No exterior há otimismo com este momento da economia brasileira, que os números tratam de confirmar: inflação sob controle e dentro da meta; é certo que o desempenho é fraco, se comparado aos parceiros do Brasil no grupo BRIC (Rússia, Índia e China), mas a previsão de crescimento se elevou de 3,5% para 4,2%; sucessivos superávits nas relações com o exterior engordam as reservas cambiais, que devem atingir US$ 180 bilhões este ano; o ingresso de moeda estrangeira para aplicação em investimentos produtivos deve somar US$ 20 bilhões até dezembro; é segura a tendência de queda dos juros no curto prazo; o mercado de capitais está em expansão e a Bovespa bate sucessivos recordes; o risco País é o mais baixo da História. E por aí vai... Diante desse quadro promissor, apostas e torcidas se multiplicam: é iminente a promoção do Brasil ao clube de países classificados com o grau de investimento: maior confiança em nossa economia e todos os benefícios que daí decorrem. As agências de rating compartilham o otimismo, mas o condicionam a uma grave advertência: o Brasil está longe de resolver o desequilíbrio fiscal estrutural, a dívida pública interna é muito elevada e o crescimento econômico contínuo não é seguro, porque depende de fatores externos que o Brasil não domina nem controla. Se a Bolsa de Valores de Xangai desabar, como já previram o ex-presidente do Federal Reserve Alan Greenspan e outros economistas, vai desencadear uma onda de depressão econômica mundo afora. E o Brasil não escapa, será um dos primeiros a ser arrastado. Portanto, é bom que o governo Lula acorde: as agências de rating costumam demorar a elevar a nota de um país a grau de investimento, mas agem com muita rapidez e não hesitam em rebaixar esta classificação se o país entra em crise. As conseqüências mais dramáticas e imediatas seriam a queda da atividade econômica, do emprego e da renda dos brasileiros. Convém lembrar isso ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, porque ele fala em grau de investimento como quem enxerga uma estrada de direção única, sem possibilidade de volta. E não é. Quando acontece, o regresso costuma ser perverso. E veja, presidente Lula: nunca na História deste país houve um momento tão favorável para dar uma chacoalhada decisiva na estrutura de gastos do governo e na remoção de entraves legais ao crescimento econômico. Mas é preciso agir com rapidez e inteligência, antes que a onda otimista nos mercados externos se dissipe e a profecia de Greenspan se realize. Além da situação econômica confortável, Lula conseguiu articular no Congresso alianças partidárias que lhe garantem uma folgada maioria, capaz de aprovar matérias polêmicas, que os parlamentares não gostam, mas são absolutamente necessárias para o País. E eles sabem: quanto mais tardia sua aprovação, mais alto o preço a ser pago pela sociedade brasileira. Trata-se das reformas estruturais - a tributária, para reduzir impostos e dar impulso ao crescimento econômico; a política, para tornar transparente o sistema eleitoral, dificultar a corrupção e eliminar desperdícios de dinheiro público; a previdenciária, para adaptar regras à longevidade da população e estancar um déficit que se agiganta e dispara ano a ano; e a trabalhista, para atualizar a legislação, reduzir o custo de contratar pessoas e incluir 53% dos trabalhadores que vivem marginalizados e sem direitos trabalhistas. Uma programação de redução de gastos e eliminação de estruturas supérfluas e desnecessárias da máquina estatal completaria o conjunto de medidas para perseguir o equilíbrio fiscal e resolver nossos dilemas internos. Pois bem, o governo Lula considera este roteiro indispensável para o País dar um salto decisivo na direção do crescimento econômico sustentado e do grau de investimento sem volta. Na terça-feira, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, voltou a defendê-lo publicamente. Mas o presidente Lula protela, retarda, fala muito e age nada, porque tem mais interesse em evitar seu próprio desgaste político pessoal do que em tocar medidas que ordenam a estrutura do Estado, buscam o equilíbrio fiscal e beneficiam o conjunto da população, ao garantir um crescimento a taxas de 8% a 10%. Desperdiça um momento político-econômico imperdível. *Suely Caldas é jornalista E-mail: sucaldas@terra.com.br
Suely Caldas*
Suely Caldas*
No exterior há otimismo com este momento da economia brasileira, que os números tratam de confirmar: inflação sob controle e dentro da meta; é certo que o desempenho é fraco, se comparado aos parceiros do Brasil no grupo BRIC (Rússia, Índia e China), mas a previsão de crescimento se elevou de 3,5% para 4,2%; sucessivos superávits nas relações com o exterior engordam as reservas cambiais, que devem atingir US$ 180 bilhões este ano; o ingresso de moeda estrangeira para aplicação em investimentos produtivos deve somar US$ 20 bilhões até dezembro; é segura a tendência de queda dos juros no curto prazo; o mercado de capitais está em expansão e a Bovespa bate sucessivos recordes; o risco País é o mais baixo da História. E por aí vai...
