O maior feito da política econômica petista no ano passado foi ter diminuído em mais da metade o ritmo de crescimento da economia brasileira. Pangloss, o incorrigível otimista criado pela imaginação literária de Voltaire, teria dificuldades diante dos números apresentados ontem pelo IBGE. No máximo, poderia dizer que os 2,3% que o PIB cresceu em 2005 não foram um resultado tão ruim quanto o obtido pelo Haiti. É um argumento.
Debite-se ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e à sua tecnocracia econômica todo o ônus desse desempenho sofrível. Deram à luz o filho dileto da política que estabeleceu parâmetros excessivamente ambiciosos para a meta de inflação; perseguiu-a cegamente e com mão de chumbo; perdeu a chance de fazer cair com rapidez a dívida pública; deixou que a moeda brasileira se valorizasse acima da média mundial; e manteve o setor privado exposto às maiores taxas de juros e a uma das mais asfixiantes cargas tributárias do planeta.
Os governistas agora se aferram à "explicação" de que a culpa de o Brasil ter desperdiçado uma das conjunturas mundiais mais favoráveis ao crescimento em décadas foi da crise política por que o país passou a partir de meados do ano passado. Pois debite-se a crise, uma das mais graves da história recente, ao governo Lula. Foi da sua base venal de sustentação e de seu partido que ela surgiu.
O Brasil cresceu em 2005 a um ritmo 50% inferior ao da média mundial; e quase dois terços menos do que as grandes economias emergentes. Praticando no essencial a mesma política que prevalece desde 1994, a gestão Lula vai convergindo com a de Fernando Henrique Cardoso também na mediocridade dos resultados econômicos. Sob o PT, o PIB cresce à média anual de 2,6%, contra os 2,3% registrados nos oito anos do PSDB, uma diferença desprezível.
No início do ano passado, emanou de um dos monótonos discursos presidenciais de Lula a seguinte profecia: "Não tem por que 2005 não ser o ano mais importante da década neste país". Na ocasião, previu que o PIB cresceria "5% ou mais". Entregou menos da metade.