SÃO PAULO - Esta Folha publicou, no fim de semana, uma espécie de bula para que o leitor não caia no mais recente golpe da pátria dos golpes, o do falso seqüestro.
Traduzida para português básico, a recomendação subjacente é simples, se você quer mesmo escapar do golpe: caia na clandestinidade.
Esconda tudo, o nome, o telefone, o nome do filho/pai/mãe, o local de residência e por aí vai.
Lembra conselhos elementares que os dissidentes políticos recebem, em países autoritários, para tentar permanecer livres.
A grande diferença, que diz tudo sobre a perfeita esculhambação que é o Brasil, está dada pelo agente do qual é necessário proteger-se: os dissidentes protegem-se do Estado, da polícia. Os brasileiros inocentes protegem-se, ao contrário, de quem deveria estar na clandestinidade, porque perseguidos pelo Estado, pela polícia.
Temos mais uma inacreditável jabuticaba, fruta que, dizem, só dá no Brasil: o inocente se esconde, o bandido tem endereço certo e sabido, casa, comida e roupa lavada proporcionada pelo meu, pelo seu, pelo nosso dinheirinho.
Sim, porque, de acordo com todas as reportagens sobre o tema, o golpe do falso seqüestro é praticado a partir de presídios. Não de um presídio indeterminado, perdido nos fundões da pátria desestruturada, mas de meia dúzia deles, em geral situados no Rio de Janeiro.
Nem se trata de uma prática recente que o poder público ainda não teve tempo de assimilar para poder adotar a resposta adequada.
Desde que o celular se massificou no país, ele é usado para diferentes atividades criminosas em diversos presídios. Mas ninguém faz nada, a não ser constatar o fenômeno, como se fosse natural, uma jabuticaba nascida da prodigiosa natureza dos trópicos.
Só resta mesmo cair na clandestinidade ou aderir ao crime, que, no Brasil, compensa sim.
Entrevista:O Estado inteligente
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