O Globo |
24/5/2006 |
Enquanto o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares se sente tão protegido que teve a petulância de negar ontem, na CPI dos Bingos, até mesmo o uso de caixa dois pelo PT nas eleições de 2002, versão que ele mesmo havia criado, em parceria com o lobista Marcos Valério e com o apoio de declarações do próprio presidente Lula, as oposições brasileiras continuam tateando um caminho a trilhar. Estranhamente, o único grupo político que trabalha com a possibilidade de vencer Lula é a parte do PMDB que procura viabilizar a candidatura própria do partido. Os demais, inclusive o PSDB, demonstram ter uma estratégia apenas de manutenção de posições políticas, pensando a longo prazo. Há momentos na política em que o melhor que a oposição tem a fazer é manter-se organizada e atuante, mesmo que as chances de vitória sejam nulas, ou pelo menos mínimas, como parece ser o caso contra a reeleição de Lula. Essa, tudo indica, foi a estratégia dos tucanos, que optaram por um candidato mais fraco, o ex-governador Geraldo Alckmin, para proteger sua principal fortaleza, o Estado de São Paulo. Vencendo a disputa pelo governo paulista com José Serra, o PSDB terá garantido a posição de força que hoje ocupa no cenário político, e deixado o PT sem alternativa aparente para a disputa pelo poder central em 2010. O PFL já terá ganhado uma força política extra com a garantia de ter a Prefeitura de São Paulo pelos próximos três anos. Também a oposição "de esquerda", que se pretende diferente do que chamam de "oposição conservadora", se prepara para disputar as eleições com outras perspectivas. Admitem que a dupla PSDB/PFL tem a hegemonia do embate, o que se traduz em maior espaço nos meios de comunicação. Mas não se sentem representados pelo líder da minoria, cargo que é ocupado pelo PFL. Essa oposição à esquerda de Lula inclui não apenas o PSOL, mas também o PDT, o PPS, o PV. Forças políticas minoritárias que têm representantes de peso no Congresso, como os senadores Cristovam Buarque e Jefferson Peres, e o deputado Miro Teixeira, no PDT; os deputados Roberto Freire e Raul Jungman no PPS e o deputado Fernando Gabeira no PV, que se colocaram à frente da luta institucional pelo fim do voto secreto e pela instalação da CPMI dos "sanguessugas", batalhas em que nem o PSDB nem o PFL se empenham com afinco. Os interesses em jogo da "oposição conservadora" às vezes levam a acordos com o governo, tanto para aprovação de matérias como para evitar convocações constrangedoras em CPIs. A "oposição de esquerda" pretende se diferenciar para tentar aparecer como uma alternativa à dicotomia PT/PSDB, mas nenhum dos partidos tem condições de pensar seriamente na possibilidade de vitória sobre Lula. O PDT caminha para lançar o senador Cristovam Buarque como candidato à Presidência, e possivelmente o PPS lançará o deputado Roberto Freire, acreditando que ter um candidato próprio é o melhor caminho para superar as barreiras da nova legislação eleitoral. Já o PSOL, que tem na senadora Heloisa Helena a candidata alternativa com mais força eleitoral, começa a caminhada para se implantar em todo o país. Eles pretendem fazer uma campanha na base de "idéias e causas", tentar reaglutinar a esquerda em torno da nova sigla. A valorização da legenda, em tempos de coligações partidárias completamente desprovidas de lógica mesmo com a lei de verticalização, será uma característica do PSOL, fazendo prospectos com o nome de todos os candidatos proporcionais, despersonalizando assim a campanha. Também as contas da propaganda partidária serão apresentadas, em tempo real, pela internet, como uma denúncia contra as campanhas milionárias. Socialistas assumidos, usam até mesmo a inspiração de um slogan de Lênin, concebendo a campanha política como "agitação e propaganda", para trabalhar a massificação de "poucas idéias-força para muitos" e, um jogo semântico do filósofo Carlos Nelson Coutinho — contra a "americanalhização" da política brasileira — para, no plano partidário e da coligação, debater "muitas idéias com poucos", para forjar um núcleo dirigente qualificado. Mas é do PMDB que pode vir a novidade desta eleição, embora continue muito difícil superar as resistências da cúpula partidária à candidatura própria. Por razões distintas, os candidatos que surgiram até agora — Garotinho e Itamar Franco — tinham perfis que os colocavam em condições de disputar com o candidato do PSDB um lugar num eventual segundo turno. Agora, o senador Pedro Simon poderia até mesmo unir partidos de esquerda como o PDT e o PPS em torno de seu nome, surgindo como uma alternativa de centro-esquerda à polarização PT/PSDB. O senador Cristovam Buarque já declarou que apoiaria Simon se ele fosse candidato. Politicamente, porém, ter em sua chapa Garotinho como vice enfraquece seu discurso de moralidade, e pode afastar o eleitorado de classe média que o vê com bons olhos. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, maio 24, 2006
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