O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu nos últimos dias reaproximar-se de suas bases sindicais e populares. Falando para trabalhadores, reviveu seus dias de líder operário e requentou a teoria de que estaria sendo vítima de uma conspiração das "elites brasileiras".
Reagindo a ataques da oposição e à crescente desenvoltura das conversas acerca das perspectivas de um processo de impeachment, Lula partiu para a defesa agressiva de seu tradicional território político, enfatizando suas origens de "filho de pai e mãe analfabetos" que "conquistou o direito de andar de cabeça erguida".
O acirramento da retórica populista ocorre no momento em que pesquisas evidenciam o peso dos setores de menor renda e escolaridade na preservação da boa imagem do governo e do presidente. É na defesa desse patrimônio que o primeiro mandatário investe, ao mesmo tempo em que procura demonstrar força e dissuadir seus adversários de colocá-lo contra a parede.
Até aqui, embora seja difícil acreditar que Lula poderia ter se mantido inteiramente alheio às falcatruas da "oligarquia" do PT, nada autoriza a considerá-lo diretamente envolvido nas tramas urdidas pela cúpula de seu partido em associação com o publicitário Marcos Valério -ao que tudo indica sob o guarda-chuva político do ex-ministro José Dirceu.
É natural que o presidente se empenhe em reforçar sua própria blindagem política. Mas salta aos olhos a desorientação com que o faz, ora proclamando a necessidade de tudo apurar, ora dizendo-se vítima de uma tentativa de golpe. A insistência na tese conspiratória, além de soar como um disparate diante da composição e das políticas implementadas pelo governo, só contribui para alimentar apreensões sobre um processo de radicalização que em nada contribuiria para superar a crise e fortalecer as instituições.
Não há nada melhor para defender o presidente do que a apuração dos fatos, com a demonstração cabal de que nada há que o possa incriminar.
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