Se Lula bater o pé e insistir, o seu companheiro de chapa pode ser mesmo Ciro Gomes, hoje no PSB. Mas a engenharia para escolher um candidato a vice-presidente é muito mais complexa. Para começar, políticos vivem de poder e de expectativa de poder. Neste ano, a possibilidade de ascender politicamente está com os partidos que têm chance de ultrapassar a cláusula de desempenho -obter 5% dos votos para deputado federal em todo o país. O dispositivo foi aprovado há uma década e começa a valer agora. As agremiações que ficarem para trás estarão relegadas a um papel secundário. Terão dois minutos por semestre na televisão, menos de 1% do fundo partidário e ficarão sem direito a ter líderes no Congresso. O que adianta a um determinado partido ter a cadeira de vice-presidente da República se não ultrapassar a cláusula de desempenho? Esse é o dilema do PSB. Em 2002, a sigla só conseguiu os 5% necessários porque teve Anthony Garotinho como candidato a presidente da República. Ainda assim, bateu na trave, com apenas 5,3%. O Ceará não é uma potência política, mas tem 4,3% dos eleitores brasileiros. É o oitavo maior eleitorado entre as 27 unidades da Federação. Se for candidato a deputado federal pelo Ceará, como anunciou, Ciro Gomes ajudará o seu partido a cumprir a cláusula de desempenho. Como vice-presidente, sua contribuição seria menor. Nesse cenário intricado, é cada vez mais provável a vaga de vice-presidente acabar com quem já a tem -o empresário mineiro José Alencar. Ele está filiado ao PRB, um partido sem a menor chance de cumprir a cláusula de desempenho. Inofensivos, PRB e Alencar servem também para explicitar, uma vez mais, a inutilidade da função de vice-presidente. |