Panorama Econômico |
O Globo |
23/5/2006 |
A moeda brasileira se desvalorizou mais que as outras ontem, mas também foi a que mais subiu durante muito tempo. A segunda-feira foi ruim em todos os mercados, todos os países, todos os ativos. Hoje pode melhorar um pouco, mas a sacudida serve para lembrar que o tempo bom não dura para sempre. No mercado, a maioria acha que é só um episódio, e não o começo de uma crise. O ex-diretor do Banco Central Ilan Goldfajn acredita que não é apenas um episódio de queda pontual que vá desaparecer do horizonte; nem é o início de uma crise: — Mesmo que se reverta nesta terça-feira, o tempo está começando a mudar. É possível que o quadro negativo não se mantenha nos próximos dias, mas, ainda assim, ficará a sensação de que há muito mais desequilíbrios do que o mercado estava considerando — afirma. Há gente no mercado que acha que é coisa passageira, porque não há piora nos fundamentos mesmo. — É o efeito Bernanke — diz Roberto Padovani, da Tendências. Bernanke, o novo presidente do Fed, tem tido uma atuação meio hesitante, deixando o mercado inquieto. — São mudanças pequenas no mercado, mas, para quem opera a curto prazo, faz uma enorme diferença. Por isso o nervosismo — comenta Padovani. O mercado é de contágio. Isso aprendemos. O problema é que, depois de uma queda, podem vir movimentos técnicos que derrubem ainda mais os mercados. Na semana passada, o primeiro fundo que se especializou em Brasil, ainda em 88, e que, desde aquela época, sempre foi um formador de opinião no mercado, zerou sua posição. O Scudder, que era administrado pelo Schroders, simplesmente vendeu tudo o que tinha em carteira de Brasil. Isso ajudou a criar uma sensação de temor entre os investidores. Luís Fernando Lopes, do Banco Pátria, acha que o movimento faz com que muita gente olhe para os preços dos ativos com a sensação de que a valorização pode ter ido longe demais: — Qual é a valorização "justa" para os ativos? Não dá para saber. Mas várias commodities estão com preços no nível mais alto em 20 anos. O níquel e o cobre estão com o maior preço em 30 anos. Quanto mais cai o preço, mais o investidor pode querer zerar a posição e isso derruba mais. O Scudder tinha US$ 1,5 bilhão no Brasil. Pode não ser agora a hora de uma crise grave, mas o tremor provocou a dúvida: Esta equipe saberá lidar com uma crise econômica? — O movimento desta segunda-feira e da semana passada foi desordenado. O Brasil caiu tanto quanto a Turquia ou países do Leste da Europa que têm de 4% a 5% de déficit em transações correntes. E o Brasil tem superávit — avalia Luís Fernando Lopes. Ilan lembra que a economia americana tem um dado preocupante: — Há três ou quatro meses, o mercado imobiliário americano começou a piorar. Foi ele que sustentou a alta. As commodities estão altas, o mundo está crescendo, isso não acabou; só que nós já passamos o Cabo da Boa Esperança. Hoje o mercado deve abrir um pouco melhor. A Ásia ainda pode fechar ruim, no começo do nosso dia aqui, mas, ao longo desta terça-feira, os mercados vão se recuperar. Este era o sinal dado pelos futuros ontem à noite. Mesmo assim, ficará a sensação de que, se vier um grande tremor, o Brasil não saberá como lidar com a crise. A OAB esclarece que é contra apenas a revista manual. O presidente da Ordem, Roberto Busato, diz que: "O advogado não pode servir de instrumento ou de porta-voz de bandidos, mas também não pode ser tratado como marginal e nem responsabilizado pela crise na segurança pública, passando a sofrer constrangimentos inadmissíveis no Estado democrático de direito." Ninguém responsabilizou o advogado pela crise de segurança. O que a sociedade quer é rigor, rapidez e transparência nos processos disciplinares do órgão que tem esse poder. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, maio 23, 2006
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