Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, maio 24, 2006

Bases para acordo




EDITORIAL
O Globo
24/5/2006

As fotos do encontro de segunda-feira em La Paz entre o chanceler Celso Amorim e o presidente Evo Morales passam o clima de uma conversa amigável. Entre sorrisos e cumprimentos, o ministro brasileiro e o presidente boliviano parecem selar a desobstrução dos canais de diálogo entre os dois países, após o curto-circuito diplomático causado pela "nacionalização" dos ativos da Petrobras.

Mas é cedo para otimismos. Noticia-se que na audiência com Morales o ministro registrou o desgosto brasileiro com a espalhafatosa ocupação militar das instalações da empresa estatal — uma pirotecnia demagógica do presidente da Bolívia destinada a angariar votos da massa desinformada para obter maioria na Constituinte a ser eleita em breve.

Fez bem o ministro. Assim como acertou ao credenciar a Petrobras representante dos seus próprios interesses nas negociações sobre o preço do gás e as condições da nacionalização; e também ao deixar claro que alguma indenização terá de ser paga. O credenciamento da Petrobras por Celso Amorim força o governo a garantir a retaguarda da empresa, dando-lhe apoio nos choques com os bolivianos. Que certamente ocorrerão se, por exemplo, autoridades do governo Morales continuarem a defender a capciosa tese de que os lucros obtidos pela Petrobras já ressarciram os investimentos feitos por ela no país.

As negociações precisam ser as mais técnicas possíveis, e cabe ao presidente Lula evitar interferências indevidas, inspiradas no ilusório projeto ideológico de uma América Latina fechada em si mesma, transformada numa trincheira contra os países desenvolvidos.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece continuar ainda muito influenciado por esse tipo de visão — mesmo depois da agressão boliviana aos interesses brasileiros representada pela ruptura unilateral de contratos.

Na semana passada, sintomaticamente, o presidente prometeu continuar a importar gás do país vizinho, "para ajudar aquele que é um povo muito pobre". A questão é outra. Essa prioridade deve ser do governo boliviano. Cabe a ele cumprir os contratos, pois caso contrário manterá seu povo na penúria. E ao Brasil resta negociar acordos que beneficiem os brasileiros. E assim os pobres dos dois lados da fronteira serão ajudados.

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