FOLHA - 25/02/12
Falando no Michigan, ele ouviu uma pergunta sobre redução do deficit e
disse algo inteiramente razoável
DE ACORDO com Michael Kinsley, uma gafe é o que acontece quando um
político acidentalmente fala a verdade. Foi sem dúvida o que aconteceu
com Mitt Romney na terça, quando, em um momento de franqueza ele
acabou por se entregar.
Falando no Michigan, Romney ouviu uma pergunta sobre redução do
deficit e disse em resposta algo inteiramente razoável: "Se você
apenas cortar, se você pensar unicamente em reduzir gastos, à medida
que reduzir os gastos você vai desacelerar a economia".
Como se poderia prever, a polícia ideológica da direita ficou
horrorizada; o Clube para o Crescimento imediatamente denunciou a
declaração, dizendo que ela mostra que Romney não é "um conservador
que defende o governo limitado".
E um porta-voz de Romney tentou retirar o que o pré-candidato havia
dito, afirmando: "O que o governador quis dizer foi que apenas cortar
o Orçamento, sem políticas afirmativas em prol do crescimento, é
insuficiente para imprimir uma virada na economia".
Sabemos com quem Romney vai buscar conselhos econômicos; lideram a
lista Glenn Hubbard, da Universidade Columbia, e N. Gregory Mankiw, de
Harvard. Embora eles sejam partidários republicanos leais, ambos
também possuem longos históricos como economistas profissionais. E o
que esses históricos profissionais deles sugerem é que nenhum dos dois
acredita em nenhuma das proposições que viraram provas decisivas para
os pré-candidatos republicanos.
Considere-se o caso de Mankiw, em especial. Os republicanos modernos
detestam Keynes; Mankiw é editor de uma coletânea de artigos
intitulada "New Keynesian Economics". Numa das primeiras edições de
seu livro didático, que é um best-seller, ele descreveu a economia
baseada no estímulo à oferta -a doutrina à qual aderiu o endeusado
Ronald Reagan- como sendo a criação de "excêntricos e charlatães". E,
em 2009, ele pediu por inflação mais alta como solução para a crise,
posição que é terminantemente rejeitada por republicanos como Paul
Ryan, presidente do Comitê de Orçamento da Câmara.
Em vista de seus assessores, portanto, parece seguro supor que aquilo
que Romney falou sem querer reflita suas ideias econômicas reais.
Então será que aqueles que não compartilham as crenças da direita
deveriam sentir-se reconfortados com as evidências de que Romney não
acredita em nada que anda dizendo? Em especial, deveríamos presumir
que, uma vez eleito, ele adotaria políticas econômicas sensatas?
Lamentavelmente, não.
Pois o cinismo e a falta de coragem moral que têm estado tão evidentes
na campanha não desapareceriam assim que Romney pusesse os pés na Casa
Branca. Se ele não ousa discordar das bobagens econômicas agora, por
que imaginar que se disporia a contestá-las no futuro? E vale lembrar
que, se for eleito, ele será observado estreitamente, em busca de
sinais de qualquer apostasia, pelas próprias pessoas que agora se
esforça para agradar.