HÁ UM CERTO terrorismo no ar, enfatizado principalmente por analistas financeiros. Enfrentamos mesmo alguns problemas preocupantes: 1º) apesar da boa situação interna, somos parte do mundo, e não é razoável imaginar que estejamos blindados contra as conseqüências de uma eventual falência geral; 2º) no último trimestre de 2007, tivemos (como em todos os países) um aumento dos preços relativos dos produtos agrícolas; 3º) o governo não conseguiu demonstrar seu teorema em matéria de oferta de energia, e ainda há sérias incertezas sobre 2009; 4º) há, aqui e ali, sinais de escassez, que não pode ser resolvida pela importação e, 5º) se a economia mundial entrar em recessão, é provável que a taxa cambial sofra alguma depreciação, com efeito sobre a inflação. Para os financistas, essa complexa situação interna tem uma única causa: a insistência no "crescimento irresponsável da demanda interna". Isso facilita o diagnóstico dos alquimistas, que habilmente transformaram com sua "varinha" de "credibilidade" (e conivência das famosas agências de análise de risco) papéis "podres" em recomendáveis AAA. A salvação estaria no "óleo de cobra", eficaz para a cura de qualquer mal, de unha encravada a câncer linfático. Enquanto o mundo, preocupado com o nível de emprego, reduz a sua taxa de juros, devemos aumentar a nossa! E aumentá-la já, preventivamente, antes que por alguma desgraça a inflação melhore... A lista das dificuldades tem algum fundamento, mas sua radicalização não. Os bancos centrais não controlaram os "aperfeiçoamentos" do sistema financeiro que construíram a fantástica pirâmide de papéis que hoje nos esmaga. Agora tentam queimá-la lentamente, sem solavancos, com a ajuda da política fiscal expansionista. A probabilidade de recessão nos EUA está crescendo, mas tudo indica que a solução será menos flutuação do PIB e maior inflação "salvadora" (da dívida pública e dos devedores). Já não se fazem mais Paul Volckers... O problema da oferta de energia no Brasil será acomodado com algum aumento de preço, com maior cooperação entre o setor privado e o governo, que deve levar a sério um programa de racionalização do consumo. O fato de haver escassez de produtos em setores que não podem ser supridos pela importação é apenas um estímulo ao investimento, desde que não se aborte a demanda futura. O salário real tem crescido sem pressionar os custos devido ao aumento da produtividade, o que inibe a transformação de preços relativos em inflação. Com relação a esta, se há alguma coisa que aprendemos é que ela depende fundamentalmente das "expectativas", que estão até agora bem ancoradas. Todo esforço terrorista é para tentar levantar esta âncora...
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