O PIB deu o sinal claro: a economia está esfriando. Há dois trimestres, o investimento cai. Agora o consumo das famílias caiu também, depois de seis trimestres em alta. Isso deve levar o Banco Central a interromper a alta de juros. A política econômica pode estar, segundo José Júlio Senna, numa armadilha. Os juros altíssimos não derrubaram a inflação e estão derrubando o investimento.
A última vez em que o consumo das famílias caiu foi no segundo trimestre de 2003, coincidentemente após um longo período de alta da Selic, que levou os juros a 26,5%. A partir do terceiro trimestre de 2003, (veja gráfico) o consumo aumentou em todos os trimestres.
— Foi o que mais me preocupou — disse o economista Luiz Roberto Cunha.
Roberto Padovani, da Tendências, ficou surpreso com a queda do investimento e acha que isso é que vai ser determinante:
— Se o investimento não se recuperar, o crescimento do ano pode ficar em 2,5%. O cenário otimista, no qual a Tendências acredita, é que ele fique em 3,5%, mas, claro, se houver retomada do investimento.
O que determina a interrupção do investimento? É o ambiente regulatório ainda muito incerto, a crise política ou a renda e o crédito? Padovani diz que tende a acreditar no impacto maior da renda e do crédito:
— Se o consumo se recuperar, pode puxar o investimento e aí acontece o cenário otimista de 3,5%. Acho que 4%, a esta altura, não dá mais.
Nas próximas semanas, o Boletim Focus do Banco Central, que capta as previsões do mercado, deve trazer queda na expectativa de crescimento. Hoje, a média das previsões está em 3,5%, mas deve cair.
Nilson Teixeira, economista-chefe do CSFB, havia divulgado no boletim diário do banco a previsão de 0,3% para o crescimento do PIB no primeiro trimestre, com queda do investimento. Exatamente o que acabou se confirmando. Apesar disso, ele continua apostando num crescimento do PIB no ano de 3,4%:
— O número não nos surpreendeu. Nós achamos que o investimento pode ter um crescimento expressivo no segundo trimestre e isso por razão metodológica — afirma.
Segundo ele, o índice da construção civil não residencial é muito impactado por aços longos. No último trimestre do ano passado, houve formação de estoques de aços pelo medo de elevação de preços.
— Isto trouxe, no primeiro trimestre, uma queda forte nos aços longos. Uma recuperação desse produto elevará o resultado da construção civil — avalia Nilson.
Outros economistas temem exatamente a queda maior do nível de atividade no segundo trimestre, porque acham que só então o país estará sentindo mais fortemente o efeito da política monetária apertada.
José Júlio Senna, da MCM Consultores, também diz que não se surpreendeu, mas aposta num crescimento no ano de, no máximo, 3%. Ele acredita que há uma grande chance de ser abaixo de 3% o crescimento de 2005:
— O número do primeiro trimestre foi muito fraquinho. Dá, anualizado, algo em torno de 1,2%. E pior é que a ficha ainda não caiu dentro do governo.
Senna acha que o país está prisioneiro de uma armadilha: elevou os juros para adequar a demanda à oferta e abrir o que os economistas chamam de "hiato de produto", para derrubar a inflação. Contudo, não se criou esse espaço, a oferta está no limite da capacidade, o investimento está em queda, e a inflação subiu.
— Em maio do ano passado, a inflação estava em 5,2% em 12 meses e agora está em 8% — destaca Senna.
Olhando por dentro, o número de ontem é ainda pior do que parece. O PIB da Indústria caiu 1%, apesar de a exportação ter crescido 3,5%. É hora de o governo recolher todos aqueles auto-elogios com que sempre se brinda e analisar o panorama com objetividade.
A FUNÇÃO de um procurador-geral da República, quando entra no Supremo contra alguma lei, é levantar dúvidas jurídicas ou defender convicções religiosas?
o globo
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