quarta-feira, julho 27, 2005

CLÓVIS ROSSI Os limites do pacto

Folha de S Paulo
 SÃO PAULO - Pelas informações disponíveis, a proposta de maior prestígio entre os governistas para gerenciar a crise é a do senador Jefferson Peres (PDT-PA), a do pacto de governabilidade ou "chilenização", como o próprio senador a chamou em artigo para esta Folha.
Nada contra, desde que se tire dela qualquer comparação com o Chile. Primeiro, porque no Chile não houve pacto nenhum na saída da ditadura. Houve a adequação da oposição às circunstâncias. É bom lembrar que o general Augusto Pinochet deixou a Presidência mas ficou como comandante do Exército, que tinha forte peso político, e que havia senadores biônicos nomeados pela ditadura, o que travava reformas.
Tais condicionamentos impediram, por exemplo, que o candidato oposicionista à sucessão de Pinochet fosse Ricardo Lagos, que, na época, explicou-me que não cabia no esquema a hipótese de um socialista como ele ser o sucessor direto de Pinochet.
No Brasil não há tais condicionamentos. A menos que a oposição pretenda impor a renúncia de Lula à recandidatura, o que seria absurdo e antidemocrático.
Há mais: no Chile, qualquer pacto político pode ser eventualmente firmado em uma pequena mesa de cinco lugares (para os líderes das duas tendências da direita, da DC, dos socialistas e dos comunistas). Será representativo não só do mundo político mas de uma razoável parcela do eleitorado, porque todos os partidos têm de fato raízes sociais.
No Brasil, só um pacto entre os peemedebistas demandaria um ginásio de esportes inteiro e o batalhão de choque da PM. Se houvesse acordo e se ele fosse estendido aos demais partidos, ainda assim a maioria deles falaria apenas por seus próprios líderes e ninguém mais.
Tudo somado, combinemos o seguinte: pacto de governabilidade, tudo bem. Mas é apenas uma ponte até outubro de 2006, não a mágica para o desenvolvimento sustentável, como se sonha ao falar em Chile.

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