Folha de S. Paulo |
31/5/2006 |
A notícia de que a Varig vai a leilão no dia 5 causou uma sensação de desconforto. Talvez porque no dia 5 desembarco de um avião da Varig em Munique para me integrar à equipe da Folha que cobrirá a Copa do Mundo. Talvez porque é mais um símbolo que se apaga, mais uma marca das minhas memórias que se vai. Tudo bem que a Varig poderá até continuar existindo com esse nome, mas não será a mesma. Varig, pelo menos para a pequena fatia da minha geração que conseguiu ganhar asas e voar, era uma espécie de casa da gente no ar. No vôo mais recente (Frankfurt-São Paulo, dia 16), ao tocar o solo, o piloto não apenas anunciou a chegada como entoou um hino de amor à tripulação, que, de fato, tivera um desempenho extraordinário, mais ainda em se considerando as penosas circunstâncias em que trabalham. Os aviões podem estar com problemas, o material para o serviço já não é o mesmo, mas as tripulações resistem bravamente. Por falar em ganhar asas, devo-as, como já contei aqui, à escola pública, outra marca que sumiu como referência. Nós que a freqüentamos não tínhamos medo nenhum de competir com a "elite branca" malvada, segundo o governador Cláudio Lembo. Se nos tornamos iguais ou piores que ela depois, culpa nossa, não da escola. Sumiu também o Mappin, loja de referência obrigatória, onde minha mãe comprava o material para os adornos de noivas (buquês, grinaldas etc.) que produzia em casa para fazer o mês ficar só um pouco maior que o salário de meu pai. Admito que acompanhá-la compulsoriamente ao Mappin era um porre, mas ao menos dava a sensação de que, enquanto o Mappin existisse, existiria uma certa São Paulo, um certo aconchego. Hoje, ao contrário, partir é que dá aconchego. Pena. |