Os fura-poços
Quem perdeu a compostura? O governo? Os políticos? Todos? A resposta explicará a desavergonhada disputa por cargos. É da natureza das coalizões que os ministérios e certos cargos formuladores sejam espaço para escolha de políticas públicas, de aplicação de programas partidários e, por isso, são distribuídos à base parlamentar. De outra e obscura natureza é a maneira como se distribuem cargos técnicos, agências reguladoras e postos pelos quais passam dinheiro público e privado.
Os jornais trouxeram ontem flagrantes desta distorção. O ex-governador de Goiás Maguito Vilela, do PMDB, pode assumir a vice-presidência de governo do Banco do Brasil, responsável pelo BB Previdência e pelo relacionamento comercial com todas as esferas públicas, informou O GLOBO.
O Banco do Brasil, um banco comercial, capta poupança dos seus clientes para aposentadoria complementar através do BB Previdência. Por que a gestão de dinheiro dos poupadores entra no rateio político? Maguito, de fato, foi previdente: quando defendeu ardorosamente o governo na época do mensalão, ou quando se filiou nas hostes de José Sarney-Renan Calheiros dentro do balaio de gatos que é o PMDB.
Outra parte do poder desta vice-presidência é ser canal de pagamento de tributos.
“Só de tributos federais recolhidos pelo banco, passarão pelo político R$ 120 bilhões”, informa a repórter Patrícia Duar te.
Das nove vice-presidências do Banco do Brasil, cinco serão entregues ao PT. Para acomodar tanta gente talentosa, o BB dividiu sua vice-presidência de governo, criando a área de agronegócios, para onde está sendo indicado o exministro da agricultura.
O governo nada aprendeu com o uso recente do Banco do Brasil, do Visanet, dos contratos com Marcos Valério, das festas promovidas pelo banco para angariar dinheiro para o PT. A diferença agora é que ele dividiu o Banco do Brasil entre dois feudos: o dos petistas e o dos peemedebistas. O governo nada aprendeu com a destruição de um bom programa, como o Luz para Todos, ao fatiá-lo em todas as correntes dos partidos que o apóiam e, assim, abri-lo à sanha das g a u t a m a s .
Na Caixa Econômica, o PMDB já emplacou o exgovernador do Rio Moreira Franco em uma das onze vice-presidências. “O banco ainda não informou onde ele vai atuar, mas especulase que será na área de transferência de benefícios”, diz o texto. Pode-se imaginar que os benefícios pelos quais o poupador da Caixa paga acabarão mesmo transferidos. Há outros cinco políticos do PT que a Caixa terá de encarapitar na sua hierarquia, entregando a eles nacos de poder numa instituição cuja função é salvaguardar os recursos poupados pelos que nela acreditam.
Como o Banco do Brasil está se reestruturando para entrar no Novo Mercado, das duas uma: ou tudo isso é revogado, ou a Bovespa pode chamar sua criatura de Velho Mercado.
Criado pela bolsa para abrigar as empresas com novas práticas, só podem entrar nele os que cumprem quesitos como boa governança, transparência, respeito ao acionista minoritário. Essa forma de encampação política dos cargos gerenciais do banco só pode ser avalizada com a desmoralização do conceito. Com a palavra, a B o v e s p a .
O ministro Walfrido dos Mares Guia está lá com cargos a mancheias para distribuir.
A novidade é que tudo está dentro. Parece aqueles resorts all inclusive.
A lista tem doze páginas com 270 cargos DAS só para esta fase. O instituto de estatística do governo, IBGE, está lá no rachuncho. A Comissão de Valores Mobiliários está lá. A CVM é órgão técnico que fiscaliza o mercado de capitais. Os negócios na bolsa multiplicaram por sete em quatro anos.
Precisa ter regulação boa e fiscalização ágil e exemplar para continuar merecendo a confiança dos investidores, entre eles, a recém-chegada classe média. O que fará lá um político? Está na lista dos postos a serem ocupados, a Susep, que regula a área de seguros, INPI, Inmetro, Fundação Oswaldo Cruz, Cnen, Casa Rui Barbosa.
Assuntos das mais variadas áreas técnicas, sendo entregues aos políticos.
O pior caso recente foi o momento em que duas pessoas, dizendo-se representantes do senador Marcelo Crivella, entraram no Ipea pedindo a lista dos DAS porque, com a criação da Secretaria de Longo Prazo para Mangabeira Unger, o órgão passaria a ser do PRB. O Ipea é um centro de pensamento e estudos criado pelos militares para abrigar nele a inteligência brasileira; a maioria, na época, opositora explícita do regime. É forçoso reconhecer que nunca ocorreu à ditadura nomear um coronel para tomar conta do Ipea.
As reportagens dos últimos dias exibem políticos falando explicitamente em pressionar os ministros para que os cargos saiam logo e se queixando do que não foi posto no butim. Pela avidez com que brigam pelos cargos, todos serão em diretorias para furar poços...
no bolso do contribuinte.
Com esta forma despudorada de formar uma coalizão, sem haver limites de cargos técnicos, sem critérios de políticas públicas a orientar o compartilhamento do poder, tudo o que o governo garante é que a temporada de escândalos vai continuar.
Ao final dela, já se sabe o que nos espera: a confiança da população nas instituições vai definhar um pouco mais.
Entrevista:O Estado inteligente
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