terça-feira, janeiro 01, 2008

Computador em casa

O Estado de S. Paulo EDITORIAL

A

Em pouco mais de dez anos, a porcentagem dos lares brasileiros que dispõem de computador cresceu mais de três vezes. Esse equipamento está presente em quase um quarto - ou, precisamente, 24%, segundo pesquisas recentes de instituições especializadas - dos domicílios do País. Em 1996, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, só 6,9% dos domicílios dispunham de um computador. Apesar do rápido aumento do uso doméstico de computadores, o potencial de crescimento do mercado brasileiro ainda é imenso. Por isso, a indústria de computadores, que registrou vários recordes de produção e vendas em 2007, projeta desempenho ainda melhor em 2008.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), que reúne as indústrias desse equipamento, em 2007 as vendas de computadores pessoais no Brasil alcançaram 10,1 milhões de unidades - um aumento de 23% sobre as vendas de 2006. A mais importante fabricante de processadores do mundo, a Intel, projeta para 2008 crescimento ainda maior do que o de 2007, de 25% a 30% nas vendas internas de computadores, o que daria cerca de 13 milhões de unidades.

Há um conjunto de fatores que explicam a aceleração das vendas de computadores pessoais em 2007. Um desses fatores é a eliminação da incidência do PIS e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) nas vendas desse equipamento, que reduziu a taxação em 9,25%. A desvalorização do dólar em relação ao real resultou na queda do preço dos componentes importados, o que igualmente contribuiu para baratear o produto para o consumidor final.

O resultado foi notável. Nas últimas semanas, como constatou a reportagem do Estado, um modelo de mesa de determinada marca, com 512 megabytes de memória, que custava R$ 999 no Natal de 2006, era encontrado por R$ 799, uma redução nominal de 20%.

Ao barateamento do produto juntou-se a generosa oferta de crédito, para atrair mais consumidores, inclusive os de renda mais baixa, o que está provocando uma alteração expressiva no mercado e no uso da internet. Havia uma demanda reprimida nas classes econômicas C e D, que começa a ser aliviada. Essa demanda é atendida por computadores com menos recursos e, por isso, mais baratos.

Famílias que até há pouco estavam afastadas da internet agora têm acesso a ela. E obtêm o acesso por meio da internet discada, que oferece menos facilidades, mas é mais barata do que a internet de banda larga. Assim, o mercado da internet discada, que estava fortemente pressionado pela banda larga (que cresceu 30% em 2007), cresce com grande velocidade. Dos domicílios brasileiros ligados à rede mundial, 49% utilizam a internet discada e 40% dispõem da banda larga (os demais 11% utilizam outras formas de conexão). Ainda há muito espaço para a expansão do uso da internet no Brasil, qualquer que seja o tipo de conexão escolhida pelo usuário, uma vez que, como indica pesquisa recente, 86% dos domicílios não têm acesso à rede.

As famílias de renda mais alta, que já tinham computador pessoal, compram novos equipamentos com mais recursos e mais potentes. E compram também os computadores portáteis, cujo preço caiu ainda mais do que o dos computadores de mesa. Em 2006, o preço médio de um notebook (computador portátil) era 188% maior do que o de um desktop (computador de mesa) com as mesmas especificações. Em 2007, a diferença se reduziu para 68%.

Isso explica o impressionante crescimento de mais de 200% nas vendas dos notebooks em 2007 (2,1 milhões de unidades), na comparação com 2006. Esse crescimento acentuado leva os analistas a prever que, em três anos, as vendas de notebooks ultrapassarão as de desktops (hoje, os computadores portáveis representam pouco mais de 20% do mercado de uso doméstico ou pessoal).

O desempenho das vendas dos computadores para o uso no lar provocou outra mudança importante no mercado. Até 2006, as empresas eram os maiores compradores de microcomputadores. Em 2007, as vendas para uso doméstico representaram 51% do total.