sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Eliane Cantanhede - O preço do mercúrio



Folha de S. Paulo
2/2/2007

Marcos Lima, assessor parlamentar do Planalto, desfilou pelo plenário ontem, ora cochichando com um, ora com outro, durante a posse dos 513 deputados. Lima, chamado de "neo-Waldomiro Diniz" por ocupar a mesma função do ex-assessor de José Dirceu, virou troféu dos aliados de Aldo Rebelo para comprovar que o governo operou a favor do petista Arlindo Chinaglia na eleição na Câmara. O próprio Aldo ligou para o Planalto protestando.
Osmar Serraglio, relator da CPI que investigou o mensalão, avisava antes da votação: "A gente está vendo hoje como é difícil a competição entre a moral e o rolo compressor".
Pode até ter se referido ao peso da cúpula do PMDB, surpreendentemente unida em torno de Lula, de Chinaglia e de candidatos definidos a cargos na Mesa da Câmara. Mas rolo compressor que se preze é instrumento de governo.
E não é nenhuma novidade. Existia no regime militar, sobreviveu na reabertura com Sarney, foi tentado por Collor sem sucesso, virou prática comum com FHC. A novidade é que o governo de Lula e do PT é igualzinho até nisso.
A eleição de ontem na Câmara teve bons candidatos -Aldo, Chinaglia e o tucano Gustavo Fruet. Mas, se Severino caiu, os métodos severinos ficaram. Do contrário, que tipo de liga, ou cola, põe na mesma corrente o PT, o PMDB, o PP, o PR, mensaleiros e sanguessugas? E ninguém precisa saber exatamente quem é quem, porque o voto foi secreto. Conclamados os resultados, todo mundo (ou quase) pode dizer que votou em quem ganhou.
Lula fingiu que não tinha nada a ver com a eleição na Câmara, mas sua equipe cooperou de fato a favor de Chinaglia. E ele vai ter que articular a base aliada, sarar as feridas. "Um pouco de mercúrio resolve todo o problema", desdenhou Lula ontem. Mercúrio caro esse, pois a base se dividiu ao meio e Aldo saiu da eleição bem machucado.