EDITORIAL DA FOLHA
Esta semana ficará marcada na história do Judiciário brasileiro por ter concentrado dois eventos infelizes. Os presidentes do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça deixam suas carreiras para aderir à disputa política de outubro. As atitudes, tomadas por figuras que sempre deixaram dúvidas sobre a sua vocação de juízes, enfraquecem, pela irradiação de um exemplo ruim, a autonomia do Poder togado no momento em que seria imprescindível fortalecê-la.
Edson Vidigal exonerou-se do STJ para filiar-se ao PSB e concorrer ao governo do Estado do Maranhão. Nelson Jobim (STF) aposentou-se já com a intenção de filiar-se ao PMDB, pelo qual é cotado para disputar a sucessão do governador gaúcho.
Até os últimos dias em que chefiaram as mais importantes cortes federais, ambos não se furtaram a tomar decisões que influíram diretamente na luta partidária. O caso mais grave foi a liminar concedida por Vidigal que impediu a realização das prévias nacionais do PMDB sobre a candidatura à Presidência. A consulta havia sido deliberada por maioria na legenda, o que torna a ação do presidente do STJ uma grave intervenção na esfera de autonomia partidária.
Dias depois de beneficiar a minoria do PMDB alinhada com o governo Luiz Inácio Lula da Silva, Vidigal deixa o posto para candidatar-se por um partido da base governista. A candidatura de Vidigal provavelmente será usada como palanque regional da campanha à reeleição de Lula.
A nomeação para um posto de ministro do STF ou do STJ deveria ser honra bastante para que o agraciado abdicasse da política. Essa noção de respeito pelo Judiciário deveria também perpassar as indicações do presidente da República para essas cortes: pessoas notoriamente vinculadas à disputa partidária não deveriam ser encaminhadas à função.