quarta-feira, setembro 28, 2005

EDITORIAL DE O GLOBO Chávez fracassa




Obarril de petróleo aumentou mais de quatro vezes nos últimos seis anos e a Venezuela, um dos maiores exportadores do mundo, ganhou bilhões de dólares acima do previsto nas projeções mais otimistas. Apesar disso, nunca houve tantos venezuelanos pobres — mais da metade da população — e em nenhum outro período da História a pobreza cresceu em ritmo tão acelerado. Como demonstram estudos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e do Instituto Nacional de Estatística (INE), do próprio país.

O coronel Hugo Chávez assumiu a Presidência em 1999 com o argumento de que a existência de miseráveis num país rico em petróleo era inadmissível e o compromisso de fazer uma revolução social, por ele apelidada de Revolução Bolivariana, para acabar com a pobreza em tempo recorde. Chávez, como se sabe, talvez concentre mais poderes do que qualquer dos seus predecessores, e o momento internacional dificilmente poderia ser mais favorável. O que deu errado?

Está claro que a Revolução Bolivariana, misto de assistencialismo, retórica populista e noções cediças de justiça social, longe de ser a solução para os males da Venezuela, é hoje o maior obstáculo à produção e distribuição de riqueza. O dinheiro extra que entra é malbaratado em programas de cunho propagandístico, que no máximo garantem aos necessitados a sobrevivência diária, da mão para a boca, mas não alteram suas condições de vida.

Chávez elegeu como guru Fidel Castro e como bússola o exemplo anacrônico de Cuba, não exatamente um modelo de prosperidade e democracia. Como se a vitória nas urnas fosse um cheque em branco, ele, falando sempre em nome do povo venezuelano, usa os poderes do Executivo para coagir o Judiciário, configurar o Legislativo à sua imagem e semelhança e intimidar a imprensa.

O resultado é um país que preserva as instituições como fachada, mas onde a vontade do presidente prevalece sobre a Constituição. Não por acaso a Venezuela de Chávez vive em crise, com as liberdades ameaçadas e o setor privado temeroso e inibido — mesmo com os preços do petróleo nas alturas. É um cenário radicalmente hostil aos investidores, que têm horror de imprevistos e, na economia global, são a garantia da produção contínua de riqueza.