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GENEBRA - Por muita boa vontade que tento ter, é difícil, muito difícil, levar a sério o que diz o presidente da República.
Só na entrevista aos radialistas há três pérolas, uma de absoluto non sense, outra de embaçamento da realidade e, a terceira, de contradição insanável entre o que dizia Lula antes e o que diz agora. Desmoralizam a palavra presidencial pelo menos aos ouvidos de quem, desgraçadamente, tem memória.
Insistir em que "mensalão" é apenas tema de música, para começar, é mentir. Houve pagamento indevido a parlamentares, como está arquiprovado e até confessado. Se os pagamentos foram ou não mensais, não importa. O presidente da República não tem o direito de ser ligeiro e brincar com o crime.
Já comparar o ministro Antonio Palocci ao jogador Ronaldinho Gaúcho, do Barcelona, é non sense puro. Palocci tem, de fato, inúmeras qualidades, mas, entre elas, certamente não se inclui a criatividade, exatamente o que caracteriza o jogador do Barcelona (para não ser cruel e mencionar o fato de que Ronaldinho joga em um time infinitamente superior ao do presidente Lula).
Se Palocci é Ronaldinho, deveria ter sido a primeira escolha de Lula para coordenar o seu programa de governo em vez de Celso Daniel, certo?
Por falar em Celso Daniel, vem a contradição insanável. Disse Lula aos radialistas: "Tenho a convicção de que a morte do Celso Daniel foi um acidente e foi um crime comum. Não acredito em crime político em hipótese alguma".
No entanto, no dia do enterro de Daniel, Lula garantia que havia "gente graúda" envolvida. Aí, de duas uma: ou falou bobagem antes, sem base em qualquer informação séria, ou fala agora o que lhe parece conveniente, de novo sem qualquer informação que lhe permita desmentir tão categoricamente a certeza igualmente categórica de antes.