Folha de S. Paulo |
24/5/2006 |
Está mais que na hora de o governo montar estratégia rápida para disseminar o etanol pelo mundo O GOVERNO brasileiro, o setor sucroalcooleiro e os grandes fundos de investimento estão dormindo de touca. Está mais que na hora de o governo juntar todas as pontas, aproveitar os fóruns de discussão em torno da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) e do BNDES e montar uma estratégia rápida para disseminar o etanol pelo mundo. Basta lembrar que a política externa americana é movida por ondas sucessivas. Houve a época das "armas de destruição", do "eixo do mal", a da China. Agora, o tema da moda é o etanol, como substituto ou complemento do petróleo. Já existe etanol americano, mas em pequena quantidade, a partir do milho e a um custo proibitivo: o processo de produção consome 80% de seu valor energético. Por lá, consideram viável a mistura do etanol na gasolina em até 15%. Sequer sonhavam que o Brasil já tivesse chegado aos 24%, conforme constatou a comitiva que acompanhou o presidente da Câmara, Aldo Rebelo, em visita aos EUA. O irmão do presidente George W. Bush, Jeb Bush, governador da Flórida, está capitalizando politicamente iniciativas para abastecer os EUA de etanol e por causa disso quer influir na designação do novo embaixador dos EUA no Brasil, apontando especialista em etanol. O Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência (NAE) trabalha com um horizonte de 30 anos para a entrada comercial de combustíveis alternativos, como o hidrogênio. Na Cenpes (o centro de pesquisas da Petrobras), a avaliação é que esse prazo será de dez anos. O etanol tem nas grandes petrolíferas seus grandes aliados, por estender o tempo de vida útil do motor a combustão e a estrutura de refino e distribuição. Mas não se firmará se houver um monoprodutor, o Brasil. A expansão da produção para outros países -especialmente os da África e alguns da América do Sul- é passo imperioso na estratégia de transformar o etanol em commodity mundial. E o país tem tudo para comandar o processo. Os grandes fundos de investimento brasileiro abriram os olhos para o setor, mas não tiveram coragem de adquirir usinas, devido aos grandes passivos trabalhistas e possivelmente ambientais. Mas nada impede que, a partir de base brasileira, formem-se novas organizações, com capital e faro para negócios dos financistas, o know-how de produção dos usineiros, a capacidade de pesquisa da Embrapa e a experiência da indústria de base -mais o apoio do BNDES e do Itamaraty e a presença imprescindível da Petrobras. A hora é agora, antes que o capital externo entre e assuma a liderança do processo. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, maio 24, 2006
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