Diante desse quadro promissor, apostas e torcidas se multiplicam: é iminente a promoção do Brasil ao clube de países classificados com o grau de investimento: maior confiança em nossa economia e todos os benefícios que daí decorrem. As agências de rating compartilham o otimismo, mas o condicionam a uma grave advertência: o Brasil está longe de resolver o desequilíbrio fiscal estrutural, a dívida pública interna é muito elevada e o crescimento econômico contínuo não é seguro, porque depende de fatores externos que o Brasil não domina nem controla. Se a Bolsa de Valores de Xangai desabar, como já previram o ex-presidente do Federal Reserve Alan Greenspan e outros economistas, vai desencadear uma onda de depressão econômica mundo afora. E o Brasil não escapa, será um dos primeiros a ser arrastado.
Portanto, é bom que o governo Lula acorde: as agências de rating costumam demorar a elevar a nota de um país a grau de investimento, mas agem com muita rapidez e não hesitam em rebaixar esta classificação se o país entra em crise. As conseqüências mais dramáticas e imediatas seriam a queda da atividade econômica, do emprego e da renda dos brasileiros. Convém lembrar isso ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, porque ele fala em grau de investimento como quem enxerga uma estrada de direção única, sem possibilidade de volta. E não é. Quando acontece, o regresso costuma ser perverso.
E veja, presidente Lula: nunca na História deste país houve um momento tão favorável para dar uma chacoalhada decisiva na estrutura de gastos do governo e na remoção de entraves legais ao crescimento econômico. Mas é preciso agir com rapidez e inteligência, antes que a onda otimista nos mercados externos se dissipe e a profecia de Greenspan se realize. Além da situação econômica confortável, Lula conseguiu articular no Congresso alianças partidárias que lhe garantem uma folgada maioria, capaz de aprovar matérias polêmicas, que os parlamentares não gostam, mas são absolutamente necessárias para o País. E eles sabem: quanto mais tardia sua aprovação, mais alto o preço a ser pago pela sociedade brasileira.
Trata-se das reformas estruturais - a tributária, para reduzir impostos e dar impulso ao crescimento econômico; a política, para tornar transparente o sistema eleitoral, dificultar a corrupção e eliminar desperdícios de dinheiro público; a previdenciária, para adaptar regras à longevidade da população e estancar um déficit que se agiganta e dispara ano a ano; e a trabalhista, para atualizar a legislação, reduzir o custo de contratar pessoas e incluir 53% dos trabalhadores que vivem marginalizados e sem direitos trabalhistas. Uma programação de redução de gastos e eliminação de estruturas supérfluas e desnecessárias da máquina estatal completaria o conjunto de medidas para perseguir o equilíbrio fiscal e resolver nossos dilemas internos.
Pois bem, o governo Lula considera este roteiro indispensável para o País dar um salto decisivo na direção do crescimento econômico sustentado e do grau de investimento sem volta. Na terça-feira, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, voltou a defendê-lo publicamente. Mas o presidente Lula protela, retarda, fala muito e age nada, porque tem mais interesse em evitar seu próprio desgaste político pessoal do que em tocar medidas que ordenam a estrutura do Estado, buscam o equilíbrio fiscal e beneficiam o conjunto da população, ao garantir um crescimento a taxas de 8% a 10%. Desperdiça um momento político-econômico imperdível.
*Suely Caldas é jornalista E-mail: sucaldas@terra.com.br