SÃO PAULO - Já que é Natal, vamos esquecer por algumas horas o saco de maldades que o Brasil despeja todos os dias de todos os anos, para festejar um conceito que parece completamente ausente do debate público há séculos.
Refiro-me à entrevista à Folha de Antônio Anastasia, vice-governador eleito de Minas Gerais. Anastasia, tido como o grande responsável pelo ajuste fiscal mineiro, critica o mantra do corte do gasto público, cantado por 11 de cada 10 debatedores, introduzindo dado fundamental: "Esses cortes que normalmente são feitos, lineares e com o contingenciamento orçamentário, agradam exclusivamente ao caixa. Há o equilíbrio financeiro, mas o resultado para a sociedade não só é pífio como piora a prestação de serviços.
A nossa concepção foi a de conciliar o equilíbrio financeiro do Estado com a melhoria dos serviços públicos", diz Anastasia. Mesmo sendo Natal, convém deixar bem claro que só estou elogiando o conceito, não a aplicação prática dele em Minas Gerais. Não tenho elementos para julgá-la. Mas é óbvio que cortar gastos só para atingir o equilíbrio fiscal é um despropósito que, incrivelmente, no Brasil conseguiu passar por dogma de fé.
O poder público não foi feito para dar lucro, mas para prestar serviços -e serviços de qualidade. O brasileiro é tão conformista que, se o serviço for prestado, sua qualidade já nem é levada em conta (vide o caos nos aeroportos).
O conceito de Anastasia me soa tão mais relevante porque, logo que atingiu o déficit zero, o governador Aécio Neves almoçou na Folha, e eu lhe perguntei precisamente sobre a qualidade da educação, da saúde etc. uma vez alcançado o déficit zero. O governador falou, falou e não respondeu. Agora, aí está a resposta. Teórica, é verdade, mas é melhor que o mantra do corte pelo corte. Feliz Natal.