FOLHA DE S PAULO
SÃO PAULO - Se, nas horas de crise, um país necessita de lideranças capazes de reduzir o tamanho delas e apontar caminhos, então o Brasil está à deriva. Pelo menos se olharmos para a linha de comando das instituições da República.
O presidente está perdido nas brumas, conversando com os fantasmas de seus antecessores, sem entender direito a conversa. Ou os fantasmas não disseram a Lula que as crises de seus tempos se deram em contextos completamente diferentes ou Lula não entendeu nada.
Para citar uma só diferença: antes, havia a tal de Guerra Fria, conflito ideológico com ramificações em todo o planeta. Hoje não. Há apenas uma guerra de gangues pelo poder e/ou pelo butim. Dessa diferença, nasce outra: os ataques a Getúlio e a Jango vinham, sempre, da oposição. Hoje não. Todos nasceram no regaço generoso da coalizão governista.
Passemos ao vice-presidente, que até parece um bom homem, mas perdeu seu samba de uma nota só na crise. Já não fala dos juros nem de nada.
Pulemos Severino Cavalcanti, que é o despautério eleito presidente da Câmara dos Deputados. Um primitivo, que, a cada vez que se ausenta da Câmara, preenche uma lacuna.
Resta Renan Calheiros, o presidente do Senado, que, comparativamente, é uma ilha de sensatez. Mas não dá para esquecer que foi um dos políticos que ajudou a vender ao país uma fraude chamada Fernando Collor de Mello (a propósito: êta paisinho ávido por comprar fraudes, hein?). Pior: sabia quem era Collor, ao contrário dos eleitores.
Ah, tem também o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que rejeita críticas do PT ao governo do PT, porque o PT tem "baixa credibilidade". Mas Bernardo também é do PT. Logo, tampouco tem credibilidade, por sua própria lógica.
Ainda assim, fica no cargo. Um fantasma a mais ou a menos não faz mesmo diferença.