilhões de dólares consiste em saber até quando a China conseguirá crescer a 10% ao ano, sem detonar ainda mais os preços das matérias-primas. Na falta de indicações mais seguras, os mercados têm de operar no escuro. Por isso, vão fazendo suas apostas. A mais comum é a de que o ajuste será suave ou, então, que, se houver um cataclismo, não será para já. Mas são todos aves assustadas, prontas para levantar vôo para poleiros seguros ao menor estalido suspeito. É o que explica tanto nervosismo e as súbitas corridas para investimentos sem risco. Até o próximo estalido. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, maio 24, 2006
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