FOLHA
SÃO PAULO - Começo reproduzindo o grito no deserto de Paulo Nogueira Batista Jr., na sua coluna de quinta: "Parece INACREDITÁVEL que o governo não só permita como estimule a valorização cambial, praticando juros estratosféricos e, desde a semana passada, isentando os investidores não-residentes no país do pagamento de Imposto de Renda sobre títulos públicos" (as maiúsculas do "inacreditável" são dele).
Em seguida, com a competência habitual, o economista descreve os males da valorização cambial.
No mesmíssimo dia, Raquel Landim, notável repórter do "Valor Econômico", punha números da economia real na aula teórica de Batista Jr. Informava que empresas brasileiras exportadoras, vitimadas pela valorização do real, estão "alugando" fábricas na China e até na Argentina para de lá exportar.
"Em dezembro, o primeiro lote de 60 mil pares de calçados com design e etiqueta da Azaléia saíram da China diretamente para os EUA. A empresa recorreu a esse esquema depois que suas exportações caíram 26% em 2005. A Calçados Pampili estuda proposta para operação semelhante na Argentina. A Hering está importando jaquetas e bermudas sintéticas da China para abastecer o mercado interno", informa a reportagem.
Comenta Paulo Santana, gerente de marketing da Azaléia. "Esses sapatos deveriam ser feitos no Brasil. Ampliar os negócios no exterior é maravilhoso. O problema é transferir produção por incapacidade de fabricar no país".
Completa Ulrich Kuhn, diretor-superintendente da Hering: "O Brasil está desmontando setores que são grande empregadores".
Você não precisa entender nada de economia. O simples sentido comum explica o "INACREDITÁVEL" empregado por Paulo Nogueira Batista Jr. Pior: já aconteceu antes (período 95/98), com trágicas conseqüências. Vê-se, pois, que o ministro Palocci mentiu ao dizer que só cometeria erros novos.