sexta-feira, novembro 25, 2005
ELIANE CANTANHÊDE Em pé de guerra
FSP
BRASÍLIA - Enquanto pessoas, partidos e a oposição e o governo se estranham, tudo bem. Mas, quando os Poderes começam a se estranhar, não está nada bem. É o que ocorre agora, quando o Supremo Tribunal Federal contribui decisivamente para a estratégia do deputado e ex-ministro José Dirceu de protelar a sua cassação.
Tecnicamente, o Supremo não decidiu nada, porque o empate de cinco a cinco não garante a liminar pretendida por Dirceu para refazer parte do seu processo na Câmara. Enquanto o ministro Pertence não desempatar, a votação congressual pode ser, como previsto, na próxima quarta-feira.
Se Pertence desempatar a favor de Dirceu, não se sabe quando será a cassação -e se haverá cassação, porque o tempo conta a favor de Dirceu. Quanto mais passa, mais as denúncias perdem o calor, mais a Câmara se desmobiliza, mais Dirceu se articula, mais a opinião pública esquece.
Politicamente, os resultados das votações do Supremo em relação a Dirceu e ao senador João Capiberibe (PSB-AP) estão colocando o Congresso em pé de guerra. A crítica mais amena que deputados de diferentes partidos fazem é de ingerência de um Poder sobre o outro.
Para o loquaz deputado, advogado e promotor José Thomaz Nonô (PFL-AL), que acaba de concorrer à presidência da Câmara -e perder-, "o Supremo está abrindo a porta da impunidade". Na sua opinião, o tribunal "está tentando impor um tratamento de processo penal comum a procedimentos internos da Câmara , quando são duas coisas completamente diferentes".
A crise está criada. Aliás, nem há novidade nisso. Há a crise ética, a crise do PT, a crise oposição-governo, a crise do Palocci com a Dilma e, agora, essa do Congresso com o Supremo -cada vez mais acusado de se transformar num partido. Ou melhor: em dois, um do PT e do governo Lula, outro do PSDB e do governo FHC. A polarização política parece ter chegado ao Supremo. Incrível.
@ - elianec@uol.com.br