O Estado de S. Paulo |
1/6/2006 |
A ironia do destino é que Lula vetou acerto de Dirceu com PMDB antes da posse Em seu encontro ontem com Orestes Quércia, o presidente Luiz Inácio da Silva ficou com o ônus de aparecer na fotografia na posição de cortejador de um desafeto histórico e não conquistou o desejado bônus do apoio integral do PMDB à reeleição. Resultado, aliás, tão esperado que chega a ser incompreensível qual a utilidade política do gesto presidencial de chamar Quércia ao Palácio do Planalto, pois apresentaram-se um ao outro de mãos vazias no tocante aos respectivos interesses. O comandante em chefe do PMDB não dispõe da mercadoria que o presidente quer - força suficiente para levar o partido a uma aliança formal com o PT - e Lula não pode ofertar o que Orestes Quércia almeja: a vaga para disputar o Senado, pertencente a Eduardo Suplicy. A menos que o ex-governador de São Paulo tenha recebido um convite para ocupar um ministério em ocasional segundo mandato, ou indicar diretamente um ministro, ou que o PT cogite trocar Suplicy por Quércia, nada havia a ser posto na mesa pelo presidente. Da parte do pemedebista tampouco, pois se não conseguiu viabilizar internamente nenhum de seus candidatos a presidente, Germano Rigotto e Itamar Franco, muito menos Quércia poderia prometer levar o partido todo ao palanque de Lula. O ex-governador de São Paulo foi o quarto interlocutor pemedebista a quem o presidente recorreu para tentar levar o partido oficialmente à sua base, numa profusão de movimentos erráticos iniciados em dezembro de 2002. Na ocasião, depois de fechado o acordo entre o presidente do partido, Michel Temer, e o então nomeado chefe da Casa Civil, José Dirceu, Lula tratou oficial e publicamente de desfazer a articulação, dando a entender que a companhia do PMDB não estava à altura da majestade por ele conquistada nas urnas. Dirceu havia fechado acordo em torno dos Ministérios de Minas e Energia e da Integração Nacional. A despeito de resistências aqui e ali, Temer aceitou, para 48 horas depois ser informado de que o presidente tinha outros planos: formar sua base parlamentar com partidos mais fáceis de manejar e solapar a autoridade da direção formal do PMDB - que havia ficado com o PSDB na eleição - por intermédio da interlocução paralela com os senadores José Sarney e Renan Calheiros. Na prática, não deu certo. Lula deu ministérios, pôs cargos à disposição, mas conseguiu no máximo o apoio de parte das bancadas na Câmara e no Senado. Quando se convenceu do equívoco, tentou retomar a conversa em termos institucionais com o presidente Michel Temer e aumentou a oferta de ministérios, mas continuou com metade da tropa. Até certa altura do governo, em termos quantitativos para garantir votações no Congresso, isso até bastou. Mas depois, com a eclosão dos escândalos, não foi suficiente para barrar CPIs nem para ganhar a presidência da Câmara de Severino Cavalcanti. Agora, na eleição, seria essencial obter o apoio oficial do PMDB por causa do tempo de televisão do partido e do comprometimento que, em tese, seria estabelecido a partir da ocupação da vaga de vice por um pemedebista. Além disso, em caso de vitória, começar um segundo mandato com o esteio de um partido cuja máquina nacional propicia a eleição de bancadas robustas seria fundamental para quem já não terá um PT majoritário nem poderá repetir os métodos de cooptação empregados quando a Lula tudo era permitido. O apelo a Quércia soa como recurso extremo e dá a medida da disposição do presidente para conquistar o PMDB, embora não tenha se dado ao trabalho de apresentar escusas pela deselegância de outrora e até por posições agressivas de seus correligionários. Marta Suplicy em 2004 rejeitou aliança com o PMDB mais ou menos nos mesmos termos de Lula antes da posse: alegando que o partido não era confiável. E de fato não é. Mas pensa o mesmo do PT e agora que de patinho feio se transformou em majestoso cisne aos olhos dos principais partidos em disputa pela Presidência da República não se entregará assim de corpo inteiro. Pelo menos não o fará sem garantias plenas de que, a partir de 2007, ocupará lugar de honra na Praça dos Três Poderes, na Esplanada dos Ministérios e adjacências.
As contas Os responsáveis pelos programas do PSDB a serem veiculados em junho não arriscam números, mas têm como certa a subida de alguns pontos de Geraldo Alckmin nas pesquisas como efeito da propaganda. Lembram que em 2004, na disputa pela Prefeitura de São Paulo, José Serra subiu 10 pontos porcentuais logo após a exibição dos comerciais. Agora não esperam tanto, mas se darão por satisfeitos com menos da metade. Água fresca Avaliação vigente no PFL: se José Serra e Aécio Neves não se mexerem por Alckmin, o cenário tende a escurecer. |