sábado, fevereiro 25, 2006

FERNANDO RODRIGUES Partidos de mentira

FOLHA
BRASÍLIA - O Brasil tem 29 partidos com registro definitivo no TSE. O número é grande apenas à primeira vista. Muitos não passam de pequenas oligarquias ou ações entre amigos. São fechados à renovação.
A recente foto do triunvirato tucano (FHC, Aécio Neves e Tasso Jereissati) jantando no Massimo, em São Paulo, é só mais uma síntese visual da inexistência orgânica de "bases partidárias", uma espécie de entidade mítica à qual os políticos dizem prestar contas.
O PT é a sigla com maior interesse em manter alguma conexão com movimentos sociais organizados. Mas mesmo os petistas têm de reconhecer: Lula foi quatro vezes candidato a presidente. O partido não existiria se não fosse a figura desse que é um dos mais carismáticos políticos das últimas décadas no país.
Neste ano de eleição presidencial, dos 29 partidos com registro definitivo no TSE, apenas dois são considerados reais pretendentes ao Palácio do Planalto -PT e PSDB. Os demais ficam de fora. Alguns por ainda não terem passado pelo necessário "aggiornamento" pós-queda do Muro de Berlim (PSOL e os ditos de esquerda e de ultra-esquerda). Outros por vocação atávica ao servilismo (PL, PTB, PP et caterva). Alguns por viverem em crise existencial eterna (o PMDB sendo a síntese dessa categoria).
É comum ouvir que a democracia representativa brasileira deve fugir do bipartidarismo em vigor nos EUA. OK. Mas lá, republicanos e democratas têm grandes disputas reais para escolher o candidato a presidente. Seria impensável a cúpula republicana entrar no Old Ebbitt Grill, almoçar, pedir uma "pecan tart" de sobremesa e nomear o seu representante na disputa pela Casa Branca.
No Brasil, essa ainda é a regra. Só a repetição do processo por algumas décadas reverterá esse divórcio entre partidos e eleitorado. Isto é, se o país tiver sorte e os eleitores de fato se esforçarem para perceber a anomalia.