quarta-feira, setembro 28, 2005

EDITORIAL DE O GLOBO Gastamos mal




OBrasil gasta proporcionalmente em educação mais recursos públicos do que os países ricos e também supera nações como a Coréia do Sul, apontada como exemplo de transformação social a partir de investimentos maciços na área educacional. Mas, em artigo publicado no jornal "Valor", o economista Fábio Giambiagi, do Ipea, mostra que, embora os gastos governamentais do Brasil com educação correspondam a 5,4% do Produto Interno Bruto (PIB) e na Coréia a 4,3%, em cada cem brasileiros apenas 32 terminam o segundo grau enquanto 95 em cada cem coreanos atingem esse grau de escolaridade.

A questão não está no volume de recursos públicos destinados à educação. Por esse parâmetro, o Brasil poderia ter um sistema educacional mais eficaz que o de países ricos como Estados Unidos (onde os gastos do governo com educação não passam de 4,8% do PIB), Alemanha (4,3%), Japão (3,5%), Reino Unido (4,5%), Canadá (5,2%) e Austrália (4,6%). No entanto, o sistema educacional brasileiro peca pela qualidade porque os recursos públicos se perdem nas atividades meio por falta de clareza nos objetivos.

O resultado é que por dez anos o ensino público esteve em rota descendente de qualidade e somente em 2003 registrou-se uma pequena melhora, isso depois de algum tempo de funcionamento do Fundef (fundo criado para elevar os gastos por aluno no ensino fundamental) e de mecanismos como o Bolsa-Escola.

O ensino básico de fato está universalizado no país e espera-se que por esse caminho seja possível evitar que em futuro próximo o Brasil continue a apresentar indicadores alarmantes. O analfabetismo se reduziu a 15% da população adulta e em idade escolar. Porém, o chamado analfabetismo funcional — são classificados como tal aqueles que freqüentaram a escola mas têm dificuldades para ler, escrever ou interpretar um simples texto — pode representar 75% dos brasileiros com mais de 15 anos, segundo pesquisa divulgada recentemente pelo Ibope.

Do total de brasileiros na faixa etária de 25 a 34 anos, apenas 32% têm educação secundária; na Coréia do Sul esse índice é de 95% e no Chile de 61%. O futuro está sendo definido em torno desses números.