RIO DE JANEIRO - O que é importante? Todos os dias os jornalistas têm de responder a essa questão. O resultado, certo ou errado, está nestas páginas. Há temas que parecem urgentes, como a polícia bandida do Rio, os aloprados do PT que não explicaram a origem do dinheiro, a incompetência da Polícia Federal que não a localizou, os arranjos e desarranjos do novo ministério de Lula, que já nasce velho, tanto pelos nomes como por aquilo que representam.
Há ainda o caso do homem que ficou retido na porta giratória com detector de metais de um banco no centro do Rio, discutiu com o segurança e foi morto com um tiro. O final de vida no final da tarde do final de ano. Tinha 35 anos. Era correntista do banco havia 12.
Os temas todos se parecem urgentes, nos quais se mostram necessárias as devidas providências por parte das autoridades e da sociedade. Urgir é um verbo que combina com os vetustos editoriais dos jornais, mas mal se aplica às coisas mais comezinhas da vida.
Outra definição jornalítisca diz que homem quer saber o que se passa no seu quintal. Essa seria a essência das notícias, que andam tão ruins que talvez o levem a se entrincheirar no próprio quarto.
Mas de que adianta? Sartre escreveu uma peça de teatro ("Entre Quatro Paredes") na década de 40 em que três personagens chegam ao inferno. Esperavam lá instrumentos de tortura e carvões em brasa, mas apenas se vêem trancados num quarto mobiliado com antiguidades feias. Não há espelhos, livros, escovas de dente, distrações. Tudo o que têm, por toda a eternidade, é uns aos outros. Estão ali um narcisista, um masoquista, um covarde. Um dos personagens diz a frase mais famosa da peça: "Cada um de nós é um carrasco para os outros. O inferno são os outros".