Entrevista:O Estado inteligente

domingo, junho 10, 2007

A quem devemos o bom momento da economia

Mailson da Nóbrega *

Quem observa serenamente a economia percebe que o Brasil vive um de seus melhores momentos. Poderia ser melhor se houvesse mais reformas e se o atual governo não padecesse de tantas contradições e ineficiências. Mesmo assim, há os renitentes que acham tudo errado e não se cansam de reclamar de juros e câmbio.

O presidente Lula procura mostrar que tudo é obra sua. E, reconheçamos, convence muitos eleitores. O ministro da Fazenda, até recentemente um crítico da política econômica e agora seu defensor, está entusiasmado. Chegou ao exagero de afirmar que a situação do País é melhor do que nos tempos de JK.

Exagera igualmente quem diz que este momento é mero efeito da conjuntura internacional. Lula não tem razão quando diz que 'nunca neste país' se fez igual, mas ele tem méritos. Se tivesse embarcado nas idéias do PT sobre a política econômica, estaríamos mal. De nada teriam adiantado os ventos externos a favor.

Lula se guia pela intuição e pelo pragmatismo mais do que pela reflexão nascida do estudo sistemático e das leituras. Percebeu corretamente os riscos de descontinuar a política econômica e os programas sociais que herdou. Seu grande feito foi, assim, manter o rumo, ainda que imagine ser o maior dos presidentes.

Muitos intelectuais, inclusive os que freqüentaram escolas de Economia, não foram tão capazes de ver o que Lula enxergou, talvez porque seus estudos os tenham levado a visões de mundo que envelheceram. Prisioneiros da sua ideologia, não conseguem influenciar-se pelos avanços da teoria e da realidade.

Enganou-se pois quem achava que Mantega viria para mudar, que haveria uma 'política econômica de esquerda' no segundo mandato. Na sua recente entrevista, Lula acabou com as dúvidas: não interferirá na política monetária. 'Quanto mais autônomo o Banco Central, melhor para o País'. No dia seguinte, mostrou que entende mais do que muita gente. Disse que o câmbio valorizado é bom para os salários.

A opção de Lula por uma política econômica responsável beneficiou a si (politicamente), aos pobres e ao País. Muitos perderam, como é normal em transições como a que vive o Brasil.

Os mercados e os avaliadores de risco já haviam percebido essa realidade, mas as últimas declarações oficiais, incluindo as do ministro da Fazenda e do presidente do Banco Central, reforçaram a percepção de que a estabilidade macroeconômica veio para ficar e que nos tornamos um país previsível.

O Brasil caminha para obter o grau de investimento, provavelmente em 2008. O País receberá o justo prêmio por 20 anos de mudanças institucionais e pelo provável enterro de visões heterodoxas sobre a política econômica. A sociedade avançou e incorporou novas crenças, em especial a intolerância à inflação.

A estabilidade (do Plano Real que o PT condenou), a abertura da economia (iniciada nos anos 1980 e acelerada nos governos Collor e FHC) e a privatização (que Lula abandonou) foram passos fundamentais. Como sempre, mudanças dessa profundidade levam tempo para amadurecer.

A grande novidade parece ser a incorporação desse cenário ao modo de pensar e agir das empresas, nacionais e multinacionais. Os horizontes se tornam mais extensos, se esvai o receio de retrocessos e se firma a percepção de que não haverá ações voluntaristas para mudar juros e câmbio. Quem não se adaptar vai ficar para trás.

O planejamento estratégico das empresas passa a considerar essa realidade. Decisões de investimento, mais seguras, tendem a se acelerar. O câmbio valorizado estimula importações de bens de capital. A modernização produtiva avança. Nada disso aconteceria se Lula tivesse mudado a política econômica. Estaríamos lutando para sobreviver a mais uma crise.

A operação Navalha nos lembra, infelizmente, de nossas mazelas. É preciso reduzir os incentivos à corrupção. Muito resta a fazer na área tributária, na anacrônica legislação trabalhista, na infra-estrutura e assim por diante. Mesmo assim, há o que comemorar na economia, ainda que, vale repetir, pudesse ser melhor.

Muitos sofrerão, como foi o caso da fábrica de lampiões quando chegou a energia elétrica. Continuarão as queixas contra a política econômica. O Brasil vai caminhar. Pena que não tenhamos um governo reformista capaz de criar as condições institucionais para acelerar o passo.


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