FOLHA DE S PAULO
BRASÍLIA - Um defeito Severino Cavalcanti não tem: esconder as suas opiniões. Ao defender a punição diferenciada para os deputados mensalistas, ontem na Folha, o presidente da Câmara contribui para adiar a pizza do atual escândalo.
Formou-se em Brasília um movimento para evitar a degradação ainda maior da imagem do Congresso. Mais de 50 congressistas querem derrubar a visão severinista de mundo. Para o presidente da Câmara, tudo bem se um deputado pegou dinheiro sujo e para contas de campanha. Basta repreendê-lo. Se recebeu mensalmente, aí deve ser cassado.
Por essa lógica, todos se salvam. Seria uma catástrofe. Não só para a Câmara e para o Senado mas para a democracia. A sociedade poderia voltar-se contra o mais aberto dos Poderes, justamente aquele designado para representar os eleitores.
Com a contribuição de Severino para o debate, ontem as direções das CPIs tiveram uma das únicas decisões acertadas do ponto de vista de suas operações simultâneas: vão preparar um relatório preliminar conjunto sobre quem deve ser cassado. Terá muito mais peso. Ainda haverá chance de adormecer na gaveta do presidente da Câmara, mas estará reduzido o espaço para manobras de bastidores e operações abafa.
A lógica de atuação dos acusados agora é clara. Concentram-se na tentativa de livrar a cara de José Dirceu, o primeiro na fila depois de Roberto Jefferson para ir ao cadafalso.
Como se sabe, contra José Dirceu só pesam as acusações verbais de que teria sido um dos mentores do "mensalão". Seu principal detrator, Jefferson, teve a cassação requerida exatamente por não ter apresentado provas materiais contra Dirceu.
Ao defender a punição leve para a maioria, Severino provocou a reação que faltava. Ficou mais difícil salvar Dirceu. Se o ex-chefe da Casa Civil for degolado, a porteira se abre para uma limpeza maior.