FOLHA
BELO HORIZONTE - Nem a aura inevitável de um Prêmio Nobel de Economia conseguiu vencer o formidável conservadorismo do governo Lula.
Reproduzo a história que me foi contada ontem por esse Nobel, Joseph Stiglitz, durante almoço oferecido pelo BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais) a três professores de economia de grosso calibre (além de Stiglitz, estavam Douglass North e John Williamson, o codificador do Consenso de Washington, o conjunto de receitas ditas neoliberais, que se tornou hegemônico).
No primeiro contato que teve com o ministro Antonio Palocci, logo no início do governo Lula, Stiglitz lhe sugeriu que evitasse fazer o que fizera Bill Clinton (do qual, aliás, Stiglitz foi chefe dos assessores econômicos). "Clinton se elegeu falando em "put the people first" (dar prioridade às pessoas), mas acabou investindo todas as suas energias em reduzir e até em eliminar o déficit fiscal", rememora o economista, hoje na Universidade Columbia, uma das mais lustrosas grifes acadêmicas do mundo.
O resultado, sempre segundo o relato de Stiglitz, foi "agradar a Wall Street, beneficiando, com redução de impostos, algumas das pessoas mais ricas, em vez de beneficiar os pobres". É claro que o economista toma Wall Street como sinônimo de mercado financeiro, na medida em que é a ruazinha de Nova York em que fica a Bolsa de Valores.
O conselho acabou sendo rigorosamente inútil, na medida em que a prioridade de Palocci e, por extensão, do governo Lula foi precisamente agradar as "Wall Streets" caboclas e estrangeiras, alimentando-as com juros que até Williamson acha exageradamente altos.
Aliás, o codificador do Consenso de Washington critica também o câmbio excessivamente valorizado, o que permite dizer que o governo Lula está à direita do Consenso que a esquerda sempre demonizou.
Ah, convém dizer que Stiglitz, embora notório crítico desse receituário, não é propriamente fã do PSOL. É parte do núcleo do establishment norte-americano.
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