Com reservas do país no patamar recorde de US$ 100 bilhões, BC precisa considerar redução maior nos juros básicos
O BANCO Central tem comprado cerca de US$ 500 milhões por dia na tentativa de frear a valorização do real. Nesse ritmo, o volume de reservas externas chegou ao patamar dos US$ 100 bilhões. Trata-se do nível mais alto da história econômica brasileira.
Além de evitar deterioração mais acentuada da competitividade de setores industriais, o acúmulo de reservas é um seguro contra turbulências globais. Tem contribuído para a redução do risco-país, abrindo caminho à obtenção, pelo Brasil, da classificação "investment grade" -selo que autoriza aplicadores poderosos, como os fundos públicos de pensão dos EUA, a investir aqui.
Por outro lado, o custo fiscal de manter reservas, já elevado, cresce na proporção do volume de dólares em poder do BC. A cada compra de moeda estrangeira, o banco emite dívida em reais, na mesma proporção, no mercado doméstico -a fim de neutralizar efeitos inflacionários. Como as taxas de juros internacionais (4,8% ao ano) que remuneram as reservas são inferiores à taxa brasileira (13% ao ano), o país fica mais endividado com o tempo.
Para alguns analistas, adquirindo moeda estrangeira em quantidade expressiva, o BC também estaria chancelando complexas operações nos mercados derivativos cujo alvo é o lucro proporcionado pela taxa Selic -e que acarretam mais pressão a favor da alta do real.
Registre-se, no entanto, que o processo atual de acumulação de reservas é de natureza diversa daquele encetado no primeiro governo FHC. Em abril de 1998, as reservas chegaram a um pico de US$ 74,8 bilhões, mas, num cenário de escassez aguda de dólares, eram a contraface da ampliação da dívida externa. Agora, o BC compra basicamente dólares oriundos das exportações.
A opção mais racional para conter a avalanche de dólares deveria vir da política monetária. Na reunião de 7 de março, o Copom terá a oportunidade de refazer-se do equívoco que foi a diminuição do ritmo de corte da taxa Selic decidida em janeiro.
Alguns analistas chegam a defender uma redução abrupta de juros, a fim de conter as apostas na valorização do real, sem desencadear pressões nos preços. As expectativas de inflação para 2007 (3,9%) e 2008 (4%) permanecem abaixo da meta de 4,5% e em tendência de queda.
A necessidade de o Banco Central comprar volumes cada vez maiores de dólares -com endividamento público crescente- será endossada caso o Copom reitere, na semana que vem, a opção pelo corte moderado da Selic.