Já houve quem comparasse a performance do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à frente do governo federal com a de um animador de auditório. Avesso a entrevistas e pronunciamentos formais, o primeiro mandatário sente-se à vontade no palanque, o palco em que sempre atuou com notável intuição política em sua trajetória de líder sindical a presidente da República.
Eleito para o cargo mais importante da nação, Lula permaneceu literal ou simbolicamente a discursar sobre palanques. Compraz-se com seus incontíveis "improvisos", sua retórica popularesca e suas não raro mirabolantes e infelizes metáforas.
Vendo seu governo e seu partido frontalmente atingidos pelo escândalo do "mensalão", o presidente parece pessoalmente abalado e tem emitido seguidos sinais de desorientação. Atira para todos os lados. Depois de tentar barrar a CPI, prometeu apoiar as investigações e não deixar "pedra sobre pedra". Negociou ministérios com o PMDB e o deputado Severino Cavalcanti e afirmou que ainda estava para nascer alguém mais ético do que ele. Declarou que o PT faz o que "todos fazem" e buscou apoio no sindicalismo cooptado pelo poder para resistir às "elites" que tentariam desestabilizá-lo.
Agora, Lula decidiu investir numa nova linha, em sintonia com aquelas mesmas elites. Afirmou anteontem no Rio Grande do Sul que a economia do Brasil ainda é ""muito vulnerável" e que "não podemos brincar nessa parte, para que a gente não tenha um retrocesso".
Mesmo para os que conhecem os desequilíbrios e problemas da economia brasileira, a declaração pareceu temperada por uma dose de exagero -mais ainda tratando-se de quem havia pouco via o país pronto para iniciar um longo período de "crescimento sustentado".
Sem dúvida que os acontecimentos em curso em maior ou menor grau afetam a economia e alimentam incertezas -embora a vulnerabilidade externa tenha, na realidade, diminuído nos últimos anos. Mas, ao que tudo indica, a investida presidencial voltou-se antes para uma tentativa de buscar saídas para a crise do que para questões propriamente econômicas.
Com as instituições políticas enfraquecidas e na ausência de uma força que se destaque pela credibilidade e capacidade de liderança, a tábua de salvação do momento parece ser o que se poderia chamar de "partido da economia" -aquele no qual, sob o manto da gestão técnica, disputas político-partidárias se dissolvem em nome de um interesse maior.
A declaração do presidente Lula pode parecer desastrada, mas veio justamente na hora em que lideranças empresariais e políticas discutem com representantes do Planalto a articulação de um "pacto" com o intuito de superar a paralisia e evitar a contaminação dos mercados pelo processo político.
É desejável que o país encontre, com a necessária maturidade, um caminho para atravessar o cenário atual e estancar os riscos de uma deterioração mais grave do quadro econômico. Em seu pragmatismo, age corretamente o meio empresarial ao tentar preservar os avanços que mal ou bem foram conquistados na economia e manter as condições mínimas de confiança para a realização de investimentos.
Todavia a busca de tal pacto, que sugere uma mudança na dinâmica da crise, não pode servir para reduzir o alcance das apurações e mitigar a punição dos envolvidos.
É preciso que também a política restaure a sua própria credibilidade diante da opinião pública, o que não será possível por meio de conchavos e tergiversações.
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