quarta-feira, maio 31, 2006

Celso Ming - Reforço da cautela





O Estado de S. Paulo
31/5/2006

Apesar da piora do ambiente externo, parece improvável que o Copom deixe hoje de cortar os juros em 0,5 ponto porcentual.

Quem conhece o conservadorismo do Banco Central poderia opinar que, desta vez, quando o mercado financeiro busca refúgios mais seguros para suas aplicações, talvez seja ainda mais conservador. Mas há razões para crer que o corte de meio ponto será mantido.

Em abril, o Copom passara o recado de que a flexibilização dos juros seria feita "com mais parcimônia". Depois disso, pelo menos três novos fatores passaram a empurrar o Banco Central, normalmente cauteloso, para reforço da cautela.

O primeiro deles é essa turbulência externa que os analistas preferem chamar de excessiva volatilidade. A crise, cuja evolução ninguém ousa prever, reflete crescentes incertezas sobre como se comportará a inflação dos Estados Unidos. O mercado mundial está pedindo mais firmeza do banco central americano, o Federal Reserve (Fed), no ataque à inflação americana. O que se discute hoje é se, na reunião de final de junho, o Fed adotará a tal pausa já anunciada na evolução dos juros americanos, que estão nos 5% ao ano, ou se vai prosseguir no aperto monetário, rumo aos 6% ao ano. De todo modo, já há indícios de que o ritmo da atividade produtiva americana começa a reduzir-se, o que tende a se estender ao resto do mundo.

A decisão do Banco Central do Brasil de voltar a oferecer títulos com correção cambial mostra duas coisas: (1) que a crise externa preocupa e (2) que o espaço para a queda dos juros de pelo menos meio ponto está preservado.

Outro fator que pesará nas decisões do Copom ainda vai ser revelado hoje pela manhã. Aumentam as apostas de que o avanço do PIB no primeiro trimestre deste ano foi maior do que o esperado. Se, em relação ao último trimestre de 2005, a atividade econômica do primeiro trimestre tiver ultrapassado 1,5% (ritmo que, uma vez anualizado, aponta para um avanço de mais de 6% ao ano), os membros do Copom tenderão a franzir as sobrancelhas, perguntando-se se o avanço do consumo sem crescimento equivalente da capacidade produtiva não desembocará em mais inflação.

Há um terceiro fator a entrar nas considerações: o provável impacto sobre os preços no atacado exercido pela mais recente desvalorização do real (alta dos produtos importados) conjugado com a alta das commodities metálicas. Por enquanto, não é elemento que coloque em risco a meta de inflação deste ano. Mas é, digamos, mais um pretexto para que o Banco Central justifique o já anunciado reforço na "parcimônia" na política de juros.

No outro prato da balança, o Banco Central conta com o comportamento exemplar dos preços internos. O mercado espera para este ano uma inflação abaixo da meta (4,1%, em vez dos 4,5%, como está no último relatório da Pesquisa Focus). E, quando a cabeça dos agentes econômicos converge com os resultados esperados pelo Banco Central, a execução da política de juros fica mais fácil.

A conferir.

Falha nossa
Na coluna de ontem ficou dito que o volume de 8,2 mil barris diários de biodiesel que a Petrobrás projeta produzir "é uma gota diante dos quase 230 milhões de barris diários de diesel consumidos no País". Na verdade, esses quase 230 milhões de barris correspondem ao consumo anual (e não diário) de diesel.