terça-feira, janeiro 01, 2008

As boas previsões do BC

O Estado de S. Paulo EDITORIAL,


O otimismo é a grande marca das previsões do Banco Central (BC) para a economia brasileira, apesar das expectativas de maiores pressões inflacionárias e de uma expansão relativamente modesta da exportação. Os técnicos do banco elevaram de 4,7% para 5,2% a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2007 e mantiveram em 4,5% a expansão prevista para 2008 - avaliações divulgadas no último Relatório de Inflação.

Para o setor industrial, a previsão para 2008 é de um crescimento de 4,8%, igual ao estimado para 2007. O melhor desempenho será o da indústria de extração mineral, com expansão estimada de 8,1%. O segundo melhor será o da construção civil, 5,6%, e a indústria de transformação ficará com 4,2%, resultado inferior ao calculado para este ano, 5,2%, mas não desprezível. A importação continuará a ter um papel considerável no atendimento do consumo de bens manufaturados.

Pelo terceiro ano consecutivo, o aumento da produção, segundo as projeções, será puxado pela demanda interna, sustentada tanto pelo consumo quanto pelo investimento em máquinas, equipamentos e instalações. A expansão do investimento, estimada em 10,4%, é condição indispensável para um crescimento econômico prolongado, sem gargalos importantes e sem grandes tensões inflacionárias.

Pelo menos quanto a esta última condição, os economistas do BC mostram-se mais confiantes do que até há pouco tempo. O relatório contém uma seção especialmente importante sobre fatores limitativos do aumento da produção. Os dados provêm principalmente de respostas de executivos de empresas, coletadas em recentes pesquisas.

Segundo os próprios industriais, a demanda interna deixou de ser uma barreira à elevação de sua atividade. Com a economia mais aquecida, aumentou a ocupação da capacidade instalada, até o recorde, registrado em novembro, de 87,2% - o nível mais alto da série iniciada em 1995 pela Fundação Getúlio Vargas. Esse dado poderia acender uma luz amarela, mas a análise apresentada no relatório do BC chama a atenção para o rápido crescimento da oferta de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos.

De janeiro a outubro, segundo o IBGE, a produção de bens de capital foi 18,8% maior que a de um ano antes. A diferença na comparação com igual período do ano anterior tem sido crescente: era de 17% até julho e aumentou de forma consistente nos meses seguintes. Como a fabricação de bens de capital vem aumentando bem mais velozmente que a média da produção industrial, pode-se olhar com um pouco menos de preocupação o elevado nível de utilização da capacidade instalada.

Os economistas do BC prevêem a repetição, em 2008, de uma importante característica do crescimento econômico deste ano: a expansão industrial generalizada tanto em setores quanto em regiões. No terceiro trimestre, 18 das 27 atividades cobertas pela pesquisa do IBGE apresentaram expansão.

No cenário básico, o consumo das famílias deverá crescer 5,9% em 2008, sustentado, como neste ano, pela expansão do emprego, pelo aumento dos ganhos dos trabalhadores e pela continuada ampliação do crédito. O consumo total, incluído o do governo, deverá aumentar 5,4% e será o principal motor do crescimento econômico.

A contribuição final do setor externo será negativa, segundo as projeções, porque o aumento das exportações de bens e serviços, estimado em 6,6%, será muito menor que o das importações, 22,4%. Nesse ano, até novembro, as exportações de bens e serviços foram 11,9% maiores que as de um ano antes. As importações, 26,8% superiores. O descompasso deverá acentuar-se e o resultado será um déficit na conta corrente do balanço de pagamentos.

A inflação de 2008 foi estimada em 4,3%, 0,1 ponto acima do nível projetado no relatório de setembro, mas ainda abaixo do centro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional, de 4,5%. Em vista do crescimento previsto para o consumo, será um resultado satisfatório, especialmente se vier sem nova alta dos juros.

Diante da perspectiva de um ambiente externo menos favorável, o cenário básico apresentado é bastante positivo. Pressupõe-se o cumprimento da meta fiscal estabelecida antes da extinção da CPMF, um bom desafio para o governo. Com uma política fiscal responsável, o risco de pressões inflacionárias será consideravelmente menor.