Panorama Econômico |
O Globo |
25/5/2006 |
O Brasil viu ontem um daqueles filmes antigos, que se pensava que estivesse fora de cartaz. A incerteza externa provocou uma forte alta do dólar e dos juros futuros. Para acalmar uma parcela do mercado, o Tesouro fez um leilão para recomprar dívida mais longa e disse que voltará a vender LFT. O papel que o Tesouro recomprou é o que fazia parte do projeto de tornar a dívida longa e previsível. O que ele vai vender, a LFT, é um papel sem risco para o mercado. É um retrocesso, mas, ao mesmo tempo, a aceitação do inevitável. O Brasil, 12 anos depois do real, ainda não tem uma dívida com um perfil normal; ela é alta, cara e curta. O governo Lula melhorou muito o perfil da dívida: praticamente acabou com a dívida dolarizada, reduziu o estoque de papel pós-fixado e estava aumentando a venda de pré-fixado, uma parte indexada pelo IPCA. Ontem teve que dar dois passos atrás no projeto, recomprando R$ 2,5 bilhões em papéis que venceriam em 2045, que estavam em mãos de investidores estrangeiros. Quando começou a incerteza, os investidores tentaram vender e descobriram que não havia mercado secundário. Ficaram nervosos e foi quando os ativos mais reagiram. A recompra acalmou esses investidores. O secretário do Tesouro, Carlos Kawall, admitiu que o governo fez um recuo estratégico: — O ambiente é bastante delicado. Evidentemente não era o que, dentro da estratégia do Tesouro, eu gostaria de estar fazendo. Mas o fato é que o mercado das NTN-Bs (dívida corrigida pelo IPCA) tinha perdido a referência e ficou sem liquidez. Nós recompramos o papel mais longo, que estava na mão principalmente de estrangeiros, não para evitar o prejuízo deles, mas para garantir que esse mercado esteja aberto no futuro quando quisermos voltar — disse-me. Essa foi a história local do fim do dia. Depois de uma grande volatilidade e disparada do dólar e alta dos juros, o mercado ficou mais calmo após a decisão do Tesouro de recomprar esses papéis e anunciar a volta das LFTs. Mas uma grande parte do nervosismo ontem foi contraída do exterior. O que está acontecendo é um ajuste ou uma crise? Se a pergunta for feita para dois economistas, eles darão duas respostas. Não está claro para ninguém a evolução dos fatos. O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga me disse que a turbulência dos últimos dias é preocupante. Ele acha que o momento é de muita especulação: — A taxa de juros americana estava em 1%; no Japão, zero; e, na Europa, 2%. Agora está ocorrendo um processo de normalização de política monetária que pode se transformar em algo ainda mais forte, porque a inflação talvez tenha saído do controle dos bancos centrais. Essa temporada de juros baixos provocou uma alta "parabólica" nos preços das commodities e agora um processo de realização de lucros. O que pode levar a um processo em cadeia. — Quando o mercado começa a cair, muita gente se defende e vende. Não é só no Brasil, mas o Brasil, por ter sido o favorito do mercado durante muito tempo, sofre mais. Nessa onda de juros baixos, o país pagando 18% atraiu muito capital de investidor disposto a correr qualquer risco cambial por essa taxa de juros. Armínio acredita que o processo pode até ser passageiro, mas, neste momento, quem tem dinheiro prefere esperar: — Ninguém tem pressa em pular na frente de um trem que parece desgovernado. Houve momento ontem que parecia mesmo confuso o mercado em vários países do mundo. Com altas e baixas aleatórias. É possível que hoje seja o movimento contrário. Mas os dados da evolução de todos os indicadores mostram que o mundo e o Brasil têm vivido altas muito fortes e que a queda de agora era óbvio que aconteceria. Nos últimos 12 meses, no mercado internacional de commodities , o cobre subiu 160%, o açúcar 90%, o petróleo 60%. De janeiro de 2003, começo do governo Lula, até dia 9 de maio, a bolsa subiu 261%; de lá para cá, caiu 14,7%. Neste mesmo período, o real subiu 41% e depois caiu 13,2%. O risco caiu de janeiro de 2003 até 1 de maio deste ano, 84%. Neste mês já subiu 31%. Ou seja, foram movimentos muito fortes que tinham mesmo que ser corrigidos. A melhor opção é ser só uma correção. Mas há vários desequilíbrios na economia mundial; e dúvidas internas, nos espreitando. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, maio 25, 2006
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